O QUE REVELAM NOSSOS CÉREBROS
Estudos populacionais sobre a demência na população norte-americana têm mostrado uma incidência maior de doença de Alzheimer (DA) nos descendentes africanos que nos caucasianos. Entretanto, é importante lembrar que o diagnóstico de DA só é confirmado definitivamente com análise do tecido cerebral “pos mortem”, isto é, obtido em autópsias.
Para averiguar o que ocorria na nossa população foi feita uma pesquisa em um banco de cérebros, da Faculdade de Medicina da USP. O estudo – coordenado pelo Centro do Genoma da USP – cujos primeiros autores são o Dr. David Schlesinger e Dra. Lea Grinberg, envolveu cientistas de vários centros e acaba de ser publicado na prestigiosa revista Molecular Psychiatry (8 Novembro de 2011). Os achados são surpreendentes.
É possível retardar o envelhecimento?
Não se trata de novas poções mágicas ou cremes milagrosos. Apesar de muitas pesquisas que já foram feitas sobre o envelhecimento os mecanismos que podem retardá-lo são ainda muito pouco conhecidos.
Pesquisas em famílias de centenários ou o projeto oitenta-mais onde tentamos identificar genes de longevidade ou fatores responsáveis por um envelhecimento saudável poderão mostrar novos caminhos.
Nessa pesquisa os autores mostram – em camundongos transgênicos afetados por progeria (a síndrome do envelhecimento precoce) que células senescentes têm um efeito adverso e contaminam as células vizinhas ainda saudáveis. Segundo Darren Baker – que é o primeiro autor dessa publicação – a remoção dessas células poderia prevenir ou retardar a disfunção do tecido e estender a expectativa de vida.
Como foi feito o experimento?
Para desenhar o experimento, os autores valeram-se de uma informação importante – a de que células senescentes produzem uma proteína chamada P16INK4A. Normalmente as nossas células têm um número de divisões programadas – em seres humanos ao redor de 60 vezes – e depois entram em processo de senescencia ou apoptose ( morte celular programada).
Acredita-se que a proteína P16INK4A faria parte do mecanismo que controla o número de divisões das nossas células o que é fundamental também para prevenir o crescimento de tumores. Para testar sua hipótese, os pesquisadores utilizaram um camundongo transgênico que tem uma condição chamada progeria – que embora rara, afeta também seres humanos- na qual há um envelhecimento muito acelerado e várias características associadas a velhice tais como catarata, perda de tecido adiposo, comprometimento cardíaco, dificuldades na cicatrização e morte prematura.
Através de uma técnica de engenharia genética os cientistas introduziram um gene nesses camundongos que causa a remoção das células senescentes- produtoras dessa proteína P16INK4A – quando administra-se uma droga específica (AP20187).
Qual foi o próximo passo?
Os cientistas então administraram a droga (a cada três dias após o nascimento) aos camundongos com progeria e observaram o que acontecia em comparação com um grupo controle que não recebia a droga.
Os resultados foram espetaculares. Os animais que receberam a droga – e que deveriam, portanto, eliminar as células senescentes – perderam menos tecido adiposo, mantiveram a musculatura e não apresentaram catarata. Entretanto, nos tecidos que não produzem a proteína P16INK4A como o coração e os vasos sanguíneos a droga não teve efeito.
Por isso, não foi possível aumentar a expectativa de vida já que a morte desses animais é causada por parada cardíaca. Além disso, segundo o Dr. Baker, houve algum benefício mesmo quando a droga foi administrada a animais mais velhos.
Por enquanto só em camundongos
A pesquisa mostrou também que não houve efeitos colaterais evidentes após remoção das células senescentes. A observação de que a remoção ou a inibição de células senescentes protege o tecido circundante abre novas perspectivas para retardar o envelhecimento ou talvez o tratamento de doenças degenerativas – que podem ser muito promissoras.
Mas é importante deixar claro que por enquanto esses resultados foram observados em camundongos – e afetados por progeria- e portanto não sabemos ainda se são aplicáveis a seres humanos.
Revista VEJA online. Por Mayana Zatz
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