Pesquisa americana descobre que a diversidade genética em uma colônia, resultante do grande número de companheiros de abelhas rainhas, melhora a saúde e a produtividade dos insetos.
Cientistas da faculdade Wellesley College, em Massachusetts, Estados Unidos, observaram que a promiscuidade de abelhas rainhas pode ser a chave da saúde de suas colônias. Os pesquisadores descobriram que esse tipo de comportamento por parte das fêmeas férteis de espécies domesticadas para a produção de mel dá origem a uma população geneticamente diversificada de abelhas operárias, e esta diversidade, por sua vez, é capaz de melhorar significativamente a resistência do grupo.
A pesquisa, publicada na revista PLoS ONE, pode fornecer pistas de como impedir que as populações desse animal continuem a diminuir.
O desaparecimento dramático de colônias de abelhas nos últimos anos tem intrigado os pesquisadores. De acordo com o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos, um fenômeno conhecido como Colony colapse disorder (CCD) é responsável pela dimuinição da população de abelhas do país desde 2007 - pelo menos 30%.
A queda contínua do número de colônias pode causar efeitos devastadores, uma vez que as abelhas contribuem, direta ou indiretamente, para a polinização de diversos produtos agrícolas.
ABELHA RAINHA
A abelha adulta e fértil de uma colônia é denominada de abelha rainha, sendo normalmente a mãe de todas as outras abelhas da colmeia, as abelhas operárias, que são estéreis. A rainha alimenta-se unicamente de geleia real, produto rico em proteínas, vitaminas e hormônios sexuais. A função das rainhas é a de por ovos e manter a ordem na colônia.
Assim, os pesquisadores observaram que um nível elevado de diversidade genética dentro de uma colônia, que ocorre quando uma abelha rainha possui um grande número de companheiros, melhora a saúde e a produtividade de uma colônia. Para entender tal efeito, a equipe comparou dois grupos de colônias de abelhas.
O primeiro era composto por populações geneticamente diversas, em que abelhas rainhas haviam acasalado com cerca de 15 zangões - os machos da abelha. Já o segundo grupo era geneticamente uniforme, contendo apenas descendentes de rainhas acasaladas com um único zangão.
Usando uma técnica avançada de sequenciamento de genes, os cientistas foram capazes de identificar e comparar as bactérias presentes nas duas colônias. Eles descobriram que o grupo diversificado apresentou uma variedade maior de espécies de bactérias ativas – um total de 1.105 espécies, enquanto apenas 781 espécies foram encontradas no grupo mais uniforme.
No entanto, as bactérias ativas presentes nas colônias geneticamente uniformes tinham um potencial 127% maior de serem agentes patogênicos (organismos que produzem doenças infecciosas a seus hospedeiros), enquanto as colônias diversificadas abrigavam 40% mais bactérias benéficas.
Os pesquisadores fizeram ainda outra descoberta surpreendente: quatro bactérias conhecidas por ajudar no processamento de alimentos em outros animais foram, pela primeira vez, observadas em colônias de abelhas.
O estudo identificou a Succinivibrionaceae, um grupo de fermentadores encontrado em vacas; a Oenococcus, usada para fermentar o vinho; aParalactobacillus, utilizada para fermentar comida; e a Bifidobacterium, encontrada em iogurtes.
“Nossas descobertas sugerem que as abelhas geneticamente diferentes possuem a vantagem de apresentar comunidades microbianas mais amplas, o que pode ser a chave para melhorar a saúde e a nutrição das colônias”, conta a doutora Heather Mattila, ecologista do Wellesley College.
“Nós descobrimos que colônias geneticamente diversas têm comunidades de bactérias mais ativas e saudáveis em seus aparelhos digestivos. Por outro lado, as colônias uniformes apresentaram maior atividade de agentes patogênicos”, diz Irene L.G. Newton, coautora da pesquisa.
O resultado obtido é importante porque as abelhas, assim como os seres humanos e outros animais, dependem das comunidades úteis de bactérias que vivem dentro de seus órgãos. No caso dos animais polinizadores, as bactérias ativas possuem uma grande função: ajudam na transformação do pólen coletado por abelhas operárias em “pão de abelha”, que pode ser armazenada em colônias por longos períodos e fornece às abelhas a maioria dos nutrientes essenciais.
“É a primeira vez que se percebe que a saúde da comunidade pode ser melhorada pela diversidade”, conta Matilla. E o comportamento promíscuo, que provoca essa diversidade genética, é incomum entre os insetos sociais.
“A maioria das fêmeas férteis de abelhas, formigas e vespas acasalam isoladamente e produzem colônias de parentes próximos, operárias de uma única família. Rainhas de abelhas que produzem mel são diferentes neste ponto, e esse comportamento resultou em colônias extremamente produtivas”, concluiu a pesquisadora.
Revista VEJA online. Richard Howard / Wellesley College. Foto: Grupo de abelhas produtoras de mel estudadas por equipe do Wellesley College
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