CHANCE DOS PEQUENOS
 "Vamos fortalecer os pequenos provedores e reduzir o preço da banda larga no País". Essa é a estratégia do novo presidente da Telebrás, Caio Bonilha, para acelerar o Plano Nacional de Banda Larga.
Indicado há quase duas semanas pelo ministro das Comunicações, Paulo Bernardo, para presidir a Telebrás, o engenheiro gaúcho e ex-diretor comercial da estatal, Caio Bonilha, representa o primeiro de uma série de “ajustes” providenciados pela presidente Dilma Rousseff, para enfim tirar do papel o tão sonhado Plano Nacional de Banda Larga (PNBL).
O novo presidente substitui Rogério Santanna, desafeto das teles, que o acusavam de incentivar a concorrência direta com a Telebrás e não abrir espaço para a participação delas no PNBL.
Em entrevista à DINHEIRO, Caio Bonilha diz que a Telebrás vai cobrar mais barato no atacado para incentivar os pequenos provedores e com isso aumentar a concorrência e reduzir o preço médio do serviço em todo o País.
“Nosso papel é ser regulador de preço no atacado, forçando as outras empresas a oferecerem ao usuário final a velocidade mínima de um mega por R$ 35. Não importa quem seja o provedor dele”, afirmou na entrevista a seguir.
E o que muda com o senhor no comando da Telebrás?
Não muda muito. Primeiro, nós nos dedicamos a estruturar a área de engenharia, de estrutura. Agora é a vez de cuidarmos da área comercial e de operações.
A meta inicial do PNBL para este ano era ligar 1.163 municípios à banda larga, mas o primeiro contrato foi anunciado apenas em junho. Quais são as metas reais para 2011?
Até por questão orçamentária, tivemos que fazer uma readequação. Se não tivermos nenhum sobressalto, devemos atender por volta de 300 cidades este ano. E a partir de 2012, vamos atingir a meta de mais de mil cidades por ano, até completar as quatro mil previstas para 2014, por meio de acordos com redes estaduais. O prazo inicial foi revisto, mas a meta total será cumprida até 2014.
E como está a atual estrutura de rede à disposição da Telebrás?
Quando ficar pronta, nossa rede total terá 30 mil km de backbone (rede central). Queremos também trabalhar com provedores estaduais, para aumentar abrangência. Nosso backbone já está praticamente definido. Falta estabelecermos o backhaul, que é a ligação até o provedor.
E isso será concluído à medida que fecharmos os contratos com as empresas e a rede de governo. Já mapeamos as 250 primeiras cidades do Plano.
A intenção é ter uma empresa de internet para atender cada cidade?
Preços de pelo menos uma empresa para cada cidade, mas podemos fazer contrato com mais um provedor em cada lugar. Como regra, serão pequenos provedores, como o Sadnet, que foi a primeira empresa a assinar um contrato do PNBL com a Telebrás para oferecer internet banda larga, nesse caso a Santo Antônio do Descoberto, no entorno do Distrito Federal. A primeira rota de cidades do PNBL tem mais de 800 km, de Brasília a Itumbiara (GO), e deve ser ligada até o fim de junho.
A Telebrás tem orçamento suficiente para os investimentos do PNBL?
Para 2011, nosso orçamento aprovado é de R$ 350 milhões para as 250 cidades. Em todos os pregões eletrônicos que fizemos, obtivemos preços extremamente competitivos, para comprar os equipamentos que precisamos.
E onde entrarão os R$ 7 bilhões previstos pelo ministro Paulo Bernardo até 2014 para infraestrutura em rede de fibra óptica?
Esses investimentos são para um plano especial que temos de transformar a transmissão via rádio em fibra óptica.  A tecnologia de rádio disponibiliza uma capacidade limitada de 1 giga, no máximo. Com a fibra, a cobertura é praticamente infinita. Nós já temos previsão de atender até o fim do ano 100 cidades com fibra óptica, desde que tenhamos uma suplementação orçamentária. Para esse projeto, precisamos de investimentos públicos de R$ 1 bilhão por ano, que o ministro mencionou.
Que parcerias vêm sendo articuladas para garantir a parte que caberá às empresas privadas?
O ministro Paulo Bernardo tem enfatizado muito que a Telebrás tem que se abrir tanto para empresas públicas quanto para privadas. Nós estamos formatando bem este plano, pois também há interesse de estatais, que são grandes contratantes de serviços de telecomunicações. Elas entram como investidoras para complementar o nosso orçamento e se tornam grandes consumidores. Estamos falando inclusive com fundos de pensão.
A falta de banda larga é concentradas nas cidades menores?
Não só. As periferias das grandes cidades também são muito mal atendidas. Dentro do papel social da Telebrás, acesso à internet é cidadania. Nosso papel é permitir que na periferia das grandes cidades, que hoje é muito mal atendida em termos de internet, os usuários tenham preços adequados, de R$ 35 por um mega.
Acreditamos que cerca de 2 milhões de domicílios não tenham internet no Brasil, mas muitos deles têm poder de compra, tem computador em casa e poderiam pagar internet se o preço fosse mais acessível.
Por que as grandes empresas, então, não fisgaram ainda esse mercado?
Quanto às teles, prefiro não me manifestar, mas os pequenos sabemos porquê: os fornecedores deles também são seus concorrentes nas grandes cidades. As teles dizem que levar seus serviços à periferia não é viável para os seus planos de negócios. Elas preferem atuar onde há maior densidade demográfica.
Mas na periferia também tem. Estamos reduzindo o preço no atacado para que eles possam oferecer um preço competitivo aos seus clientes. Os pequenos provedores vão comprar uma banda larga de um mega da Telebrás a um preço abaixo de R$ 200, enquanto antes compravam por mais de R$ 500. Esperamos que, com um preço menor, venderemos mais.
E vocês têm interesse em entrar no mercado final, vendendo na ponta?
Não. Mas vamos estimular a criação de empresas onde não houver. É o caso de Águas de Lindas de Goiás, a 40 quilômetros de Brasília, onde vamos assinar contrato nas próximas semanas. Como lá não tinha provedor, fizermos contrato com uma empresa de outra cidade para que ela se instalasse lá.
Vocês estão chamando as teles para conversar?
Somos uma empresa comercial. Se eles tiverem interesse no nosso produto, o governo vai ficar extremamente feliz, porque esse é o objetivo do plano. Mas as portas estão abertas. A TIM e a Interlig se interessaram em participar do PNBL.
Então, qualquer empresa pode. É que estamos fazendo o trabalho de formiguinha com os pequenos provedores. Nosso foco é regional, é criar uma inteligência regional com empregos locais.
E essa ação de mercado gera concorrência?
Claro. O objetivo é gerar concorrência, gerar inteligência local para os pequenos provedores. Existe um estudo que mostra que os pequenos provedores empregam, hoje, direta ou indiretamente, 500 mil pessoas no país.
Acontece que, sem a Telebrás, quando a grande empresa chega na pequena cidade, o pequeno provedor, por não ter musculatura, acaba morrendo. Então o que estamos fazendo é dar a ele condição de competir de igual para igual.
Então, a estatal tem a estratégia de fortalecer as pequenas empresas ao invés de fazer acordos com uma tele?
Exatamente, essa é a estratégia. Mas se as grandes vierem aqui e disserem “nós queremos entrar no PNBL nas condições que a Telebrás está propondo”, vamos vender. A nossa proposta é incrementar banda larga no país com qualidade no menor prazo possível. Por enquanto, estamos buscando empresas locais.
E o preço de venda da Telebrás no atacado será igual em todo Brasil?
Vai ser igual no Brasil todo. Vamos praticar preço igual em todo o Brasil. Vamos vender um preço que varia de R$ 130 a R$ 180 por ponto (suficiente para dez usuários), dependendo da velocidade, que irá de 10 mega a 100 mega.
E com essa estratégia de fortalecer os pequenos, em quanto tempo o senhor acha que o preço médio cai?
Acreditamos que, em cada uma das regiões em que a Telebrás chegar, o preço geral vai baixar, esse é um dos nossos objetivos. Não vamos fazer o PNBL sozinho, mas nosso principal papel é ser regulador de preço no atacado, forçando as outras empresas a oferecerem ao usuário final a velocidade mínima de um mega por R$ 35. Não importa quem seja o provedor dele.
ISTOÉ DINHEIRO. Por Denize Bacocccina e Cristiano Zaia.




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