Ministro da Fazenda atropela pastas que não são suas, tenta influenciar a política industrial, palpita na política cambial e pressiona o Banco Central a estimular o crescimento em detrimento do controle da inflação.
1 Desde que as montadoras asiáticas, como Hyundai, Kia e JAC, começaram a ganhar corpo no mercado nacional, o governo tem buscado saídas para melhorar a competitividade daquelas já instaladas no país. Em vez de reduzir os impostos dos carros fabricados no Brasil, o ministro Guido Mantega armou um plano incompreensível: anunciou um aumento de 30 pontos percentuais no Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) dos automóveis importados.
A medida conseguiu ser rechaçada por todas as esferas da indústria - com exceção das montadoras já instaladas no país, que foram beneficiadas. Contudo, a impopularidade da medida e a ameaça das montadoras asiáticas de não instalar fábricas em território nacional fez com que Mantega retrocedesse.
2 Entre o final de 2010 e todo o primeiro semestre de 2011, o ministro Mantega utilizou o Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) como estepe para gerar arrecadação. O objetivo oficial dos múltiplos aumentos era tributar ganhos de investidores estrangeiros que aplicavam em títulos brasileiros de curto prazo. Na avaliação do ministro, a ação de especuladores causava a queda do dólar frente ao real.
Mantega também viu ameaça nos gastos dos brasileiros em viagens e aumentou a tributação sobre compras com cartão de crédito no exterior. A conta final dos aumentos: o governo arrecadou 13% a mais com o IOF este ano. Quanto às despesas internacionais com cartões de crédito, elas atingiram seu em 2011, somando 10,6 bilhões de dólares somente até novembro.
3 Ao longo de todo o ano de 2011, o titular da Fazenda afirmou que a inflação estava sob controle e que iniciava uma trajetória de queda. Apesar de não estar no arcabouço da Fazenda o controle inflacionário, o tema foi mais abordado pelo ministro do que por Alexandre Tombini, presidente do Banco Central. A queda, no entanto, ainda não aconteceu. 
Considerando o IPCA-15, último indicador de inflação disponível, o avanço acumulado até novembro de 2011 é de 5,96% - bem acima do centro da meta do BC, que é de 4,5%. Em 12 meses, a alta é de 6,69%, acima do teto da meta, de 6,5%. No mesmo período de 2010, a inflação acumulada era de 5,07%, enquanto o número em 12 meses alcançava 5,47%.
4 Durante o governo do ex-presidente Lula, as farpas entre Guido Mantega e o então presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, eram célebres. As tentativas de interferência da Fazenda nos rumos da política monetária geravam atritos que tinham de ser resolvidos, em muitas ocasiões, com panos quentes do próprio Lula. Atualmente, Fazenda e BC já não brigam tanto.
Mais que isso: são parceiros na tarefa de oferecer ferramentas para conter a desaceleração econômica. Tal trabalho em conjunto seria bem-vindo se o BC não estivesse deixando de cumprir seu papel (de controlar a inflação) para ser um dos braços de estímulo ao crescimento do Ministério da Fazenda.
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