Dólar dispara 4,8% e alcança R$ 3,36; Bovespa passa a cair.
Sem atuação do BC, investidores buscam proteção contra
valorização da divisa.
RIO - Um dia após a vitória do republicano Donald Trump na
eleição americana, os investidores vão às compras no mercado de câmbio, em
busca de proteção, e levam a cotação da moeda america a R$ 3,36, alta de 4,8%.
Na máxima, a cotação chegou a R$ 3,391.
A Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa), que subiu pela manhã
e se aproximou dos 64 mil pontos, passou a cair devido à disparada do dólar. O
Ibovespa, principal índice do mercado brasileiro, marca 61.716 pontos, com
declínio de 2,44%, na contramão do mercado americano.
Em alta, do Dow Jones tem o maior patamar de sua história,
puxado por bancos e farmacêuticas, com investidores apostando que Trump vai
baixar impostos, flexibilizar regulações e abrir o caixa do Tesouro para
impulsionar o crescimento econômico.
O Dow Jones ganha 0,9% e o S&P, 0,44%, “É um rally devido ao
alívio relativo às incertezas em relação ao resultado as eleições e após o tom
conciliatório adotado por Trump”, diz Nick Skiming, gestões de fundos da
Ashburton, em Jersey, que administra US$ 10 bilhões. Trump prometeu investir
mais de US$ 500 bilhões em infraestrutura nos próximos cinco anos.
No Brasil, a alta do dólar no Brasil se dá “com algum atraso” em
relação a outros países, onde a oscilação foi mais forte ontem, diz Jaime
Ferreira, superintendente de câmbio da corretora Intercam, lembrando que ontem
a divisa subiu apenas 1,38% no mercado brasileiro, enquanto avançava 13% sobre
o peso mexicano.
Além disso, a ausência do Banco Central no mercado abre espaço
para preocupações dos investidores com a trajetória do câmbio até o fim do ano,
quando as empresas fecham seus balanços. Pesavam ainda fluxos de saída de
dólares e preocupações sobre o futuro político do presidente Michel Temer.
— Os estrangeiros estão comprando dólares e zerando as posições
em dólares, com receio de uma ainda maior da moeda. Até ontem, havia uma
posição vendida em US$ 27,2 bilhões — analisa Ferreira. — Há uma preocupação
com eventual disparada da moeda.
Então, os investidores começam a procurar por hedge (proteção
cambial) para os balanços de fim de ano e para o caso de o BC não fazer mais
ofertas de swap, permitindo que o dólar fique muito caro.
O Banco Central suspendeu suas intervenções por meio de leilões
de swaps reversos (equivalentes à compra futura de dólares), com objetivo de
“acompanhar e avaliar as atuais condições de mercado” após a inesperada vitória
de Trump.
Segundo dados do BC, há US$ 6,491 bilhões de dólares em
contratos de swap tradicional (equivalentes à venda futura de dólares) que
vencem em 1º de dezembro e que, se o BC mantivesse o movimento até então,
poderiam ser anulados se os leilões de reversos fossem mantidos neste mês.
Em outubro, o BC anunciou que não anularia integralmente os
contratos que venceram em 1º de novembro, o que também gerou pressão altista
sobre a moeda.
Ao se posicionar fora do mercado, o BC procura mostrar
transparência e que permite o câmbio livre.
— Está observando e entra se há necessidade de liquidez, se acha
que o movimento está exagerado e especulativo — acredita Ferreira. — É uma
atuação técnica, observando as necessidades do mercado.
Para Álvaro Bandeira, economista-chefe do Home Broker Modalmais,
os investidores estão levando recursos para o exterior devido à alta dos notes
(títulos de dívida do Tesouro americano) de dez anos, cuja taxa subiu para
2,08%.
— Isso altera direção dos fluxos no mercado internacional —
aponta. — Vale lembra que a postura expansionista de Trump pode exigir no médio
e longo prazo políticas mais duras do BC americano para domar pressões
inflacionárias, o que acaba mexendo com o câmbio.
Além disso, pode inibir fluxo para emergentes, principalmente os
ainda desequilibrados, como o Brasil.
Contribuía também para a disparada do dólar a notícia de que a
defesa da ex-presidente Dilma Rousseff entregou ao Tribunal Superior Eleitoral
(TSE) documentos que apontam que uma doação de R$ 1 milhão feita à campanha
eleitoral de 2014 pela empreiteira Andrade Gutierrez foi direcionada à campanha
do então vice-presidente Michel Temer.
No mercado internacional, o dólar também avança, mas com menor
intensidade — o Dollar Index Spot, que compara a divisa com dez outras moedas
globais, ganha 0,51%.
MERCADO DE AÇÕES EM QUEDA
A disparada do dólar azedou os humores no mercado de ações, e o
setor bancário puxa o Ibovespa para baixo. Em dia de divulgação de resultados,
Banco do Brasil perde 2%, Itaú, 1,5% e Bradesco, 4%. A aérea Gol, que tem
custos em dólar, recua 10%.
Com o avanço de 4,42% do minério de ferro no porto de Qingdao,
na China, a mineradora Vale tem alta de 8% nos papéis ON (ordinários, com
direito a voto) e de 8,7% nos PN (preferenciais, sem direito a voto), seguindo
a alta de 4% do setor na Europa.
A commodity acumula valorização de 14% nos últimos cinco dias.
Ainda no setor, Gerdau ganha 7% e Gerdau Metalúrgica (controladora do grupo),
6,6%. Usiminas PN sobe 6,77%.
O setor de papel e celulose tem ganhos com a recuperação do
dólar. Fibria avança 9,5%, Suzano, 10,36%, e Klabin, 7,39%.
Petrobras tem alta de 1,2%, a R$ 18,48, no papel ON, e recuo de
0,12%, a R$ 16,63 no PN.
Na Europa, os mercados têm direções diversas. Em Londres, o FTSE
100 cai 0,43%. Em Frankfurt, o Dax sobe 0,44%. Em Paris, o CAC 40 tem alta de
0,51%.
MERCADO ASIÁTICOS
Os mercados da China atingiram nova máxima de dez meses nesta
quinta-feira, acompanhando uma surpreendente reviravolta nos mercados globais
após o choque da vitória de Trump.
O índice CSI300, que reúne as maiores companhias listadas em
Xangai e Shenzhen, subiu 1,12% e o índice de Xangai teve alta de 1,36%, para
3.171 pontos, a máxima desde 8 de janeiro. O restante da região também
apresentou alta, com o índice MSCI, que reúne ações da região Ásia-Pacífico com
exceção do Japão, em alta de 1,81% às 7h46, depois de cair 2,4% na
quarta-feira.
O índice Nikkei do Japão teve alta ainda mais forte, saltando
6,72%, após queda de 5% na véspera. Em Hong Kong, o índice Hang Seng subiu
1,89%; Seul teve valorização de 2,26%; Taiwan registrou alta de 2,34%;
Cingapura valorizou-se 1,58%; e Sydney avançou 3,34%.
POR JULIANA
GARÇON, COM REUTERS
Jornal O
GLOBO online.
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