Esporte radical
Voo
livre - Perigo colorido nos céus do Rio de Janeiro. Comercializar voos duplos em asa delta e parapente
é proibido, mas não há ninguém responsável por fiscalizar a atividade que
deixou dois mortos este ano.
"Por
se tratar de um esporte radical não convencional, de alto risco e que exige
habilidades especiais de quem opera o veículo, não é passível de
normatização", diz a Anac
Desde a década de 1970, quando um piloto francês saltou de asa
delta do alto do Corcovado, o voo livre se incorporou à vida do Rio de Janeiro.
Imagens da atividade ilustram uma série de vídeos promocionais da cidade e
foram um dos destaques do filme de animação Rio, campeão de
bilheteria nos cinemas (confira vídeo no fim da
reportagem).
Os turistas que gostam de aventura inevitavelmente procuram a
rampa da Pedra Bonita, em São Conrado - que existe há mais de 30 anos e hoje
conta com cerca de 120 instrutores. O problema é que poucos sabem que a
comercialização do voo livre é proibida no país, de acordo com o Código
Brasileiro de Aeronáutica.
Para
driblar a lei, os turistas são denominados "alunos" e assinam uma
espécie de contrato que descreve o passeio como "voo de instrução".
Dessa
forma, a atividade ganha verniz de legalidade. O drible na lei só é possível
pelo consentimento formal dos clientes, facilitado pela falta de fiscalização.
Não está claro de quem é a competência para controlar a prática do voo livre.
Para
o Ministério Público Federal (MPF), a responsabilidade é da Aeronáutica e da
Agência Nacional de Aviação Civil (Anac). Mas a Força Aérea Brasileira (FAB)
diz que compete ao Comando da Aeronáutica apenas emitir cartas de navegação da
área e restringir o espaço aéreo à prática de voo livre, e sugere que a Anac
seja procurada para falar sobre fiscalização.
A
Agência, por sua vez, mudou a interpretação que fazia em relação a esse tipo de
prática em maio deste ano, quando o voo livre deixou de ser considerado um
segmento da aviação civil e passou a ser visto apenas como esporte radical.
E,
nesta condição, não caberia mais a ela controlar a atividade. "Não há
regulamento da Anac que trate da prática de esportes radicais, tais como
parapente e asa delta", diz a agência em nota na qual destaca que os
equipamentos usados não são homologados "por não cumprirem requisitos
mínimos" que ofereçam um "nível adequado de segurança" aos
ocupantes.
"Por
se tratar de um esporte radical não convencional, de alto risco e que exige
habilidades especiais de quem opera o veículo, não é passível de
normatização."
Autofiscalização
Esse vácuo de competência para fiscalizar os saltos joga a
responsabilidade para as associações locais, que determinam suas próprias
regras. O Clube São Conrado de Voo Livre (CSCVL), por exemplo, fiscaliza os
equipamentos a cada seis meses, ou 250 voos, e determina sua troca ao atingir
1.200 voos. Para o MPF, não é suficiente.
"A omissão do poder público em fiscalizar dá ao cidadão a
falsa impressão de que se trata de atividade regularizada", destaca o
órgão, em nota. Por isso, em maio a procuradora Márcia Morgado entrou com um
ação civil pública para que a Aeronáutica e a Anac realizassem fiscalizações
periódicas e sistemáticas na rampa da Pedra Bonita, depois da morte de Priscila
Boliveira que caiu de um parapente em março. O caso ainda aguarda decisão da Justiça.
"O trabalho dos pilotos é muito sério. Os acidentes que
acontecem são, infelizmente, motivados por falha humana", rebate
o CSCVL, por meio de sua assessoria de imprensa, em referência
aos dois acidentes fatais ocorridos neste ano - o segundo, na terça-feira
passada, quando um
instrutor morreu durante um voo duplo de asa delta com uma turista, que não se feriu. Mesmo com
23 anos de experiência, Wanderley Nascimento Coelho, teria esquecido de checar
o próprio equipamento de segurança, conforme mostram imagens da filmadora que
está sendo analisada pela polícia.
No caso de Priscila, o erro também foi do instrutor, que não
conferiu o equipamento dela.
Nesse
jogo de empurra, os mais afetados são aqueles que menos entendem do assunto – e
conhecem pouco ou nada sobre o imbróglio em torno da atividade: os turistas que
pagam para admirar do alto os principais pontos do Rio e às vezes nem levam a
sério o termo de responsabilidade que assinam no qual declaram "saber que
as aulas práticas são realizadas em equipamentos experimentais, e que o voo
nessas aeronaves é por conta e risco próprios".
"O
Brasil é o único país que não tem um regulamento específico para o voo livre.
Isso é ruim para todos. Deveríamos ter um departamento de aerodesporto
dentro da Anac, que cuidaria dos voos de asa delta e parapente, além de
paraquedismo e balão.
Isso
já existe em outros países, como Portugal, que tem uma legislação muito
parecida com a nossa", diz Marcelo Almeida, presidente da Associação
Brasileira de Voo Livre
Revista VEJA online.(ABVL). Pollyane Lima e
Silva, do Rio de Janeiro. Foto: Voo duplo saindo da rampa da Pedra Bonita,
em São Conrado (Paulo Alvadia / Ag. O Dia).

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