O EXCESSO DE GOSTOSURA VIROU GORDURA
Um novo índice criado para medir a obesidade pode substituir o tradicional IMC. Com ele, as mulheres de quadris largos estão na faixa de risco.
    Homens e mulheres raramente entram em acordo quando o assunto é beleza feminina. Elas querem ser magras como Gisele Bündchen. Eles gostam de curvas, principalmente naquele trecho da anatomia que liga o tronco às pernas. 
    Os homens, em especial os brasileiros, apreciam quadris benfeitos e volumosos, como os da morena Juliana Paes (99 centímetros antes da gravidez) ou os da loira Ellen Roche (98 centímetros).
   Mesmo opulências de 119 centímetros – como os da funkeira Andressa Soares, a Mulher Melancia – têm público fiel. Num país obcecado por bumbuns, é sempre melhor ter mais do que menos.
A Andressa parece ter outra opinião sobre esse assunto. Ela quer tornar o tamanho dos quadris uma questão de saúde, mais que de beleza.
Segundo uma nova definição de obesidade, proposta por um grupo de pesquisadores da Universidade do Sul da Califórnia, nos Estados Unidos, as mulheres de cadeiras avantajadas passariam da categoria de moças com “excesso de gostosura” e entrariam no grupo das gordas, que podem vir a ter problemas de saúde relacionados à obesidade.
O novo método para medir a quantidade de gordura no corpo foi proposto pela equipe do fisiologista Richard Bergman e publicado na edição de março da revista científica Obesity, uma das mais importantes em seu ramo da medicina. Bergman sugere usar a estatura e a medida dos quadris para apontar quem está acima ou abaixo do peso ideal.
 De acordo com seu Índice de Adiposidade Corporal (IAC), quanto maior a circunferência dos quadris, maior a chance de o indivíduo estar acima do peso. Ele propõe o IAC como substituto do conhecido Índice de Massa Corporal (IMC), que mede a obesidade com base no peso e na altura – e vem sendo usado há quase 200 anos.
O IAC será capaz de mudar nosso conceito sobre a beleza das celebridades, aposentar o IMC ou afetar a forma como encaramos nossa própria saúde? Isso depende de a comunidade médica aderir ou não a ele. O novo índice tem vantagens e desvantagens em relação ao anterior – e, assim como qualquer novidade, tem aspectos controversos.
 “O IAC precisa provar que é melhor do que os outros índices que estão sendo usados”, diz Raul Dias dos Santos, cardiologista do Instituto do Coração de São Paulo (Incor). “Ele tem de demonstrar que funciona também em outras populações.” O estudo de Bergman foi feito apenas com afro-americanos e cidadãos de origem mexicana.
Desde já, porém, o IAC é considerado um avanço importante na definição de novos indicadores de obesidade. O parâmetro usado hoje em dia, o IMC, foi inventado em 1832 pelo cientista belga Adolphe Quetelet, professor de matemática e astronomia.
 Ele era um apaixonado por estatísticas. Ao longo da vida, procurou fórmulas para explicar padrões em tudo, até no comportamento humano. Num dado momento, usou sua habilidade com os números para tentar responder a uma pergunta que o perturbava desde a juventude: qual era o peso ideal de uma pessoa? Quando jovem, ele fora um atento observador da anatomia humana, pois queria reproduzir o corpo com perfeição em suas pinturas e esculturas.
O índice proposto por Quetelet foi reavaliado em 1972 pelo cientista americano Ancel Keys, que o apontou como o mais simples e eficaz para medir a gordura corporal. Depois disso se popularizou e converteu-se na fórmula oficial para determinar quem entra e quem sai do regime.
 Um de seus apelos é a facilidade do diagnóstico: basta dividir o peso pelo quadrado da altura e localizar o resultado numa escala (leia o quadro abaixo).
Essa mesma simplicidade, porém, torna os resultados do IMC imprecisos. Não há na fórmula nenhuma medida que dê pistas sobre a quantidade e a localização da gordura no corpo. Por isso, o IMC não faz distinção entre músculos e gordura. Uma pessoa forte e, por isso, pesada pode ser considerada obesa.
Revista ÉPOCA. Marcela Buscato e Cristiane Segatto




Nenhum comentário:

Postar um comentário