Ao empossar Freire, Temer diz que novo ministro da Cultura
salvará o Brasil
Presidente recusou-se a falar o nome de Marcelo Calero ao longo
de todo o discurso
O presidente Michel Temer participa da cerimônia de posse do
ministro da Cultura, Roberto Freire, no Palácio do Planalto - Jorge William /
Agência O Globo
BRASÍLIA — Ao dar posse para Roberto Freire como ministro da
Cultura, o presidente Michel Temer o elogiou muito, disse que desde antes de
assumir definitivamente a Presidência já tinha chamado o deputado para comandar
o Ministério da Cultura (MinC) e falou que Freire salvará o Brasil.
Roberto Freire assume o posto no lugar de Marcelo Calero, que se
demitiu na semana passada e em seguida acusou o ministro Geddel Vieira Lima
(Secretaria de Governo) de tráfico de influência.
Geddel não participou da cerimônia, que inicialmente estava
prevista para ser um evento aberto ao público, mas, de última hora, foi restrita
e a portas fechadas.
— Nós temos hoje absoluta certeza de que o governo está ganhando
muito. E se o governo foi bem até agora, a partir do Roberto Freire vai ganhar
céu azul, vai ganhar velocidade de cruzeiro e vai salvar o Brasil — discursou
Temer, que antes pediu que o novo ministro o "ajude a governar".
— Olhe, Roberto, você não estará só na Cultura. Quero que você
esteja lá para me ajudar a governar — disse.
Durante toda a sua fala, Temer não citou o nome de Calero. E
pelo terceiro dia seguido, Geddel se ausentou de cerimônias no Palácio do
Planalto.
Mesmo fechada, a posse de Roberto Freire teve ministros e
parlamentares, e aconteceu no terceiro andar do Planalto, onde Temer despacha.
O presidente disse que conhece e admira Freire de longa data e
que quando chegou no Congresso, na Constituinte (1988), ele já estava lá.
Pela primeira vez, Temer afirmou que havia chamado Freire para a
Cultura cerca de dez dias antes do afastamento da ex-presidente Dilma Rousseff,
e que Freire havia colocado o cargo à disposição mesmo sem ser ministro. Isso
porque na redução ministerial pretendida por Temer, a Cultura seria extinta.
— Ao longo do tempo, como fui muito criticado porque iria
reduzir o número de ministérios, o Roberto, e só para revelar a grandeza do homem
público, o que é que ele fez? Ele que já praticamente houvera sido designado
como ministro da Cultura, foi a mim e disse: "Ô, Temer, você tem que
reduzir os ministérios, porque senão você vai apanhar demais.
E para revelar como você tem que reduzir, faça o seguinte: se
quiser, meu cargo está à disposição, e evidentemente a minha pasta" —
declarou Temer.
Ele então deu mais detalhes de como queria cortar a Cultura. Ao
referir-se a Calero sem dizer seu nome, Temer falou em "companheiro",
justificando por que Freire não havia sido ministro da Cultura de fato.
— A essa altura, não foi possível levá-lo (Roberto Freire)
porque havia outro companheiro (Calero) já ocupando a secretaria de Cultura —
afirmou Temer.
No começo do discurso, Freire cometeu uma gafe e, ao
cumprimentar o ministro da Casa Civil, Eliseu Padilha, o chamou de Eliseu
Resende, político morto em 2011.
Resende foi ministro dos Transportes no governo de João
Figueiredo, na ditadura militar, e antecedeu o ex-presidente Fernando Henrique
Cardoso à frente da Fazenda. Resende ficou só dois meses na pasta.
Saiu do governo acusado de ter favorecido a Odebrecht na
liberação de empréstimo para uma obra no Peru.
Entre a extinção e a volta do Ministério da Cultura, Temer já
havia recuado, colocando a pasta como secretaria, para a chefia da qual foi
designado Marcelo Calero.
Na posse de Calero, em maio, Temer fez um mea culpa, dizendo que
havia "verificado" que a pasta era "fundamental". Nesta
quarta-feira, Temer citou a "grita natural da cultura" da decisão de
acabar com o ministério.
— Eu, como tinha na cabeça coisas de antigamente, a figura do
MEC como Ministério da Educação e Cultura, eu disse: "Muito bem. Vou fazer
o seguinte. Vou reunir Educação com Cultura. Como reuni outros tantos
ministérios".
E logo depois, vocês acompanharam, houve uma grita natural da
cultura, ao fundamento de que a função de ambos reduziria a qualificação da
Cultura — afirmou o presidente.
A exemplo de Temer, o novo ministro da Cultura não mencionou seu
antecessor no discurso de posse. Freire reconheceu "dificuldades" do
país, mas logo em seguida citou governos anteriores como culpados de uma
"profunda crise econômica". Roberto Freire afirmou ainda que é
necessário apoiar a Lava-Jato.
— Temos clareza das dificuldades que atravessamos hoje em nosso
país. Uma profunda crise econômica e ética de governos que não cuidaram dos
fundamentos macroeconômicos com a necessária responsabilidade produziu um
ambiente nefasto para nossa economia e para a política, que requer temperança,
ousadia e de apoio à Lava-Jato para superá-la.
POR CATARINA
ALENCASTRO E EDUARDO BARRETTO.
Jornal O
GLOBO online.
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