FHC defende Aécio e pede distinção entre caixa dois e corrupção.
Em nota divulgada nesta sexta-feira, ex-presidente diz que o senador não pediu doações eleitorais em caixa dois a aliados
O ex-presidente da República e presidente de honra do PSDB, Fernando Henrique Cardoso, divulgou nesta sexta-feira uma nota oficial em que sai em defesa do atual comandante do partido, o senador Aécio Neves (MG).
O tucano disse lamentar que haja uma estratégia usada por adversários da legenda de difundir “notícias alternativas” de modo a confundir a opinião pública. Na declaração, o ex-presidente afirma que delações premiadas não provas e pede que haja distinção entre caixa dois e corrupção.
FHC diz que parte do noticiário do dia sobre os depoimentos de executivos da Odebrecht “serve de alerta”. Segundo ele, ao invés de se dar ênfase à afirmação de Marcelo Odebrecht de que doações à campanha presidencial de Aécio em 2014 foram feitas oficialmente, publicou-se a partir de outro depoimento que o senador teria pedido doações de caixa dois para aliados.
      “O senador não fez tal pedido. O depoente não fez tal declaração em seu depoimento ao TSE”, diz o tucano. “É preciso serenidade e respeito à verdade nessa hora difícil que o país atravessa”, completa.
A declaração mencionada por FHC foi dada pelo ex-presidente da Construtora Odebrecht e delator da Lava Jato Benedicto Barbosa Júnior, em depoimento na ação contra a chapa Dilma Rousseff-Michel Temer no Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
Segundo Barbosa Júnior, o senador mineiro solicitou nove milhões de reais em caixa dois, divididos pela empreiteira entre sua campanha presidencial e às campanhas do senador Antonio Anastasia (PSDB-MG), do deputado federal Dimas Fabiano (PP-MG) e do candidato derrotado ao governo de Minas Gerais Pimenta da Veiga (PSDB).
“Há uma diferença entre quem recebeu recursos de caixa dois para financiamento de atividades político-eleitorais, erro que precisa ser reconhecido, reparado ou punido, daquele que obteve recursos para enriquecimento pessoal, crime puro e simples de corrupção”, avalia Fernando Henrique Cardoso.
Para o ex-presidente, divulgações “apressadas e equivocadas agridem a verdade, e confundem os dois atos, cuja natureza penal há de ser distinguida pelos tribunais”.
“A palavra de um delator não é prova em si, apenas um indício que requer comprovação.
É preciso que a Justiça continue a fazer seu trabalho, que o país possa crer na eficácia da lei e que continue funcionando”, ponderou.
O governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB),  também comentou nesta sexta-feira as citações a Aécio Neves. Alckmin disse que “Aécio já deu explicações e dará explicações que forem necessárias, não há razão para especulação”.
Internamente, o governador paulista disputa com o senador a candidatura tucana para o Planalto.
Sobre a possibilidade do procurador-geral da República, Rodrigo Janot, pedir a abertura de inquérito contra ele e outros governadores na semana que vem, com base nas delações da Odebrecht, Alckmin disse que é preciso aguardar. “Nós sempre defendemos que qualquer denúncia deve ser investigada, vamos aguardar”, afirmou.
Leia a íntegra da nota de Fernando Henrique Cardoso:
Lamento a estratégia usada por adversários do PSDB que difundem “noticias alternativas” para confundir a opinião pública.
A imprensa é instrumento fundamental da democracia. Usada por quem não é criterioso presta um mau serviço ao País.
Parte do noticiário de hoje sobre os depoimentos da Odebrecht serve de sinal de alerta. Ao invés de dar ênfase à afirmação feita por Marcelo Odebrecht, de que as doações à campanha presidencial de Aécio Neves, em 2014, foram feitas oficialmente, publicou-se a partir de outro depoimento que o senador teria pedido doações de caixa dois para aliados.
O senador não fez tal pedido. O depoente não fez tal declaração em seu depoimento ao TSE.
É preciso serenidade e respeito à verdade nessa hora difícil que o país atravessa.
Ademais, independentemente do noticiário de hoje tratar como iguais situações diferentes, não é o caminho para se conhecer a realidade e poder mudá-la.
Visto de longe tem-se a impressão de que todos são iguais no universo da política e praticaram os mesmos atos.
No importante debate travado pelo país distinções precisam ser feitas. Há uma diferença entre quem recebeu recursos de caixa dois para financiamento de atividades político-eleitorais, erro que precisa ser reconhecido, reparado ou punido, daquele que obteve recursos para enriquecimento pessoal, crime puro e simples de corrupção.
Divulgações apressadas e equivocadas agridem a verdade, e confundem os dois atos, cuja natureza penal há de ser distinguida pelos tribunais.
A palavra de um delator não é prova em si, apenas um indício que requer comprovação. É preciso que a Justiça continue a fazer seu trabalho, que o país possa crer na eficácia da lei e que continue funcionando.
A desmoralização de pessoas a partir de “verdades alternativas” é injusta e não serve ao país. Confunde tudo e todos.
É hora de continuar a dar apoio ao esforço moralizador das instituições de Estado e deixar que elas, criteriosamente, façam Justiça.
Fernando Henrique Cardoso
Presidente de honra do PSDB
(com Estadão Conteúdo)
Revista VEJA online.

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