Foto: Execução de juíza e seguranças, bueiros a explodir, mas o Rio não atravessa crise, diz Cabral.
Sérgio Cabral, o governador do Rio de Janeiro, nega que sua cidade esteja atravessando uma crise. Imaginem se estivesse. Cabral desvia os ataques para temas como o aumento de investimentos e a redução da criminalidade.
Mas não sejamos ingênuos: a cidade do Cristo Redentor, com seus bueiros a explodir, está mergulhada numa crise brava. Crise – é importante repetir o termo “crise” – que afeta Cabral como governador, e até sua família. Na quinta-feira 29, o segurança da mãe do governador, Magaly Cabral, foi assassinado a tiros.
A senhora Cabral não estava presente no momento do assalto, mas o cabo da PM Leonardo Gonçalves de Matos estava de plantão. Gonçalves de Matos levou seis tiros ao reagir.
Cabral também parece preferir falar em como foi realizada a nomeação do coronel Erir Ribeiro da Costa Filho ao comando-geral da PM do que abordar o grave motivo a levar o coronel Mário Sérgio Duarte a se demitir.
A “excelente” nomeação, disse Cabral, foi feita pelo secretário de Segurança, José Mariano Beltrame.
Mas voltemos a Duarte – e à sua demissão. Foi ele quem nomeou o tenente-coronel Cláudio Luiz da Silva de Oliveira para o comando do 7º BPM, em São Gonçalo. Da Silva de Oliveira é acusado de ter sido o responsável pela execução da juíza Patrícia Acioly.
A situação do tenente-coronel piorou no final da semana. Um segundo cabo da PM, também ele preso por ter participado da morte da juíza Acioly, disse que o tenente-coronel Cláudio foi o mentor do plano para assassinar a magistrada.
Ainda segundo o cabo, os policiais militares pretendiam eliminar também um inspetor da Polícia Civil.
A aparente imunidade de Cabral à crise no Rio pode, neste país onde prima a violência, ser facilmente explicada. Em primeiro lugar, ele é governador e tem de minimizar as turbulências na sua cidade.
Em segundo lugar, o governador se comporta como numerosos brasileiros. Diante da violência acabam se acostumando, como vítimas ou ouvintes, das mais inauditas tragédias. É difícil, afinal, encontrar alguém neste país sem histórias para contar de assaltos, sequestros, e assassinatos.
O governador do Rio também tem suas histórias. Em abril de 2007, o segurança de seus filhos foi vítima de assalto, mas continua vivo. Ainda naquele ano, um policial a trabalhar para o secretário de Segurança Beltrame foi morto. Assim como o segurança da mãe do governador, o de Beltrame reagiu a um atentado e foi morto a balas: 30 tiros.
Nesse quadro negro, o governador Cabral nos garante que não há crise no Rio.
Gianni Carta

Gianni Carta é editor do site de CartaCapital. É jornalista e cientista político formado pela Universidade da Califórnia e mestre em relações internacionais pela Universidade de Boston. Foi correspondente da CartaCapital na Europa durante 17 anos. Em seus mais de 20 anos no exterior, também foi correspondente da Isto É, Diário do Grande ABC, repórter especial da BBC World Service, da rede de tevê norte-americana CBS e do semanário GQ (Europa). Contribuiu para, entre outros, The Guardian e Radio Five Live. Seu último livro é "Às Margens do Sena" (com Reali Jr., Ediouro, 2007).
CARTACAPITAL. Gianni Carta. Shana Reis/Governo do Estado do Rio de RJ


Um comentário:

  1. Não devemos culpar totalmente nosso governador. Se a violência aumenta, a culpa também é da sociedade. Cabral esta tentando fazer o melhor por nossa sociedade!

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