Doria: ‘SP terá direção. Isso de fazer o que quer acabou’.
O tucano João Doria troca hoje a luxuosa vizinhança de seu
escritório na Avenida Faria Lima pelo caos de ambulantes e moradores de rua do
Viaduto do Chá, no centro da cidade que o elegeu prefeito em primeiro turno,
com 3.085.187 votos.
Em entrevista ao Estado, ele promete que São Paulo terá
“direção, sem essa coisa de faz o que quer, na hora que quer”, uma alfinetada
no seu antecessor, Fernando Haddad (PT).
O empresário de 59
anos vai usar sua influência no setor privado para tentar tocar as promessas
mais espinhosas de campanha e diz que cobrará de Michel Temer o dinheiro
prometido e não repassado à cidade por uma Dilma Rousseff “desleal com São
Paulo”.
Ele ainda criticou os vereadores por aprovarem aumento de 26,3%
nos próprios salários, atualmente suspenso pela Justiça, e disse que tem planos
para quatro anos, mas não nega ser um eventual nome forte para o governo do
Estado em 2018, em substituição a seu padrinho político, Geraldo Alckmin
(PSDB). A seguir, os principais trechos da entrevista:
O senhor vai varrer as
ruas da cidade (como ação inicial do projeto de zeladoria Cidade Linda) e
muitas pessoas já o estão comparando com o ex-prefeito Jânio Quadros
(1986-1989) e sua vassourinha. Como responde a isso? É uma medida populista?
Agradeço, mas declino. Não tenho nenhuma proximidade vocacional
com o Jânio e muito menos com o populismo. O gesto é de humildade. E para
mostrar que todos somos iguais.
Vai se sentir culpado se houver um atropelamento na Marginal do
Tietê em função do aumento das velocidades após 19 meses sem ocorrências desse
tipo?
Não respondo sob hipótese.
Já sabe como vai fazer para congelar a tarifa do ônibus?
Vou congelar
congelando.
Com quais recursos?
Vamos buscar combater as fraudes na utilização do bilhete único.
E vamos reavaliar alguns procedimentos. Não faz sentido que pessoas que podem
pagar não paguem.
Essa é a promessa mais difícil de ser cumprida ou é zerar a fila
da creche em um ano?
Todas as promessas são difíceis. Se fossem fáceis, o prefeito
Haddad já tinha feito.
Essa meta da creche não é ousada demais? Criar 133 mil vagas em
um ano?
A fila vai fechar o ano em cerca de 70 mil. A Prefeitura tinha
muitas creches para serem inauguradas e conveniadas. Eles (a atual gestão)
acertaram a mão de um ano e meio para cá, quando optaram pelos convênios. Vamos
continuar.
Sobre a qualidade da Educação, o que pretende fazer? Vai
oferecer à iniciativa privada a adoção de escolas, por exemplo?
Sim, vamos fazer isso, com ONGs ou contribuições diretas. Vamos
fortalecer os (Centros Educacionais Unificados) CEUs também, que passarão a ser
chamados de CEUs 21, porque vão entrar no século 21, com tecnologia e Wi-Fi. E
estamos elaborando um plano de capacitação dos professores.
Sobre o Corujão da Saúde, que visa a zerar a fila de exames,
como pretende começar esse programa no dia 10, já com hospitais particulares,
sem seguir os procedimentos regulares, como lançamento de licitação?
Os procedimentos serão os regulares e dentro do orçamento da
Prefeitura. Mas vamos negociar isso diretamente com a associação dos hospitais,
não vamos fazer negociação individualizada, que demora muito.
A priori, serão 50 hospitais particulares e mais dez estaduais.
Vai sair mais barato que na rede municipal.
Vai tirar os grafites da Avenida 23 de Maio?
Vamos avaliar. Na Avenida 9 de Julho vamos tirar todas as
pichações e orientar os grafiteiros que suspendam as ações.
© Fornecido
por Abril Comunicações S.A. Avenida 23 de Maio: grafite inspirado em São Paulo
dos anos 20
Avenida 23
de Maio: grafite inspirado em São Paulo dos anos 20 (Fernando Moraes)
Gosta de grafite?
Quando é bem-feito, sim. Não gosto é da pichação.
Isso não é uma provocação aos pichadores?
Eles terão oportunidade. Mas essa cidade vai ter direção. Essa
coisa da leniência, faz o que quer, a hora que quer, acabou.
Hoje é assim?
Não estou dizendo com isso que com Fernando Haddad é assim, mas
comigo não será.
O Programa Braços Abertos na Cracolândia vai acabar?
O Braços
Abertos vai acabar, não há recuo transferida para a compra da pedra de crack.
A Cracolândia terá mais policiamento?
Gradualmente. Na medida em que a gente vai fazendo a internação,
a tendência da Cracolândia é acabar. Depois, é requalificar a área, destinar
para empreendimentos imobiliários.
Pensa em reativar o (projeto urbanístico da) Nova Luz?
O Nova Luz será ampliado para todo o centro histórico e sob a
coordenação do (urbanista e ex-prefeito de Curitiba) Jaime Lerner, que será
pago pela iniciativa privada. Queremos requalificar toda aquela área.
O senhor prometeu reformar os albergues com o apoio de empresas.
Qual a contrapartida para elas?
O bem.
Em plena crise econômica?
Sim. Não ofereci contrapartida nenhuma. Se melhorar a cidade, é
bom para eles. Todo mundo ganha. Essa é a melhor contrapartida.
Causa estranheza isso ser previsto para um ano que pode ser
desastroso ainda do ponto de vista econômico.
Me dê um voto de confiança. Acredite até a página 2.
O que espera de ajuda federal para São Paulo? O prefeito
Fernando Haddad esperou muito do governo da ex-presidente Dilma Rousseff e não
foi atendido. Mais de R$ 7 bilhões em convênios assinados do PAC não foram
repassados. O senhor vai atrás desse dinheiro?
Vou cobrar. A presidente Dilma não foi correta com o prefeito
Fernando Haddad. Ela não tratou com respeito nem a cidade de São Paulo nem um
companheiro de seu partido. Não cumpriu acordos, deixou o prefeito Haddad de
escanteio. Foi descortês com ele e desrespeitosa com a cidade.
Tenho falado com o presidente Temer com alguma frequência e há
um claro comprometimento dele de que os compromissos existentes serão
cumpridos. E eu confio, entendo que o presidente Temer é um homem de palavra.
O que achou de os vereadores terem aumentado seus próprios
salários?
Entendo que não é o momento, em uma situação tão difícil do País
mas a Câmara tem independência para tomar essa decisão. Mas não tem o nosso
apoio. Essa medida é inadequada e inoportuna.
Defende que eles devolvam a diferença?
Nós tomamos a decisão de que não haveria aumento de salários
para secretários, para o prefeito e o vice. Vou doar meus 48 salários. Não
estou dizendo que os vereadores não têm direito, já que ficaram quatro anos com
os salários congelados, mas com 2 2 milhões de desempregados na capital, não é
um bom indicador isso.
O senhor falou que vai doar 48 salários, quer dizer que promete
ficar os 4 anos na Prefeitura?
Vou, acha que não?
O seu pode ser um nome forte para o Estado em 2018.
Tudo a seu tempo. Agora sou prefeito eleito da cidade, tenho de
fazer um plano para quatro anos.
© Fornecido
por Abril Comunicações S.A. previas_psdb_joao_doria
Com Alckmin:
governador apoiou sua candidatura dentro do PSDB (Alexandre Nobeschi)
Isso quer dizer que vai fazer um plano para 4 anos ou que vai
governar pelos 4 anos?
Estou afirmando que fui eleito para ser prefeito e serei
prefeito por quatro anos.
Mas não nega
essa possibilidade, deixa em aberto.
Não deixo em
aberto nem fechado.
O senhor defende uma aproximação do seu partido com o governo de
Michel Temer?
Defendo. Entendo que a gestão do presidente Temer deve ser
pacificadora. Importante que ele continue, dentro daquilo que a legislação
permitir, entendo que é uma ponte natural até as eleições de 2018.
Mesmo após o nome do presidente ter sido citado em delações da
Lava Jato?
Apure-se o que tiver de ser apurado. Mas é preciso ter
estabilidade até as próximas eleições.
O senhor disse que levaria chocolates ao ex-presidente Lula na
cadeia. Levaria para políticos do PSDB também, caso venham a se mudar para
Curitiba?
Estamos falando de fatos concretos. O presidente Lula é
indiciado. Cumpra-se a lei.
O lugar do Lula é na cadeia?
É onde a lei determinar. Não sou eu que faço nem aplico a lei.
São os juízes, os promotores públicos. Caberá a eles o destino do presidente
Lula.
As
informações são do jornal O Estado de S. Paulo. Revista VEJA. © Fornecido por
Abril Comunicações S.A. joaodorialm25-jpg.jpeg
Portal MSN.
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