Antes de mandar algo para o lixo pergunte-se se este é mesmo o destino mais lógico.
Quem trabalha com alimentos, como eu, sabe a dor do desperdício. O que já foi processado e sobrou ou vai para a minha mesa ou para a de amigos, e até mesmo aproveito na comidinha de meus cães. Até aí é fácil. Difícil é quando a pena passa para os talos de couve, cascas de legumes e frutas.
Por três horas fiquei chocando os talos de 15 maços de couves fresquinhas. Suas folhas picadas foram passadas no açúcar com sal e estavam prontas para o consumo. E os talos verdinhos, vivos, cheios de proteínas, prestes a irem para a panela. Não tive coragem de mandá-los para o lixo.
Piquei uma boa parte e passei mais uma vez na água. Esquentei duas colheres de azeite e ali refoguei meia cebola picada e os talos salvos de um final menos feliz.
Fritei o arroz e temperei com meia xícara de leite de coco. Sal e água quente. Depois de 15 minutos em fogo baixo e panela quase totalmente tampada estavam todos ao dente. Salpiquei pimenta-do-reino branca e noz-moscada em pó. Sensacional. Ficou divino e fez um par perfeito com um filezinho de frango temperado com limão.
As folhas e os talos maiores dos brócolis viraram sopa. Fresquinhos, e de cor muito viva, foram fervidos com cebolas, alho poró, um tomate e uma cenoura. Folhas de louro e sal. Batidos com meio copo de requeijão sem gordura os talos que virariam lixo orgânico renderam uma sopa leve e oxidante.
Outra dica excepcional 
Veio do amigo Chico Lellis. Em um papo animado a respeito de reaproveitamento de alimentos, ele tirou do fundo do baú uma recordação gastronômica de sua infância. Contou Lellis: "Minha avó assava as cascas da batata. É só salgar e colocar no forno até ficarem crocantes". Deu água na boca e minha curiosidade foi aguçada. Será, sem dúvida, uma experiência a ser feita na próxima vez que acender meu fogão a lenha.
De olho nas cacas do chuchu 
Que viraria um suflê para o almoço, a Maria, minha companheira há 16 anos nas tarefas da casa, foi logo avisando não ter problema nenhum em ingerir a capa da leguminosa. E não mesmo: ela fez um delicioso creme de chuchu com elas.
Acho que o problema não está nos alimentos, e sim em nossa mania de achar que tudo é resto ou não ser tão bom quanto o miolo. E assim podemos perder novos e curiosos sabores.
Antes de mandar algo para o lixo pergunte-se se este é mesmo o destino mais lógico para estas fontes não menos ricas de nutrientes.
Site MSN. FERNANDA CANTO

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