O Interior paulista vive revolução com tablets. Os investimentos somam R$ 500 milhões. Funcionários da Foxconn, empresa taiwanesa, que lançará o I Pad nacional no início do ano que vem, durante troca de turno em frente a unidade Jundiaí.
JUNDIAÍ e CAMPINAS (SP) - Chamada por publicações internacionais especializadas como a versão brasileira do Vale do Silício, o polo californiano da indústria de tecnologia dos Estados Unidos, a região que abriga as cidades de Jundiaí e Campinas, no interior paulista, está se transformando no principal centro de produção de tablets no país.
Pelo menos quatro empresas do setor de tecnologia com fábricas instaladas nessas duas cidades já produzem suas versões nacionais da cobiçada prancheta eletrônica inventada por Steve Jobs. Outras quatro fabricantes, entre elas a taiwanesa Foxconn, licenciada da Apple, aguardam autorizações do governo para iniciar a produção dos aparelhos.
A corrida dos fabricantes de tablets já causa uma revolução na economia da região. Os investimentos nas novas linhas de produção já superam os R$ 500 milhões, que devem gerar mais de seis mil novos postos de trabalho. A Foxconn está desembolsando R$ 300 milhões nas suas unidades de iPad e iPhone, e a brasileira Itautec investiu R$ 50,5 milhões, somente no período de janeiro a setembro do ano passado, no desenvolvimento de produtos na sua fábrica local.
Com as vantagens da proximidade da capital paulista e da infraestrutura privilegiada — aeroportos e rodovias modernos —, os dois municípios atraem investimentos de empresas de alta tecnologia há anos. Envision (que no Brasil utiliza a marca AOC), Motorola, Samsung, Itautec e Sanmina-SCI montavam computadores e celulares em fábricas locais e já estão operando novas linhas para a fabricação de tablets.
Mas os benefícios fiscais do governo, para que os preços das pranchetas eletrônicas feitas aqui tenham preços acessíveis a um grande número de consumidores, já atraiu dez grandes empresas para a região, de um total de 28 que se candidataram aos incentivos.
A desoneração do setor, que entrou em vigor em outubro do ano passado, zerou a alíquota de PIS e Cofins, antes em 9,25%, e enquadrou as fabricantes no Processo Produtivo Básico (PPB). Com isso, o Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) cobrado dos fabricantes de tablets despencou de 15% para 3%, enquanto o Imposto sobre a Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS), cobrado em São Paulo, diminuiu de 18% para 7%.
A Foxconn, que está montando em Jundiaí a primeira linha de fabricação do iPad da Apple fora da Ásia, deverá começar a produção já no primeiro trimestre deste ano. Anunciado com alarde em abril, durante a visita da presidente Dilma Rousseff à China, o projeto da Foxconn ainda depende de autorizações do governo.
Gargalos e novo parque tecnológico
Informações colhidas junto aos funcionários da empresa na nova fábrica, no entanto, dão conta de que os primeiros tablets com a marca da maçã devem chegar ao mercado no fim de março. A empresa, porém, mantém silêncio sobre o lançamento da versão verde-amarela do iPad.
Mas a grande movimentação dessas empresas na região começa a revelar gargalos, e as prefeituras de Campinas e Jundiaí admitem a necessidade de fortes investimentos para minimizar a carência de mão de obra especializada exigida para a fabricação desse tipo de equipamento.
Somente para a Foxconn, segundo informações da Prefeitura de Jundiaí, serão necessários cerca de quatro mil funcionários para a primeira fase do projeto, que inclui a produção de iPhones e do iPad. Até o mês passado, a empresa havia contratado 1.400 funcionários, e está prevista a abertura de mais três a quatro mil vagas.
A perspectiva de transformar a cidade na "capital dos tablets" fez o prefeito de Jundiaí, Miguel Haddad (PSDB), correr para criar um parque tecnológico com incentivos fiscais. Por sua localização, Jundiaí já é um polo de grandes empresas dos setores de alimentação, bebidas e logística. Mas os crescentes novos investimentos das empresas de tecnologia devem colocar o setor entre as principais fontes de arrecadação do município.
— A tecnologia avança rapidamente, mais do que outros ramos de atividade. Por isso, estamos criando o polo (tecnológico) para estender os benefícios para outras empresas. A visibilidade delas põe a cidade em evidência. O que nos interessa é dar emprego e melhorar a nossa receita — diz Haddad, que é primo do ministro da Educação, o petista Fernando Haddad.
De acordo com o IBGE, o Produto Interno Bruto (PIB, conjunto de bens e serviços produzidos) de Jundiaí somava R$ 16,48 bilhões em 2009 (último dado disponível), o que colocava a cidade na nona posição entre os municípios mais ricos do estado e em 23 lugar no país. Com PIB de R$ 31,6 bilhões, Campinas é a terceira maior economia paulista e a 11 maior do país.
Em Campinas, aliás, onde a política de atração de empresas do setor eletroeletrônico teve início anos atrás, já existem dois complexos da Companhia de Desenvolvimento do Polo de Alta Tecnologia, criados em torno do campus da Universidade de Campinas (Unicamp). A cidade, aliás, é referência no estado e concentra o maior número de centros de pesquisa e desenvolvimento (P&D) do país, ao lado de São Paulo.
— Além da logística, das faculdades, dos centros de pesquisas, Campinas possui uma mão de obra passível de treinamento para trabalhar com produtos de alta tecnologia. Isso deu uma assinatura para a região que hoje é focada em eletroeletrônica, a base da alta tecnologia — afirma Roberto Sobol, diretor de Produto da Samsung, que desde novembro produz três modelos de tablets em sua fábrica de Campinas.
Ainda pouco conhecida do público, a Envision, dona da marca AOC e maior fabricante de monitores do mundo, também começou a montar o seu modelo de tablet em Jundiaí. Com 14 anos no Brasil e fábricas em Manaus (AM) e Jundiaí, a empresa asiática quer ocupar um nicho intermediário no mercado de tablets brasileiro.
Por enquanto, a produção local de tablets é complementada com o mesmo modelo importado, mas em 2012 a ideia é acelerar a produção. A empresa também quer começar a produzir as telas multitoque no Brasil.
— Se o volume crescer (de tablets), a produção das telas passa para a nossa alça de mira — disse Elcio Hardt, gerente de Produtos da Envision.
Em princípio, a pujança do mercado interno é o que tem impulsionado os investimentos nas duas cidades — nenhum dos novos projetos contempla exportações. Segundo especialistas, as vendas de tablets no país devem chegar a 1,3 milhão de unidades este ano, o dobro do que foi comercializado em 2011.
Jornal O GLOBO online. COLABOROU Paulo Justus. Lino Rodrigues. leonardo soares / Agência O Globo
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