Como fazer o dinheiro durar enquanto estiver desempregado.
É
preciso se concentrar em readequar as despesas para que o valor recebido com a
rescisão e o FGTS durem, pelo menos, até o novo emprego.
O desemprego atingiu nível recorde,
de 12,1 milhões em novembro, segundo divulgou o IBGE nesta quinta-feira – e a
recuperação ainda deve demorar a vir.
O presidente Michel Temer disse hoje
que acha muito provável que o desemprego venha a cair apenas no segundo
semestre de 2017. Diante dessa perspectiva, especialistas apontam caminhos para
fazer o dinheiro durar por mais tempo sem comprometer o bem-estar da família,
mesmo que os gastos e a situação financeira sejam muito diferentes de
pessoa para pessoa:
Reavaliar a situação
A
primeira medida a ser tomada ao ser demitido é expor a situação para a família,
de modo que todos saibam da nova realidade e se adaptem a ela.”Não adianta
estar remando para um lado e a família estar remando para outro.
O
pai estar economizando, e o filho, gastando.”, diz o planejador
financeiro Valter Police Junior. Dividir o problema também permite que todos
apoiem uns aos outros, um auxílio emocional importante em momento que costuma
ser de grande dificuldade. “Já conheci pessoas que tinham sido demitidas e não
contavam isso em casa por vergonha”, diz José
Vignoli, educador financeiro do SPC Brasil.
Outro tipo de análise necessária logo
num primeiro momento é a do padrão de consumo em que se encontra. Com o crédito
fácil, a economia em expansão e a empregabilidade alta vista nos últimos
anos, muitas pessoas decidiram subir de patamar – como comprar uma casa melhor,
frequentar lugares mais caros, comprar mais itens supérfluos.
Esse tipo de mudança é normal em
momentos de bonança, mas é possível que o padrão não seja mais sustentável na
condição atual.
Nessa hora, vale ter humildade para
voltar aos padrões antigos e deixar de lado a preocupação com que os outros vão
pensar. “Sem poupar e com crédito, muita gente acaba tentando preservar
um status pagando juros. Isso é uma receita complicada”, exemplifica
Vignoli.
Adequar o orçamento
A tarefa básica para ter um
planejamento familiar que permita atravessar desemprego com tranquilidade é ter
um controle de receitas e despesas. É preciso se concentrar em readequar as
despesas para que o valor recebido com a rescisão e o FGTS durem, pelo menos,
até conseguir estar empregado de novo.
Essa estimativa varia de acordo com
diversos fatores, como profissão, cargo, e região, por exemplo, e uma dica é
analisar a situação de pessoas com perfil semelhante ao seu.
O cálculo não precisa ser exato, mas
é necessário fazer ao menos uma estimativa. “Não dá pra saber o quanto vai
demorar para se recolocar, mas dá pra saber o quanto que se tem para gastar”,
explica Flávio Calefi, economista da Boa Vista SCPC.
Decidir qual gasto é importante
manter e qual pode ser cortado é uma escolha que depende do valor que eles
agregam, ou seja, o quanto de felicidade cada item traz. Um caminho para
organizar prioridades é dividir as despesas em três grupos: as que não podem
ser cortadas, as que podem ser reduzidas e as que podem ser excluídas.
No
primeiro, estão os itens essenciais nos quais não é possível ficar sem,
como moradia, plano de saúde e educação. Embora sejam itens que vão permanecer
no orçamento mesmo se estando desempregado, é o tipo de gasto sujeito à
reavaliação do estilo de vida.
Se
não dá pra ficar sem pagar o aluguel, é preciso saber se o padrão de casa atual
condiz com a situação financeira. “É preciso perguntar: será que eu não aluguei
um apartamento que estava além das minhas possibilidades? “, diz Vignoli.
No segundo grupo, itens cujo consumo
que não serão cortados, mas cujo gasto pode diminuir. Entre eles estão despesas
não costuma ser controladas em tempos de bonança, como água e luz, e
aquelas cujo gasto pode ser otimizado, como planos de celular e bancos.
“Existe um pacote gratuito
de serviços mínimos que os bancos devem oferecer para quem tem conta corrente”,
explica Diógenes Donizete, coordenador do Procon-SP.
As despesas do terceiro grupo são as
que agregam pouco valor e podem ser dispensadas, como um plano de academia de
ginástica em que as faltas são constantes, a assinatura de um jornal que
ninguém na casa leia, ou um pacote de TV à cabo se o aparelho raramente é
ligado. “A pergunta que deve ser feita é: ‘eu uso, mas dá para ficar sem?'”,
diz Police Junior.
Buscar receitas
A busca por um novo emprego deve
começar logo após a saída do anterior, com a distribuição de currículos e a retomada
de contatos profissionais. Mas enquanto ele não vem – e depois de reajustadas
as contas da família – é importante buscar novas fontes de receitas
temporárias.
Entre as possibilidades estão
atividades que podem ser feitas de forma autônoma, como dar aulas de reforço,
prestar consultorias e vender salgadinhos.
Uma ajuda para pensar é olhar as
profissões que podem ser classificadas como Microempreendedor Individual,
modalidade voltada para quem deseja ter um negócio que fature até
60.000 reais por ano. “É possível fazer alguma renda extra sem se complicar com
impostos”, aponta Lucas Madaleno, da LM Finanças Pessoais.
A recomendação é se concentrar em
habilidades que a pessoa já domina e evitar negócios com os quais não se tenha
nenhuma familiaridade, mas tentar alguma coisa. “A regra básica é: queime sola
de sapato. Não adianta ficar esperando o telefone tocar, que ele não vai”,
alerta Vignoli.
O que não fazer
Recorrer a crédito para não precisar
vender algo não é recomendável por causa do risco e do alto custo financeiro
para empréstimos atualmente. “Se você tentar manter um patrimônio e não der
certo, pode ser que tenha que vendê-lo mesmo assim mais adiante. E na urgência,
vende-se a preço de banana”, explica Police Junior.
Vender patrimônio deve ser um
recurso utilizado somente quando as reservas estiverem no fim – o objetivo do
planejamento financeiro é justamente adiar ao máximo essa situação.
Caso seja realmente necessário, o
mais indicado é se desfazer primeiro de reservas de maior liquidez – ou seja,
aquelas que podem ser convertidas em dinheiro mais facilmente – como poupança,
fundos DI e CDBs. Em último da lista está mexer em um plano de previdência
privado – além de comprometer uma reserva importante para o futuro, os
descontos e impostos pagos por sacar esse dinheiro antes do prazo são muito
altos.
Outra alternativa ruim é usar o
dinheiro para antecipar o pagamento de dívidas para economizar com juros. A
exceção são as dívidas que tem juros altos, como cartão de crédito e cheque
especial, que devem ser pagos no dia do vencimento.
O pagamento de dívidas deve estar
previstos no orçamento, mas não há necessidade de adiantá-los. “Nesses
momentos, o que é muito comum e vale a pena fazer, é tentar até renegociar com
credores”, orienta Calefi.
Por Felipe Machado
Revista VEJA online.
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