INFLAÇÃO
O Brasil tem uma das menores taxas de investimento no mundo: 19,4% do PIB. É pouco para acompanhar um mercado interno aquecido pelo aumento contínuo de renda e emprego. O resultado é o descompasso entre oferta e demanda, uma pressão constante sobre os preços.
 A isso, somam-se fatores externos, como a alta das matérias-primas e a súbita enxurrada de dólares nos mercados globais, resultado da política de estímulo econômico atualmente praticada pelos Estados Unidos. Tudo somado, a inflação acelerou nos últimos meses de 2010 e deve fechar o ano pelo menos um ponto acima do centro da meta do governo. É o primeiro desafio da equipe econômica de Dilma Rousseff.
BATALHA PERDIDA
É limitada a eficácia da alta dos juros para conter os preços em 2011. BC mira agora 2012.
INFLAÇÃO: O DRAGÃO QUE O PAÍS LUTA PARA MANTER ADORMECIDO.
A inflação no país acelerou nos últimos meses de 2010 e fechou o ano no maior patamar desde 2004. E 2011 já começou com uma notícia preocupante: em janeiro, a inflação medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) foi a maior desde 2005. A alta dos preços é fruto do descompasso entre a oferta e a demanda, provocado por uma taxa de investimento incapaz de acompanhar um mercado interno aquecido pelo aumento contínuo de renda e emprego.
 A palavra inflação provoca arrepios nos brasileiros que conviveram com esse fantasma no passado – e sabem bem o quanto ela pode erodir a vida cotidiana e os sonhos e projetos de cada um.
Em março de 1990, a inflação mensal brasileira chegou ao ápice histórico de 82,4%. Naquele ambiente, os salários perdiam 80% de seu valor em um trimestre e 2% em um único dia. Os mais ricos conseguiam proteger seus recursos em aplicações financeiras. Os mais pobres tinham o orçamento esmagado pela perda acelerada do poder de compra da moeda.
 Esse processo só foi revertido após o Plano Real, quando o elefante da inflação saiu de cena. Entre julho de 1974, ano em que o dragão da inflação nasceu no Brasil, e o lançamento do real, em junho de 1994, o índice geral de preços da Fundação Getulio Vargas registrou uma alta de 101 240 982 237 321%.
Depois de três décadas de esbórnia inflacionária, o Brasil tentou debelá-la com oito planos econômicos. A moeda nacional mudou de nome cinco vezes. Antes do Plano Real, todos os demais fracassaram, humilharam seus autores intelectuais e enterraram os presidentes do período no pântano da impopularidade.
 Por isso, a vitória do Real contra a inflação é tão valiosa. É preciosa porque foi um evento raríssimo na história da economia moderna. Para quem já se esqueceu, nunca é demais lembrar que inflação significa tragédia e que, uma vez instalada, ela não recua facilmente.
O processo inflacionário é, em suma, a corrosão do poder de compra do dinheiro. Seu efeito imediato é a concentração da renda nas mãos dos ricos e nos cofres do governo. Esse processo chamado de “imposto inflacionário” funciona contra o interesse dos mais pobres da sociedade, que não têm mecanismos para se defender da corrosão monetária. Não foi por acaso que os brasileiros escolheram como símbolo da inflação uma figura mitológica, o dragão.
 Esse é justamente um de seus truques mais tinhosos: fingir que não existe. Quando se percebe, a inflação já está instalada no país.
Foi assim que a população se sentiu em 2002, quando voltou a enfrentar um monstro que julgava derrotado. Ao final do primeiro ano do governo Lula, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) teve alta de 12,53% – a maior desde 1995. Inflação anual de dois dígitos era algo que não se via no Brasil havia mais de seis anos.
 A vigilância permanente do Banco Central, porém, conseguiu reverter o quadro. Embora seja um remédio amargo, a manutenção das taxas de juros em patamares elevados provou-se eficaz. E Lula encerrou seu primeiro mandato com um grande trunfo: o aumento do poder de compra da população.
Mas no uso de outras armas a seu dispor, no entanto, o desempenho oficial continua a dever. Uma delas refere-se aos gastos públicos. Diminuir a pressão inflacionária exercida pelo setor público, portanto, seria um recurso lógico para compensar a alta dos preços externos. Outra ação eficaz seria estimular o ambiente de negócios no país, para assim aumentar os investimentos privados, essenciais à ampliação da capacidade produtiva e fundamentais para que os preços permaneçam sob controle. Mas aqui também o setor público peca.
A maior parte das nações civilizadas parece ter apreendido que, com inflação, não se brinca. Como os gigantes, que também nascem pequenos, o dragão da inflação, especialmente o da espécie brasileira, sai do ovo cuspindo um foguinho brando e com uma carinha inocente. Logo, porém, ele se transforma num monstro incontrolável.
 Não é à toa que o presidente do BC, Alexandre Tombini, assumiu como um de seus principais compromissos a manutenção da inflação sob controle. O dragão inflacionário já desponta como o primeiro desafio da equipe econômica de Dilma Rousseff.
Revista ÉPOCA.

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