Lula é levado pela Polícia Federal para depor na 24ª fase da
Lava Jato.
Nova fase da operação foca ex-presidente, além de Marisa
Letícia, sua esposa, filhos e amigos do ex-presidente da República.
Um dia depois de o governo Dilma Rousseff ter sido atingido pela
delação premiada do senador Delcídio do Amaral, a Polícia Federal fechou o
cerco contra o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
O petista é alvo de um mandado de condução coercitiva expedido
pelo juiz federal Sérgio Moro na 24 ª fase da Operação Lava Jato, deflagrada na
manhã desta sexta-feira.
Lula é investigado por suspeita de ter recebido vantagens
indevidas durante o mandato. Na 24ª fase da Lava Jato, batizada de Aletheia, as
suspeitas são de que o sítio Santa Bárbara, utilizado pelo ex-presidente e
pelos familiares em Atibaia (SP), tenha sido comprado e reformado com dinheiro
de empreiteiras envolvidas no cartel da Petrobras.
O petista foi levado pouco depois das 7 horas da manhã no cumprimento
do mandado
de condução coercitiva. Por questões de segurança, o local do
depoimento de Lula não será confirmado por ora.
A nova fase da operação mostra que a Polícia Federal não se
intimidou com a ameaça feita pelo governo Dilma ao trocar o comando do
Ministério da Justiça. Wellington César assumiu o cargo nesta quinta-feira no
lugar de José Eduardo Cardozo, que reclamava de tentativas de interferência de
setores do PT para que barrasse as investigações da força-tarefa da Lava Jato,
que se aproximavam perigosamente do ex-presidente.
Quando Lula deixou o governo, em 2011, seus pertences e de seus
familiares foram levados para o sítio de Atibaia, como mostram documentos e um
testemunho obtidos por VEJA.
Arquivadas na Presidência da República, as ordens de serviço e
notas fiscais de uma das transportadoras pagas pelo governo para fazer o
trabalho mostram que a mudança de Lula foi levada de Brasília para ao menos
três endereços em São Paulo: o apartamento do ex-presidente em São Bernardo do
Campo, um depósito na capital paulista e o sítio em Atibaia.
Nesta 24ª fase da Operação Lava Jato, há mandado de condução
coercitiva também contra o atual presidente do Instituto Lula, Paulo Okamotto.
Não há mandado de condução coercitiva contra a ex-primeira-dama Marisa Letícia.
Os pedidos do Ministério Público para deflagrar a fase ostensiva da 24ª fase
foram feitos nos dias 20 e 22 de fevereiro.
A PF cumpre ao todo 44 ordens de Sérgio Moro: onze conduções
coercitivas e 33 mandados de busca e apreensão em endereços relacionados ao
petista, como o próprio Instituto Lula e imóveis em São Bernardo do Campo,
cidade onde mora o ex-presidente, Atibaia e Guarujá (SP), onde o petista e a
mulher tiveram um tríplex reformado pela OAS.
A PF informou que investiga crimes de corrupção e lavagem de
dinheiro no âmbito da Lava Jato. Também há mandados judiciais em Salvador, Rio
de Janeiro, além de Diadema, Santo André e Manduri, todas em São Paulo.
Ao longo da semana, para tentar conter a sangria em sua imagem
política, Lula recorreu ao Tribunal de Justiça de São Paulo e obteve um habeas
corpus para evitar que fosse levado contra vontade a depor no inquérito que o
Ministério Público de São Paulo abriu para apurar a transferência de
empreendimentos da cooperativa Bancoop para a OAS, entre eles o tríplex
reformado ao gosto de Marisa Letícia.
O promotor responsável pelo caso, Cássio Conserino, disse que já
tem elementos para denunciá-los por ocultação de patrimônio, conforme revelou
VEJA.
Em Curitiba (PR), sede da Lava Jato, o foco são suspeitas de
vantagens indevidas de empreiteiras ao petista. No Judiciário, o ex-presidente
tenta falsamente associar as investigações ao que considera um
"achincalhamento público" de sua imagem, embora os procuradores da
força-tarefa da Lava Jato tenham recolhido indícios suficientes contra ele.
No final de janeiro, a 22ª etapa da operação, batizada de Triplo
X, já havia atingido o petista. Na época, o Ministério Público Federal anunciou
uma varredura em todos os apartamentos do condomínio Solaris, em Guarujá, onde
a enrolada empreiteira OAS, investigada por participar do petrolão, assumiu a
construção dos imóveis por causa das fraudes na Bancoop, que é ligada ao PT.
A cooperativa deu calote em seus associados enquanto desviava
recursos para os cofres do PT, quebrou em 2006 e deixou quase 3 000 famílias
sem seus imóveis, enquanto petistas graúdos, como o ex-presidente Lula,
receberam seus apartamentos.
Embora oficialmente a fase estivesse focada nas atividades
criminosas do escritório de São Paulo da empresa Mossack Fonseca, que
providenciava a abertura de offshores e tinha contas no exterior para esquemas
de lavagem de dinheiro, a relação do ex-presidente Lula e de seus familiares
com um tríplex reservado a eles pela construtora OAS também era investigada pela
Polícia Federal e pelos procuradores da Lava Jato.
Revista VEJA
online. Por: Rodrigo Rangel, Laryssa Borges e Felipe Frazão.
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