No Fórum em Manaus, lideranças mundiais destacaram o caso do Brasil e colocaram desafios a serem superados.
O mundo precisa de um momento de reflexão e debate para que lideranças empresariais possam se mirar no figurino da sustentabilidade e ver onde estão apertando as costuras.
Empresários e engenheiros tem muito em comum quando se fala em sustentabilidade. Precisam de indicadores, métricas e modelos capazes de mostrar o que fazer e como fazer para tornar suas organizações mais afinadas com o modelo empresarial que deverá adentrar pelo século XXI e ser à base de uma economia com menos emissões de carbono e criativa na forma de se organizar, gerar lucros e distribuir riquezas pela sociedade.
Como as dúvidas ainda são muitas e as soluções pouco testadas, encontros como o Fórum Mundial de Sustentabilidade, que teve sua segunda edição de 24 a 26 de março, em Manaus, devem ser vistos como oportunidades relevantes para o debate entre setores empresariais avançados sobre como podem estimular a transição para uma economia limpa.
Segundo Ricardo Young, ex-presidente do Instituto Ethos, este Fórum poderia compor, junto com o Fórum Social Mundial e o Fórum Econômico de Davos, o tripé de sustentação do debate global da para a construção de um modelo econômico baseado no equilíbrio social (FSM), econômico (Davos) e ambiental (Manaus).
“Essa mobilização de empresários e executivos de porte global pode tornar-se referência para uma economia verde, inclusiva, socialmente justa e capaz de gerar e distribuir riquezas”, explica.
E de fato, o Fórum organizado pelo Lide e coordenado pelo empresário João Dória Jr. teve muito méritos em atrair personalidades mundiais e líderes de empresas brasileiras dos mais diversos setores. Estiveram presentes representantes de logomarcas de destaque no cenário brasileiro e global, como Nestlé, Bradesco, Coca-Cola, Sabesp, Procter&Gamble, Itautec, Honda, Natura e uma infinidade de outras marcas líderes.
A presença do ex-governador da Califórnia, Arnold Schwarzenegger, mais conhecido entre os brasileiros como o personagem “Exterminador do Futuro”, foi inspiradora e suficiente para elevar a auto-estima de qualquer brasileiro.
Schwarzenegger refutou que o Brasil seja um país pobre. Para ele uma economia capaz de obras monumentais como os sistema viários das grandes cidades, com suas pontes e super avenidas, com tecnologia para produzir medicamentos sofisticados e aeronaves que atuam globalmente e com marcas reconhecidas em todos os mercados não pode ser chamada de pobre.
“O Brasil precisa ser mais divulgado no mundo, para que todos saibam do que os brasileiros são capazes”, disse. Também contou os esforços feitos em sua gestão como governador para mudar a economia da Califórnia em direção a um modelo de baixo carbono e de tecnologias limpas.
“os novos investimentos, seja em que área forem, precisam ter o componente da sustentabilidade”, explicou. Para ele esta é uma forma de se ir fazendo a transição, até que se perceba que é mais prático, eficiente e lucrativo ser sustentável.
Outro que aplicou uma injeção de ânimo na plateia foi o ex-presidente norte-americano Bill Clinton, que depois de deixar a Casa Branco, tornou-se um ativista da sustentabilidade e da redução das desigualdades globais na William J. Clinton Foundation.
Depois de falar sobre o que ele considera os três principais desafios do mundo nas próximas décadas, o clima, a instabilidade global e a segurança cibernética, o ex-presidente deixou claro que via um novo Brasil no cenário das nações.
Ele destacou a criatividade com que o país desenvolveu uma política contra a proliferação da aids e como se tornou referência nessa área. Como o país assumiu responsabilidades complexas ao liderar a ajuda e a intervenção da ONU no Haiti e como a liderança brasileira está se dando pelo exemplo e não pela capacidade militar.
“O Brasil é, junto com a Argentina, um dos poucos países do mundo que podem oferecer alimentos e bicombustíveis ao mundo sem ter de desmatar um só hectares de floresta”, disse.
Da platéia vem a pergunta: “O que querem que façamos?”. E a resposta vem direta e seca: “Quero que liderem o resto do mundo em sustentabilidade”, diz Clinton. E completou: “O Brasil pode mostrar ao mundo que a inovação em produção e uso de energias limpas também é muito rentável”,
explicou. E alertou: “Não aceito a posição simplista de ser a favor ou contra mudanças. É preciso que as pessoas se engajem e ofereçam alternativas melhores”.
Durante os três dias de apresentações os participantes puderam ter contato com outros líderes globais do pensamento sustentável, como o jornalista e ambientalista Paul Hawken, um dos inspiradores do presidente global do Walmart, Harold Lee Scott, que reviu as estratégias da organização e realizou uma guinada global para reduzir sua pegada ecológica, revendo seus padrões para uso de água e energia, além da geração de resíduos.
Hawken contou que, no princípio, diversos outros stakeholders da organização eram contra, mas sob a liderança coerente de Lee Scott as coisas foram acontecendo. “É preciso que existam nas empresas pessoas capazes de tomar as decisões certas, porque manter o mesmo rumo é sempre mais confortável, principalmente quando as perdas ainda não estão acontecendo e o novo modelo ainda não provou seu potencial”, explica.
“No entanto, a médio prazo, quem não mudar vai pagar caro por isso”, aponta.
Uma presença brasileira de destaque foi o ex-secretário de Maio Ambiente de São Paulo, o advogado Fábio Feldman, que defendeu a economia criativa como forma de ampliar a participação da sociedade nos processos de geração de riquezas, além de mostrar que o Brasil tem muito potencial para chegar à liderança ambiental apontada por Bill Clinton.
Feldman assumiu o palco com legitimidade para falar em desenvolvimento sustentável, lembrando seus melhores tempos de militância, quando assumiu lutas que se tornaram emblemas para a história ambiental do Brasil.
João Dória Jr. conseguiu reunir líderes e celebridades no 2º Fórum Global de Sustentabilidade, mas ao final, entre os participantes da platéia, fica uma sensação de “quero mais”. É preciso avançar nas pautas.
Propor caminhos ousados e assumir o protagonismo que o tema demanda. Posicionar-se lado a lado com o Fórum Social Mundia e com o Fórum Econômico Mundial. O mundo precisa e o Brasil tem legitimidade para isso. (Envolverde).
Por Dal Marcondes. Foto: Dida Sampaio/AE
REVISTA CARTA CAPITAL.
O jornalista Dal Marcondes viajou a Manaus a convite da Honda.
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