Contas de energia ficam 79% mais caras no Rio em um ano.
Délberes Lima, professor do departamento de
engenharia elétrica da Puc.
A conta de luz de clientes da Light tem arrepiado cada fio de
cabelo. Foram três aumentos em um ano, um deles extraordinário. O reajuste
acumulado de novembro de 2014 até outubro de 2015 foi de 42,54%, sem considerar
a bandeira vermelha (taxa extra em vigor desde janeiro deste ano).
Com esse adicional (cobrado para desestimular o consumo, já que
o nível de água das hidrelétricas está baixo), a alta passa a ser de 56,23%.
Considerando o último aumento autorizado pela Agência Nacional
de Energia Elétrica (Aneel), que vai elevar as contas de novembro (pagas em
dezembro) em mais 15,99%, a alta será de 65,32% sem bandeira vermelha ou de 79%
com cobrança excedente.
Estes aumentos não levam em conta os impostos, que podem variar
de estado para estado e por faixas de consumo. No caso do Rio de Janeiro, se o
cliente registrar um consumo superior a 300 quilowatt/hora (kWh), a cobrança de
Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) passa de uma alíquota
de 18% para 29%.
A pedido do EXTRA, especialistas analisaram as faturas mensais
de um casal sem filhos, de janeiro de 2014 a outubro de 2015. Eles observaram
que, apesar do esforço para cortar os gastos com energia, as cobranças não
pararam de crescer.
— Em maio do ano passado, na comparação com o mesmo mês de 2015,
o consumo desta família foi 41% menor, mas o aumento efetivo da tarifa foi de
52%. É um esforço que não está sendo recompensado — avaliou
Délberes
Lima, professor do Departamento de Engenharia Elétrica da Pontifícia
Universidade Católica (PUC).
Na casa da médica Renata Melo, de 27 anos, ela e o marido estão
adotando medidas para reduzir a conta, mas o casal desconfia da cobrança
excessiva.
— Nós não ligamos o ar-condicionado, lavamos roupas e usamos o
ferro de passar de uma vez só. Temos também uma adega elétrica, que pretendemos
desligar. Mas, quando o verão chegar, será difícil cortar mais do que estamos
fazendo agora — explicou a consumidora.
Custo maior do que no exterior
A redução média de 20% nas tarifas de energia — anunciada há
três anos pelo governo federal — está por trás dos aumentos em cadeia
autorizados pela Aneel, na avaliação de pesquisadores.
O Rio de Janeiro tem uma das cobranças mais caras quando
comparada com as de outras 23 cidades dos Estados Unidos e do Canadá, segundo o
site Ilumina.org.
— É uma mentira dizer que a culpa dos reajustes é da seca e da
estiagem no Sudeste. O que houve foi um desequilíbrio no setor. O governo
passou anos tirando água de reservatórios, sem usar usinas térmicas, para
baratear a tarifa, mas o corte foi alto demais, e a caixa d’água secou.
Nós já pagamos contas mais caras do que em todas as cidades do
Canadá. Nos Estados Unidos, perdemos só para Nova York, São Francisco e Boston
— explicou Roberto D’Araújo, pesquisador associado da Coppe e diretor Instituto
do Desenvolvimento Estratégico do Setor Elétrico.
Em setembro de 2012, a presidente Dilma Rousseff anunciou, em
cadeia nacional, reduções de 16% nas contas de energia para clientes
residenciais e de 28% para indústrias. Além disso, o governo promoveu a
renovação antecipada de, pelo menos, 44 contratos de concessões de energia.
— É como se estivéssemos pagando uma dívida acumulada — disse o
pesquisador.
Esforço que não aparece
Aposentado Valdir Ribeiro pediu a revisão da conta da Light
Foto: Pollyanna Brêtas / pollyanna brêtas
Na casa do aposentado Valdir de Araújo Ribeiro, de 61 anos, a
conta de luz subiu para R$ 570, no mês passado. Com uma família de quatro
pessoas, ele decidiu questionar a fatura e solicitou uma inspeção no medidor da
Light. Apesar de morar num dos bairros mais quentes do Rio (Bangu, na Zona
Oeste), ele deixou de usar o ar-condicionado e reduziu o tempo dos
ventiladores.
— Fica difícil. Os consumidores estão trabalhando para pagar a
conta de luz. Na minha opinião, falta fiscalização. Minha conta era R$ 240, mas
houve um salto no início do ano, para R$ 290. De lá para cá, veio a escalada.
Agora, vem outro aumento. Não sabemos mais o que fazer. Acabou a
festa, eu sou aposentado, e a renda não acompanha os aumentos — reclamou ele.
O idoso, a mulher e os dois filhos do casal ainda precisam
utilizar cotidianamente uma bomba elétrica d’água para abastecer a casa quando
as torneiras estão secas:
— Ainda há esse problema da falta d’água que impacta na conta de
luz. Faz muito calor, e não podemos ficar sem água. Se correr o bicho pega, se
ficar o bicho come.
Além de eletrodomésticos, impostos respondem por até 43% da
conta de luz total dos clientes
Além dos vilões materializados em aparelhos eletrodomésticos, os
inimigos invisíveis aos olhos dos consumidores de energia elétrica são os
impostos e os encargos setoriais que correspondem a até 43% do total a pagar na
conta mensal.
Na fatura de outubro da família da médica Renata Melo, enquanto
o valor referente à eletricidade consumida foi de R$ 104,25, a soma de tributos
e encargos elevou o montante para R$ 119,90.
— A carga tributária é excessiva e atinge ricos e pobres de
forma brutal. Este é um dos setores que pagam as maiores taxas. Impor tributos
ao setor elétrico é uma maneira fácil de a União, os estados e os municípios
arrecadarem.
Na realidade, o cliente paga uma outra conta referente apenas
aos tributos — afirmou Daniel Sousa, professor de Economia e coordenador dos
cursos de extensão do Ibmec/RJ.
Alguns aparelhos domésticos têm impacto significativo na conta.
Por isso, especialistas fizeram cálculos sobre o consumo e a tarifa para uso
dos equipamentos.
Foto:
Divulgação / pollyanna Brêtas
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