FÓSSEIS DE 50 MILHÕES DE ANOS AJUDAM A ENTENDER A EVOLUÇÃO DA AUDIÇÃO NOS INSETOS.
Insetos desenvolveram ouvidos antes do surgimento dos morcegos, segundo uma nova pesquisa, e não em resposta à perseguição dos mamíferos voadores.
Fóssil de inseto de 50 milhões de anos excepcionalmente preservado: animais já escutavam bem antes do surgimento dos morcegos.
O sonar dos morcegos é um dos sistemas de navegação mais sofisticados entre os seres vivos. Durante o voo, o animal emite sons em frequências ultrassônicas — inaudíveis para a grande maioria das espécies, inclusive humanos — e escuta o eco. Com isso, sabe exatamente onde estão obstáculos e também pequenas presas, como insetos, tamanha a precisão do instrumento. Mas os insetos que servem de comida para os morcegos também não ficaram parados em termos de evolução.
Os cientistas sempre acreditaram que os insetos desenvolveram a audição para escapar desse poderoso predador, mas novas evidências indicam que os ouvidos já estavam presentes antes do aparecimento dos mamíferos voadores. Na verdade, afirmam os cientistas, os ouvidos dos insetos apenas se adaptaram depois do surgimento dos morcegos.
Resultado:
Insetos como grilos e gafanhotos já tinha um ouvido bem desenvolvido e parecido com o moderno há 50 milhões de anos. Acreditava-se que a audição desses animais havia se desenvolvido principalmente após o aparecimento de predadores como os morcegos, mas a pesquisa sugere que isso aconteceu bem antes.
Uma das características bizarras dos insetos é o posicionamento dos ouvidos: ficam em diversas partes do corpo, como nas asas e no abdome. Nos grilos e gafanhotos, estão nas patas dianteiras, logo abaixo dos joelhos. E foram os ancestrais desses animais que deixaram pistas segundo as quais, ao contrário do que se pensava, ouviam bem antes da chegada dos morcegos.
Em sítios arqueológicos na Formação Green River, camada de rochas que se espalha pelos estados americanos de Wyoming, Utah e Colorado, estão alguns dos fósseis de insetos mais antigos e bem preservados já encontrados, com 50 milhões de anos. "Você pode ver cada pequeno detalhe dos fósseis, de pequenas veias nas asas até pelos nas pernas", conta Dena Smith, pesquisadora da Universidade do Colorado.
Entre esses detalhes, estão os ouvidos dos grilos e gafanhotos pré-históricos. "É possível identificá-los a olho nu. São do tamanho do buraco de uma agulha", explica Roy Plotnick, da Universidade de Ilinois, também nos EUA.
Nos grilos e gafanhotos modernos, o ouvido é uma cavidade oval com uma membrana esticada, que vibra em resposta a ondas sonoras, quase igual ao nosso tímpano. Os ouvidos dos fósseis são praticamente idênticos em tamanho, forma e posição; portanto já existiam antes e não mudaram muito ao longo dos milênios seguintes.
E as evidências fósseis da presença de morcegos datam aproximadamente da mesma idade dos fósseis americanos de insetos: 50 milhões de anos. Não se sabe, porém, qual a idade exata desses mamíferos, porque seus esqueletos são muito frágeis e difíceis de serem fossilizados. "As habilidades de escutar frequências ultrassônicas podem ter aparecido depois do aparecimento dos morcegos", afirma Dena Smith.
"O próximo passo é olhar os ouvidos de outros grupos de insetos", completa Dena . Isso porque esses animais desenvolveram a audição de maneira independente ao menos 17 vezes em outras linhagens.
O objetivo da pesquisa e descobrir qual foi o papel dos predadores nessa adaptação e entender melhor as razões que levam à evolução das espécies.
Revista VEJA online. (Dena Smith)
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