CESAR MAIA: “HONRA SER VEREADOR EM UMA CIDADE COMO O RIO DE JANEIRO.
Além de se lançar para vereador, Cesar critica capacidade política de Dilma, chama Arruda de psicopata e diz que considera Serra carta fora do baralho
CESAR MAIA
"A única coisa que me encanta hoje seria ser deputado no ParlaSul". Cesar Maia é o homem que por mais tempo ocupou o cargo de prefeito do Rio de Janeiro. No total, 12 anos. Nunca perdeu uma eleição na cidade. Em 2006, chegou a ser pré-candidato do DEM à Presidência da República, mas seu partido acabou apoiando Geraldo Alckmin (PSDB).
Cinco anos depois, ele cogita ser candidato a vereador e garante não achar o cargo pouco importante para quem já pleiteou a Presidência. “Deputado federal, deputado estadual honram. Vereador de uma cidade como o Rio também honra”.
Ele espera ter votação de prefeito. “Para ser um vereador ‘da cidade’, tenho de ter votação de candidato majoritário. Tantos votos quanto o segundo ou terceiro candidato a prefeito.”
César Maia recebeu ÉPOCA em seu escritório, em São Conrado, na terça-feira (9). Falou de tudo: eleições, Serra, Cabral, Aécio, DEM, Arruda e de si mesmo. Sobre as eleições para presidente no ano passado afirmou que “lançar Aécio (Neves, hoje senador pelo PSDB-MG) seria um risco e um desperdício”.
Questionado se José Serra é carta fora do baralho para 2014, disse ter “certeza que sim”. Afirmou que a campanha de Serra foi muito “fechadinha” e que, além do DEM, muita gente se sentiu desprestigiada. “O Sérgio Guerra também, o Aécio também, o FHC também. O Tasso também.”
Criticou também a presidente Dilma Rousseff e o governador do Rio, Sérgio Cabral. Considera que Dilma não possui qualificação política, só técnica, e que isso não é o principal. “Se não, se elegia presidente por concurso público.” Sobre a reputação política de Cabral: “Caiu junto com o helicóptero. Caiu do ponto de vista moral.”
Com relação ao PSD, partido fundado pelo prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab, com vários ex-filiados do DEM, ele afirma: “O PSD é a Arena (partido de apoio ao regime militar). No meio do caminho do partido, da direita para o centro, alguns disseram: quero continuar na Arena. Melhor assim”.
Considera José Roberto Arruda, ex-governador do Distrito Federal cassado após ter sido flagrado em vídeo recebendo propina, um “psicopata”. César Maia põe na conta de Arruda, que deixou o DEM no meio do escândalo em 2010, a perda de dez deputados federais do partido nas últimas eleições.
ÉPOCA – Passado quase um ano da eleição, o senhor acha que a oposição acertou em escolher José Serra, ou era hora de Aécio?
Cesar Maia – Passamos dessa fase. Em uma eleição com a situação excepcional que vivia o Lula, lançar o Aécio seria um risco e um desperdício. E o fato de Aécio ter sido um grande vencedor nessa eleição, elegendo senador e governador, fez que com ele crescesse no exercício do Senado. Assim, você preserva um quadro para 2014, que será inexoravelmente ele.
ÉPOCA – O senhor considera o Serra carta fora do baralho?
Maia – Tenho certeza que sim. Não que lhe faltem méritos ou capacidade, mas a capacidade eleitoral dele foi muito afetada. Embora tenha tido uma votação muito boa no segundo turno, o estilo de fazer essa campanha o afastou muito do partido e dos parceiros totalmente. Fez uma campanha muito fechadinha com mínimas consultas para o entorno. Na do (Geraldo) Alckmin (governador de São Paulo, pelo PSDB) as consultas eram permanentes, o conselho político se reunia. Serra foi vitorioso na campanha eleitoral e um derrotado do ponto de vista político.
ÉPOCA – O DEM de sentiu desprestigiado com essas “poucas consultas”?
Maia – O Sérgio Guerra (presidente do PSDB) também. O Aécio também. O FHC também. O Tasso (Jereissati, ex-senador) também. E o DEM certamente. Mas em 2014 ele terá um papel importante para apoiar um candidato vencedor.
ÉPOCA – Como o senhor avalia o Governo Dilma? O combate à corrupção tem sido mais efetivo?
Maia – Não. Tem sido feito pela Polícia Federal, pela imprensa. A Dilma vem se surpreendendo. O que não aconteceu no caso dos Transportes, quando passou a impressão de que o vazamento veio de dentro do Planalto para criar o afastamento do grupo do ministro. Mas se surpreendeu no caso da Agricultura, do Palocci (ex-ministro da Casa Civil), do Turismo.
A Dilma está mostrando aquilo que está escrito nos livros. Elegemos um Presidente da República principalmente pela sua qualificação política. Ótimo que ela tenha qualificação técnica, mas não pode prescindir da política. Se não, se elegia presidente por concurso público.
ÉPOCA – O prefeito e o governador do Rio continuam bem alinhados com o governo Federal. Qual sua opinião sobre as administrações do governador Cabral e do prefeito Eduardo Paes (PMDB)?
Maia – Não tem nada acontecendo que já não venha de um processo. Olimpíadas vêm dos Jogos Panamericanos. O Nuzman (Carlos Arthur Nuzman, presidente do COB) mesmo disse que devemos ao Pan. Temos que ver como se resolve o problema dos três juntos. Politicamente, o Cabral caiu junto com o helicóptero. Caiu do ponto de vista moral.
Ele foi muito forte em 2008, a ponto de tirar o Eduardo de um partido do qual ele era secretário nacional (PSDB), trazer e eleger, mas não será um forte no ano que vem. Nem sei se vão querer pôr a cara dele na TV. Ele vem salpicado por Corpo de Bombeiros, magistério e escândalos.
Já o Eduardo comete alguns erros, que vão ser fatais. Primeiro, perseguir servidor público. Lacerda diria que serviço público não elege ninguém, mas derrota. Segundo, a repressão pela repressão.
Ordem é necessário, mas repressão por repressão chamando a imprensa para cobrir é percebido como humilhação. E a terceira questão é a privatização da educação e da saúde. Quando você privatiza esses dois é fatal, pois é nessas áreas que se tem contato direto com o público. A rejeição das pessoas que trabalham nesses setores, mais os que ouvem eles comentarem sobre isso, pode levá-lo à derrota.
ÉPOCA – E o interesse em se candidatar a vereador?
Maia – Eu acho que os políticos devem tomar muito cuidado quando querem se eternizar em cargos públicos. O (José) Sarney (PMDB-AP) podia estar dando enorme contribuição. Poderia ser mais um senador. Para que ser presidente do Senado? O cara foi presidente, deputado, governador... Para que a insistência na eternidade? 67 anos candidato a prefeito, assumindo quase com 68. Calma aí. Mas eu sou político. Pensei: como participar da política em uma cidade onde ganhei todas as eleições? Por que não o Poder Legislativo?
Deputado federal, estadual honra. Vereador também honra. Vereador de uma cidade como o Rio tem um poder enorme. Posso colaborar muito. As Olimpíadas, por exemplo, estão a zero. Outra questão é a defesa da cidade contra a especulação imobiliária, irmã siamesa da favelização, que foi uma das marcas do meu governo.
O prefeito precisa de fiscalização. Ele pode saber de alguma coisa, mas tenho certeza de que não sabe de tudo. Vou ser um vereador da cidade do Rio de Janeiro e para isso eu preciso ter uma votação que corresponda a um candidato majoritário. Tantos votos quanto o segundo ou terceiro candidato a prefeito.
ÉPOCA – Eleito vereador, na prática, o senhor não ficaria só dois anos? Em 2014 não se candidataria a deputado, senador?
Maia – A única coisa que me encanta hoje seria ser deputado no ParlaSul (Parlamento do Mercosul, Câmara Legislativa formada por membros de Brasil, Argentina, Paraguai, Uruguai e Venezuela). Eu conheço todos os países da América Latina. Não estou falando só de Chile e Argentina.
Falo de Honduras, Bolívia, Guatemala. Conheço a história de todos eles. É minha paixão. Leio todos os dias o Clarín e o La Nación. Mas como essa eleição deve ser só em 2014, quando perde importância, devido às várias eleições, vou me fixar na questão de vereador.
ÉPOCA – O senhor foi, em 2006, candidato natural do partido à Presidência da República. O senhor não acha que sair como candidato a vereador é sinal de derrocada para o DEM?
Maia – Acho que não. O (Eduardo) Suplicy (senador pelo PT-SP) foi candidato a vereador. Na Europa pode-se até acumular cargos na política local com outros. Mas acho que o partido está bem servido nessa mudança de geração que fez.
ÉPOCA – A falta de grandes quadros é um problema.
Maia – Quais são os grandes quadros do PT? Você não tem estrelas parlamentares na política brasileira.
ÉPOCA – E o Aécio, mencionado pelo senhor?
Maia – Está bem. O Aécio no Senado. Você não pensa em outro parlamentar que pudesse pretender ser presidente. Mas o (Jorge) Bornhausen(ex-presidente do DEM) fez um belo trabalho no partido e deu tanto resultado que ele acabou saindo. Em articulação com o PP da Espanha puxamos o partido da direita para o centro.
ÉPOCA – Direita virou palavrão no Brasil?
Maia – O eleitor não acha isso. A classe política e os meios de comunicação acham. Quando você pergunta para a população, tem mais gente que diz que o Lula é de direita do que de esquerda. Pesquisas de três anos atrás. Para o eleitor não faz muita diferença.
Prefiro a expressão conservador. Corresponde muito mais ao que é o DEM. Proposta liberal no Brasil tira voto, é perdedora. De certa maneira, no mundo todo. O partido tem três grandes quadros hoje na Câmara: ACM Neto, Ronaldo Caiado e Rodrigo Maia (filho do entrevistado). E um nome no Senado até para a Presidência da República: Demóstenes Torres.
ÉPOCA – Como o senhor enxergou a saída de Gilberto Kassab do partido e a formação do PSD?
Maia – É engraçado, né? Eu entrei no partido em 1995 para trazer o DEM da direita para o centro. Esse processo foi concluído em 2004. Mas esse caminho ao centro foi gerando ansiedade nos políticos que precisam caminhar com o poder. E o golpe final foi empreiteiro se associando ao Lula. Houve um curto circuito. Como eles vão fazer para continuar em um DEM que caminha para o centro e não tem mais essa representação? Muda. Vai para a base do governo.
As saídas do (Jorge) Bornhausen (ex-presidente do DEM) e do Gilberto Kassab foram orgânicas. Mas eles saíram no caminho certo. O PSD é a Arena. No meio do caminho alguns disseram: quero continuar na Arena. Melhor assim.
ÉPOCA – O que o senhor acha que foi mais impactante para o partido: o grande racha que originou o PSD ou o caso Arruda?
Maia – Não há comparação. O racha foi orgânico. Um terço do partido diz que quer ficar como Arena. Ter 40 deputados ou ter 30, que diferença faz? O Arruda, sim. Eu tive poucos contatos com ele. Não entendo bem até hoje. Eu sabia que ele era considerado por especialistas o governador mais rápido para realizar mudanças.
Ele ganha uma popularidade gigantesca. Uma vez eu disse: para mim é um psicopata. Aí o José Agripino (líder do DEM no Senado) disse que jantou na casa de não sei de quem, que é casada com um psicanalista, e disse que aquilo é olhar de psicopata. Como ele vai deixar um maleteiro vagabundo do (Joaquim) Roriz (ex-governador do Distrito Federal) na sala do lado dele?
Ele sabia de todas as falcatruas do cara do lado. Você já viu um político de elite recebendo um pacote de dinheiro? Isso não existe. Como pode um homem que tinha a popularidade que ele tinha, com essa inteligência, capacidade de administração, fazer isso? Doença. Psicopata. A nossa queda de dez deputados devemos ao Arruda .
Revista ÉPOCA online. Leopoldo Mateus

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