VACINA CONTRA O VÍCIO
Cientistas testam remédios para acabar com a dependência de substâncias como a nicotina, a cocaína e a metanfetamina.
Uma interessante linha de pesquisa vem ganhando espaço na busca de terapias efetivas contra a dependência química.
Ao redor do mundo, centros de estudo dedicam-se ao desenvolvimento de vacinas que sejam capazes de ajudar os indivíduos a se livrar da cocaína, da nicotina e da metanfetamina.
Na última semana, uma boa notícia foi divulgada por um desses serviços de pesquisa. Cientistas do The Scripps Research Institute, dos Estados Unidos, um dos mais respeitados nesta área, apresentaram os resultados de um trabalho que apontou avanços na criação de uma vacina contra a metanfetamina, ou chrystal meth, como a droga também é conhecida.
Em experimentos feitos com cobaias, os pesquisadores confirmaram a eficácia de três partículas que, após serem injetadas nos animais, conseguiram estimular a fabricação de anticorpos contra a substância.
Na verdade, apesar de poder causar certa estranheza a princípio, as vacinas contras as drogas em estudo atualmente funcionam exatamente como as vacinas que conhecemos contra vírus e bactérias.
Ou seja, elas têm o propósito de incentivar o sistema de defesa do corpo a fabricar anticorpos contra agentes estranhos ao organismo e potencialmente prejudiciais ao seu funcionamento.
Neste caso, as substâncias químicas que levam à dependência. A estratégia traçada pelos pesquisadores para que o sistema imunológico seja provocado e saiba reconhecer uma droga como um inimigo é desenvolver moléculas muito similares às contidas nos compostos. Em seguida, elas são inseridas em “veículos” apropriados: pedaços de vírus ou proteínas inofensivos mas facilmente reconhecidos pelo sistema de defesa.
O que se espera é que, a partir daí, ele passe a produzir os anticorpos que irão destruir a substância química assim que ela entrar no corpo, impedindo que alcance o cérebro – exatamente o que foi obtido no experimento com o medicamento fabricado contra a metanfetamina.
Isso é importante porque, se não alcançar o cérebro, a droga deixa de produzir seus efeitos: tanto aqueles que dão prazer ao usuário quanto aqueles que o acabam deixando dependente.
A explicação é de que os sistemas cerebrais responsáveis por esses impactos não seriam acionados. “Acreditamos que as vacinas são uma espécie de ajudantes imunológicas contra o vício”, disse Kim Janda, do Scripps Research. “Elas estimulam o corpo a lutar contra as drogas.”
Além de coordenar os trabalhos com a vacina contra a metanfetamina, Janda também participa de pesquisas com um imunizante contra a cocaína. Recentemente, ele divulgou, em conjunto com colegas da Weill Cornell Medical College, também nos Estados Unidos, um estudo no qual apresentou os bons resultados obtidos com um remédio do gênero.
“As cobaias ficaram protegidas dos efeitos da cocaína por 13 semanas”, diz Ronald Crystal, pesquisador da Weill Cornell e parceiro de Janda neste trabalho. “É uma abordagem única e bastante promissora.”
Os detalhes da pesquisa foram descritos em um artigo publicado na revista científica “Molecular Therapy”. De acordo com a explicação dos cientistas, a vacina mostrou-se eficaz para impedir que a droga atingisse o cérebro – um desempenho a se comemorar, considerando-se que a cocaína leva apenas seis segundos para passar dos pulmões para a corrente sanguínea e dali chegar ao cérebro.
Há iniciativas ainda para reduzir a dependência da nicotina. A mais adiantada vem sendo conduzida pela Duke University, nos Estados Unidos. A instituição está realizando testes com 65 fumantes, que recebem quatro doses mensais de uma vacina criada pelo laboratório farmacêutico Novartis. “Ela tem o potencial de quebrar o ciclo de dependência”, disse à ISTOÉ John Taylor, diretor global de Relações Públicas da empresa. “Por isso, a abstinência poderia ser obtida e mantida mais facilmente.” A companhia espera submeter o produto à aprovação das autoridades de saúde dentro de quatro anos.
Na Michigan State University, também nos Estados Unidos, os pesquisadores estão coordenando um estudo com outra vacina contra a nicotina, criada pela empresa Nabi Biopharmaceuticals. O trabalho é integrado por fumantes de 18 a 65 anos que fumam até dez cigarros por dia e se encontram motivados para parar. “Com a vacina, queremos impedir que os fumantes experimentem a sensação de prazer proporcionada pelo cigarro”, explica Jonathan Henry, coordenador da pesquisa.
“O remédio não deixa que a nicotina chegue ao cérebro.” Os primeiros resultados são esperados para o início do próximo ano.
Revista ISTOÉ online. Cilene Pereira.
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