Mercado começa a
valorizar profissionais com PhD, que, assim, ganham alternativas à carreira
acadêmica
O engenheiro Arthur Pinto Chaves, que trabalha na
empresa de engenharia Progen
RIO - Quando se pensa em doutorado, é a carreira
acadêmica que vem logo à mente. Porém, cada vez mais as empresas passam a
valorizar — e a contratar — profissionais com título de PhD.
O que é reflexo, também, do aumento no número de
doutores formados, que cresce de 8% a 10% ao ano, segundo a Coordenação de
Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes).
— O mercado de trabalho maior ainda é o acadêmico.
Mas a falta de interesse do setor empresarial está mudando. As organizações
perceberam que, sem pessoal qualificado, a produtividade baixa — ressalta o
presidente da Capes, Jorge Almeida Guimarães.
Estatais dão mais espaço para quem tem PhD.
Por enquanto, os
doutores ainda encontram mais espaço para trabalhar nas estatais. É o que
afirma o coordenador de pós-graduação da PUC-Rio, Paulo Duque Estrada:
— As empresas públicas ou estatais, como Petrobras,
BNDES, Eletrobrás, Banco Central, Ipea, valorizam a titulação de seus
funcionários. Nas empresas privadas, lamentavelmente, isto ainda é raridade.
Mas esta realidade vem se modificando.
A Capes determina que um curso de doutorado tenha a
duração de, ao menos, dois anos. Mas, na prática, segundo a organização, o que
se observa é que o curso costuma durar quatro anos. O que pode complicar a vida
de quem gostaria de se aprofundar na pós sem se afastar do mercado.
— Por isso, é bom lembrar que o tempo de titulação
não é tão relevante. Uma pessoa que trabalha e faz doutorado ao mesmo tempo
pode concluir o curso em mais de cinco anos, não será punida — ressalta o
presidente da Capes.
E, claro, isso também vai depender do empregador.
Afinal, um funcionário matriculado num curso de doutorado talvez precise contar
com um horário de trabalho diferente.
— Há, em geral, nas universidades, uma
flexibilização para o aluno funcionário de empresa poder se dedicar ao
doutorado em tempo parcial, contando com um prazo um pouco maior para a
conclusão da tese.
Mas o fator decisivo é a empresa compreender que o
tempo de seu funcionário empregado na dedicação a um curso de doutorado é um
investimento — destaca Duque Estrada.
Programa federal tende a ampliar o quadro.
O engenheiro Arthur Pinto Chaves é um exemplo de
que é possível, sim, conciliar a escolha acadêmica com uma carreira no mercado
tradicional.
Ele trabalha na Progen, que presta serviços de
engenharia, e é livre-docente na USP. Enquanto estudava, precisava acordar duas
horas mais cedo para trabalhar na tese e acabava compensando com horas extras.
— Exige um esforço muito grande do candidato, assim
como compreensão do orientador e da empresa — relata Chaves, para quem toda
essa dedicação vale a pena.
— Um profissional com doutorado terá formação mais
aprofundada.
O contato entre as duas realidades promove
convivência saudável entre a atividade acadêmica e o mundo do trabalho, na
opinião de Luciano Medeiros, vice-reitor de Pós-Graduação e Pesquisa da
Estácio.
— Frequentemente, as teses necessitam de dados
concretos, que, em algumas situações, o doutorando recolhe da literatura
científica ou dos laboratórios e clínicas. Aquele doutorando que se encontra em
constante contato com a realidade de sua profissão dispõe de importantes
informações para agregar ao seu trabalho.
Para Medeiros, o espírito investigativo que um
doutorando ou doutor tem pode beneficiá-lo no mundo do trabalho: — Cada vez
mais os desafios profissionais exigem conhecimentos múltiplos.
Segundo a Capes, o número de doutores titulados em
2010 (último ano de atualização) em todo o Brasil foi de 11.314. Já o número de
estudantes matriculados no doutorado no mesmo ano foi de 64.558. Índices que o
presidente da organização considera satisfatórios.
— É um crescimento salutar, especialmente se
considerarmos que o sistema universitário brasileiro ainda é recente. Quando a
Universidade do Estado de São Paulo (USP) foi criada, em 1934, Harvard, nos
Estados Unidos, já tinha 300 anos — compara Guimarães.
E a tendência é que esse número cresça, após o
lançamento do programa federal "Ciências sem fronteiras", que tem
como meta conceder, até 2015, 101 mil bolsas de estudo (24.600 de doutorado
sanduíche e 9.790 de doutorado pleno).
— O programa foi lançado em boa hora. Vai ajudar a
consolidar um forte quadro de recursos humanos no Brasil — diz o presidente da
Capes.
O doutorado sanduíche é o que é feito em parte no
exterior, permitindo ao candidato ganhar vivência e fluência em alguma língua
estrangeira.
— Em termos acadêmicos, não faz diferença estudar
aqui ou lá fora. Mas, em termos de prestígio, sim. Quem passa um período no
exterior, além de voltar falando fluentemente outro idioma, será mais safo que
alguém que nunca saiu do país — acredita Pinto Chaves.
Jornal O GLOBO online. MAÍRA
AMORIM. MARCOS ALVES / O GLOBO.
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