Preços no mercado
imobiliário chegarão ao fundo do poço em 2017.
Apesar de o cenário político e econômico do país
não permitirem traçar uma previsão clara sobre qual será o desempenho do mercado de imóveis para o ano que vem, em um ponto os especialistas
concordam: após uma queda real de 6,25% nos
últimos 12 meses, os preços de casas e apartamentos
tendem a ficar estáveis em 2017.
O mercado deve atingir o fundo do poço quando
se fala de preços, segundo João da Rocha Lima, professor do Núcleo
de Real State da Poli-USP. “Considerando um cenário no qual a economia
comece a se recuperar devagar, e a inflação caia, os preços devem ficar
estáveis até voltarem a subir”.
Além disso, as construtoras
já estão com margens bastante apertadas para diminuir preços, diz Lima. “Não há
espaço para mais quedas”.
Apesar de ainda não haver no horizonte a previsão
de um aumento de renda dos consumidores
para incentivar a compra da casa, a expectativa de Flavio Amary, presidente do
Sindicato da Habitação (Secovi-SP), é de que ao menos o nível de desemprego
pare de piorar no ano que vem.
Nesse cenário, o executivo aponta que empresas
preferem deixar os preços estáveis e aguardar uma retomada da economia.
Estoque ainda é problema
A exceção nesse cenário são empresas que ainda têm
estoque de imóveis prontos para vender e precisam de dinheiro. “Essas
construtoras querem se livrar dessas unidades o quanto antes.
Como consequência, cobrarão preços mais atrativos
por eles”, diz Lima. Amary concorda, ainda que, assinala, hajam menos empresas
nessa posição agora do que nos últimos anos.
Apesar de não serem divulgados dados confiáveis
sobre o tamanho do estoque de imóveis prontos, que geram mais custos para as
empresas, Lima acredita que o problema ainda não foi resolvido por conta de um
aumento no cancelamento dos contratos já firmados, que acaba fazendo com que o
estoque de imóveis volte a aumentar.
Geralmente, os contratos de imóveis na planta são
cancelados porque o mutuário não consegue financiamento bancário no momento da
entrega das chaves, seja porque ficou desempregado ou porque os bancos
aumentaram as exigências frente a um aumento na inadimplência e do desemprego.
“Há quem diga que, para cada imóvel vendido, dois
contratos são cancelados. Esse problema deve ser solucionado até o final do
primeiro semestre de 2017, quando a economia deve começar a melhorar. Mas não
temos dados precisos sobre isso”.
Descontos devem continuar
Portanto, o consumidor continuará a ter no ano que
vem oferta de imóveis por preços atrativos tanto no mercado de novos como
usados.
“Proprietários de imóveis que precisam de dinheiro
e não pode esperar pela retomada da economia vão vender o imóvel por um preço
menor”, diz Eduardo Schaeffer, presidente do portal de classificados
imobiliários Zap Imóveis.
Para evitar a venda em um momento de preços baixos,
há quem opte por colocar o imóvel para alugar como forma de evitar custos com
condomínio. “Nesses casos, é possível encontrar 40% a 50% de desconto nos
valores em contratos de 30 meses, o que é positivo para quem quer alugar”, diz
o executivo.
“Esperamos que o mercado de aluguel continue
aquecido no ano que vem, com descontos médios de 5% a 10% nos valores cobrados,
em média”.
No entanto, quem quer comprar uma casa ou
apartamento e, para isso, necessite encarar um financiamento imobiliário deve
estar confiante na manutenção do seu emprego e renda em um cenário ainda sem
sinais claros de recuperação, diz Lima, da Poli-USP.
Recuperação depende do cenário político
A volta de um cenário político instável pode
postergar a recuperação da economia e, consequentemente, do mercado
imobiliário. “O mercado imobiliário depende da confiança do consumidor no
longo prazo”, diz Amary, do Secovi.
Schaeffer, do Zap, prevê que os lançamentos devem
ser retomados a partir do segundo semestre do ano que vem, quando a queda dos
juros deve voltar a trazer dinheiro para a poupança, a fonte de financiamento
mais importante para o setor.
De janeiro a novembro deste ano, a poupança perdeu
mais de 50 bilhões de reais. Com os juros em níveis altos, a tendência é que os
investidores migrem para outras aplicações financeiras mais rentáveis.
À medida que os juros caiam para 10% no segundo
semestre do ano que vem, conforme a previsão de analistas, a caderneta deve
voltar a ficar mais atrativa em comparação a outros investimentos
conservadores.
Gilberto Duarte, presidente da Associação
Brasileira das Entidades de Crédito Imobiliário e Poupança (Abecip), confirma
que os bancos deixaram de emprestar dinheiro este ano por falta de recursos.
Isso deve ser sanado em 2017 se as reformas
necessárias forem aprovadas e o cenário político ficar estável. “São essas
questões que vão definir se haverá a recuperação no crédito, bem como novas
fontes de financiamento para o setor”.
Para Amary, do Secovi, no momento em que houver
mais clareza com relação ao cenário econômico, a recuperação dos preços dos
imóveis deve acontecer de forma rápida. “O aumento dos custos na construção
pressiona os preços, assim como a demanda reprimida”.
Marília Almeida.
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