Dilma mentiu sobre Pasadena, diz Cerveró.
Em acordo de delação premiada, o ex-diretor da Petrobras afirmou
às autoridades que a presidente afastada tinha conhecimento da negociação que
gerou prejuízo milionário.
Dilma Rousseff caminha entre militantes e integrantes de
movimentos sociais após ser notificada da decisão de seu afastamento do cargo
de presidente, no Palácio do Planalto.
O ex-diretor da Área Internacional da Petrobras Nestor Cerveró
afirmou em acordo de delação premiada que a presidente afastada Dilma Rousseff
mentiu ao afirmar que a compra da refinaria de Pasadena, no Texas, foi
consolidada pela Petrobras apenas porque o Conselho de Administração da estatal
não tinha conhecimento de duas cláusulas de preferência que tornaram a
transação desfavorável à petroleira brasileira.
A cláusula Marlim previa à empresa belga Astra Oil, parceira
inicial da Petrobras, um lucro de 6,9% ao ano, independentemente das condições
de mercado, enquanto a cláusula de Put Option obrigava a empresa brasileira a
comprar a outra metade da refinaria caso houvesse desentendimento com a
parceira da Bélgica.
Na tentativa de se eximir de responsabilidade sobre a transação,
que gerou prejuízo de 792 milhões de dólares à Petrobras, Dilma sempre alegou
que a compra da unidade de refino foi feita com base em um "parecer
falho" elaborado por Cerveró.
Além de desqualificar a versão apresentada pela presidente
afastada, o ex-diretor da Petrobras disse "supor" que Dilma tivesse
conhecimento de que políticos do PT embolsavam propina do escândalo do
petrolão.
"O declarante supõe que Dilma Rousseff sabia que políticos
do Partido dos Trabalhadores recebiam propina oriunda da Petrabras", diz
trecho da delação tornada pública nesta quinta-feira.
Cerveró ressalta, porém, que nunca discutiu diretamente com a
petista assuntos relacionados a propina nem para ela nem para o PT e disse que
não sabe se Dilma pediu dinheiro para ela ou para petistas.
No acordo de delação, porém, o ex-dirigente disse que, no caso
de Pasadena, "os membros do Conselho de Administração tinham consciência
das cláusulas Put Option e Marlin" e que, portanto, "não corresponde
à realidade a afirmativa de Dilma Rousseff de que somente aprovou a aquisição
porque não sabia dessas cláusulas".
Cerveró, que já havia detalhado como a compra de Pasadena foi
irrigada com dinheiro de propina, afirmou que, embora comissões internas tenham
sido montadas para analisar a transação, "as comissões internas da
Petrobras objetivavam apenas eximir de responsabilidade o Conselho de Administração
da Petrobras e especialmente Dilma Rousseff".
Cerveró relatou que, em meio às contestações sobre ilegalidades
na aquisição da refinaria no Texas, procurou a então presidente da Petrobras
Graça Foster para "combinar" a versão que seria apresentada à Câmara
dos Deputados, que investigava o caso.
Segundo a versão apresentada na delação, "Graça Foster
cortou a conversa e disse que estava ali 'para defender a Dilma'".
Em entrevista a VEJA, o engenherio Otávio Pessoa Cintra,
ex-gerente da Petrobras América, disse que "Pasadena era um projeto
secreto".
A história de Cintra mostra como um funcionário da estatal teve
acesso a informações comprometedoras e tentou, sem sucesso, alertar seus
superiores para o que estava acontecendo. Ele conta que mandou recado para a
então ministra Dilma Rousseff na época.
E soube, há dois anos, que seu recado chegou à destinatária.
"Tomei conhecimento em 2014 que Dilma sabia de tudo."
Propina
Delatores da Lava Jato, além de Nestor Cerveró, já haviam
detalhado ao Ministério Público como funcionou o pagamento de propina em
Pasadena.
Segundo o MP, a companhia belga Astra Oil pagou 15 milhões de
dólares em propina para viabilizar a aquisição da refinaria de Pasadena pela
Petrobras.
Um dos delatores do esquema, o engenheiro Agosthilde Mônaco
citou, em seu acordo de delação e sem dar detalhes, que o engenheiro Carlos
Barbosa disse que o representante da companhia belga Alberto Failhaber estaria
disposto a pagar propina de 80 milhões a 100 milhões de dólares "para
resolver definitivamente o problema [de Pasadena] que já se arrastava por mais
de dois anos".
Ex-empregado da Petrobras e vice-presidente de Trading para
América Latina da Astra, Alberto Feilhaber foi o responsável por viabilizar o
repasse de dinheiro da Astra ao lobista Fernando Baiano, que atuava como
operador do petrolão e distribuiu propinas a políticos e ex-dirigentes da
companhia ligados às diretorias de Abastecimento e Internacional.
Por: Laryssa Borges, de Brasília.
Foto: (Andressa Anholete/AFP).
Revista VEJA
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