APÓS PRISÃO, BOMBEIROS SE APRESENTAM HOJE À AUDITORIA MILITAR.
Os 429 bombeiros denunciados após serem presos durante manifestação e ocupação do quartel central da corporação, no centro do Rio, se apresentam nesta quarta-feira à Auditoria Militar, onde serão oficialmente citados sobre os processos a que vão responder.
O grupo é acusado pelos crimes de motim, dano em material ou aparelhamento de guerra, dano em aparelhos e instalações de aviação e navais e dano em estabelecimentos militares. As penas para cada um dos crimes variam de 2 a 10 anos de prisão.
"Vamos cumprir à risca as ordens da Justiça, mas estou certo de que seremos anistiados. Temos como provar que não fomos nós que danificamos o patrimônio, porque a ação foi filmada. Estava tudo em ordem até a invasão. Ficamos de joelhos e nenhum de nós atirou nem destruiu nada", afirma o cabo Benevenuto Daciolo, um dos líderes dos bombeiros.
A pedido do Ministério Público, o processo foi desmembrado. A ação principal agora se refere a 415 bombeiros. Outra ação reúne acusações aos 14 militares considerados líderes do movimento, enquanto uma terceira envolve os dois PMs acusados de auxiliar os bombeiros.
Na quinta-feira, a Assembleia deve votar a Proposta de Emenda à Constituição do Estado que dá anistia administrativa aos bombeiros, mas não os isenta de punições na esfera judicial.
Para o mesmo dia, os bombeiros convocaram nova manifestação nas escadarias da Assembleia, onde ficaram acampados durante toda a semana passada, para pressionar os deputados a aprovarem a anistia.
A anistia e o consequente trancamento do processo só podem ser concedidos por uma lei federal. Na terça-feira (14), os deputados Alessandro Molon (PT-RJ) e Anthony Garotinho (PR-RJ), que apresentaram projetos de anistia, se reuniram com o presidente da Câmara dos Deputados, Marco Maia (PT-RJ), que prometeu colocar em votação na semana que vem os requerimentos de urgência na discussão desses projetos.
Manifestação pró-bombeiros em frente a Assembleia conta com o apoio de estudantes, policiais e professores.
INVASÃO
O quartel do Corpo de Bombeiros foi ocupado na sexta-feira, 3 de junho, por cerca de 2.000 manifestantes, de vários batalhões da cidade, alguns acompanhados por familiares --mulheres e crianças-- que reivindicam melhores salários. Durante quase cinco horas --das 21h às 2h-- o comandante geral da PM, coronel Mario Sergio Duarte, esteve no local negociando com os invasores. Ao longo da madrugada, alguns bombeiros deixaram o quartel.
Policiais militares do Batalhão de Choque invadiram às 6h do sábado (4) o quartel com o uso de bombas de efeito moral e gás lacrimogêneo para dispersar a manifestação. O comandante do batalhão de choque, Valdir Soares, ficou ferido durante a ação. Uma criança de dois anos foi atendida no hospital Souza Aguiar por ter inalado gás e, logo após, liberada.
Foram presos 429 bombeiros e dois policiais militares. Uma semana depois, o desembargador Claudio Brandão, do Tribunal de Justiça do Rio, concedeu habeas corpus aos presos.
Em entrevista coletiva no dia da prisão, o governador do Rio, Sergio Cabral (PMDB), qualificou os bombeiros que invadiram o quartel de "vândalos irresponsáveis" e a invasão de ação 'inaceitável do ponto de vista do Estado de Direito democrático e do respeito à instituição centenária, admirada pelo povo do Rio de Janeiro'.
O protesto dos bombeiros ganhou o apoio de atores da novela "Morde e Assopra", da TV Globo, que gravaram depoimentos pedindo a libertação detidos.
Folha online
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