A mente precisa de exercícios para evoluir”
O neurocientista Ken Kiehl defende que, assim como
deficientes físicos necessitam de fisioterapia, doentes mentais, a exemplo de
psicopatas, têm de trabalhar o cérebro para combater a doença
Para
o neurocientista americano, a psicopatia é uma herança genética.
Kent Kiehl, neurocientista americano
da instituição Mind Research Network e da Universidade do Novo México, nos
Estados Unidos, é autor do livro The Psycopath Whisperer (sem
tradução em português; 19 dólares na Amazon), resultado de vinte anos de estudo
com psicopatas presos.
Na entrevista a seguir, Kiehl explica
como a psicopatia se desenvolve como uma característica genética e quais são os
caminhos para combatê-la e, assim, diminuir seus efeitos.
Há quem nasce psicopata?
Estudos recentes, como os que
conduzi, sugerem que a maior parte das variantes para traços de psicopatia é
genética.
Um exemplo é a metodologia que faz
uso de gêmeos. Normalmente, ambos os irmãos marcam a mesma pontuação, seja ela
alta, ou baixa, no teste usado para identificarmos um psicopata. Com essa
técnica, sabemos que ao menos 50% dos traços de psicopatia são relacionados ao
DNA.
Mas isso não é uma sentença
definitiva para a vida, pois é maleável. Há várias oportunidades para remodelar
as pessoas.
É possível diagnosticar um bebê como psicopata?
Uma criança, sim. Existem psiquiatras
que tentam identificar a doença em pacientes com 5 anos. Todos têm a esperança
de que, mesmo no caso de um jovem que aparenta ser de alto risco para a
sociedade, os pais possam buscar caminhos para resolver, ou ao menos aliviar, o
problema se agir cedo.
Como alguém consegue exercitar o cérebro para ir
contra a genética?
Assim como uma deficiência física
precisa de fisioterapia, a mente necessita de exercícios. Partimos do princípio
que a psicopatia tem a ver com redução de empatia e excesso de impulsividade.
Então, desenvolvemos jogos de
computador que estimulam a empatia e reduzem a impulsividade. O paciente ganha no
game se conseguir esperar, planejar e pensar sobre as atitudes cuidadosamente.
Esse tipo de trabalho reduz, em
muito, os traços típicos desse desvio mental.
O psicopata consegue perceber sozinho que é um
psicopata?
Usualmente, não. Por sofrer de falta
de empatia pelo outro, o psicopata não percebe como o seu modo de vida
influencia as pessoas. Aliás, nem como ele afeta a própria vida.
Durante o tratamento, porém, quando o
psiquiatra explana sobre os atos do psicopata, ele consegue se reorientar para
não repetir os erros. Temos de educar e treinar a mente do paciente.
Como fazer isso?
A melhor opção é o reforço positivo.
Ou seja, reduzir a punição e aumentar os agrados quando o paciente age
corretamente. Pesquisas comprovam que essa estratégia é mais eficiente em
indivíduos com essas características.
Quem tomaria essa atitude corretiva, baseada no
incentivo, não na punição?
Pais, professores, babás, quase todos
do convívio do indivíduo podem agir. É preciso trabalhar com o paciente,
principalmente quando é uma criança, em todos os momentos de sua vida. Cabe ao
psiquiatra treinar aqueles que fazem parte da vida do psicopata.
É possível reinserir um psicopata na sociedade,
mesmo um com histórico de crimes?
Isso depende muito da linha
filosófica e social do sistema criminal de cada país. Acredito que os dados
falam por si. Sem planejamento, não dá.
Exemplo: 80% dos prisioneiros voltam ao sistema penitenciário dentro de três
a cinco anos se não passaram pelo devido tratamento psiquiátrico.
O ponto da minha pesquisa é que, já
que eles serão soltos depois de cumprirem as penas, devemos elaborar
tratamentos, estudos, programas de monitoramento, tudo para minimizar as
chances de essas pessoas voltarem a cometer crimes consequentes de escolhas
erradas de suas mentes perturbadas.
Revista
VEJA online. Por: Jennifer Ann Thomas. (VEJA.com/Divulgação).
Nenhum comentário:
Postar um comentário