Testada em humanos, vacina aumentou produção de células que combatem o vírus HIV. Se for bem sucedida, será mais uma arma no tratamento da doença.
Modelo tridimensional do vírus da aids: vacina, aliada aos remédios atuais, poderá controlar a doença (Centro Nacional de Biotecnología (CSIC) / Comunicación CSIC).
A aids nunca esteve tão próxima de seu fim como doença letal. O Conselho Superior de Pesquisa Científica da Espanha (CSIC, na sigla em espanhol) anunciou nesta quarta-feira uma vacina capaz de provocar uma resposta imunológica contra o vírus HIV em 90% dos casos.
A pesquisa, que já está na fase clínica, sendo testada em humanos, mostrou que, mesmo um ano após receber a vacina, 85% dos voluntários ainda mantinham a imunidade.
"Se tudo der certo, o HIV representará, no futuro, o que o vírus da herpes representa hoje: uma infecção menor que só atinge pessoas com o sistema imunológico debilitado”, afirmou nesta quarta-feira o pesquisador Mariano Esteban, do Centro Nacional de Biotecnologia da Espanha, vinculado ao CSIC, responsável pelo desenvolvimento da vacina.
Centro Nacional de Biotecnología (CSIC) / Comunicación CSIC.  Mariano Esteban, pesquisador do Centro Nacional de Biotecnologia da Espanha e responsável pelo desenvolvimento da vacina.
A pesquisa, publicada nos periódicos Vaccine e no Journal of Virology, além de eficaz, se mostrou perfeitamente segura. Por isso, será administrada, em sua fase 2 de testes clínicos, em voluntários já infectados pelo vírus, como forma de determinar sua eficácia não apenas na prevenção, mas também no tratamento da doença.
"Já provamos que a vacina pode ser preventiva. Em outubro, vacinaremos pessoas infectadas com HIV", disse Felipe García, do Hospital Clínic de Barcelona, que participou dos testes com os voluntários.
Como funciona
Quando administrada em voluntários saudáveis, a vacina faz com que o sistema imunológico detecte e aprenda a combater componentes do vírus. "É como mostrar uma fotografia do vírus HIV ao sistema imunológico para que ele possa reconhecê-lo quando o vir novamente no futuro", disse Mariano Esteban.
As principais células de defesa do organismo são os linfócitos T e B. As células B são responsáveis pela chamada imunidade humoral, que ataca as partículas de HIV antes que elas infectem as células. As células de defesa T induzem a imunidade celular, que detecta e destrói as células já infectadas.
A vacina funciona estimulando a produção dessas células. Testes feitos nos 24 voluntários que participaram da pesquisa, um ano depois de receber a vacina, mostraram que a produção de ambos os tipos de células de defesa aumentou em até mais de 70%, enquanto no grupo controle (seis voluntários que não tomaram a vacina) não houve aumento.
Opinião do especialista:
Ricardo Shobbie Diaz infectologista da Unifesp
"É mais provável mesmo que a vacina seja usada como tratamento e não como medida profilática. Mas ela é extremamente promissora, principalmente se for usada em combinação com os remédios atuais, que reduzem a carga viral dos pacientes."
Memória
Para que a vacina seja realmente eficaz, é preciso que ela produza linfócitos especiais com "memória", formados após o primeiro ataque do vírus. Elas ficam no corpo por anos, à espreita de uma nova investida do vírus.
Novamente, testes feitos um ano após a aplicação da vacina mostraram que, em 85% dos voluntários, 50% das células de defesa eram linfócitos T com memória.
No entanto, segundo Esteban, a vacina não é capaz de eliminar totalmente o vírus HIV do organismo. "Mas a imunidade celular que a vacina produz faz com que o vírus fique sob controle", diz o pesquisador espanhol. "Se o vírus tentar entrar na célula, o sistema imunológico desativará o vírus e destruirá a célula infectada."
Até agora, a única vacina contra o HIV que chegou à terceira fase de testes clínicos foi feita na Tailândia. As duas primeiras fases testam a toxicidade do composto e sua eficácia, enquanto a terceira e a quarta examinam a posologia do remédio. Como gerou uma defesa de apenas 27%, não pôde ser utilizada na população.
(Com Agência EFE)
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