Segundo
Yoshinori Ohsumi, ganhador do Nobel de medicina, jejuar faz suas células
"se comerem". Tal mecanismo é renovador
Estudos mostram que
práticas como o jejum ou a restrição calórica estressam as células e contribuem
para a ativação do processo de autofagia nas células, o que estimula uma faxina
interna no organismo e aumenta a longevidade.
Dietas
que pregam o jejum são comuns para a perda de peso, mas, agora, estudos sugerem
que a prática pode contribuir para o aumento da expectativa de vida.
Pode
parecer estranho, afinal, todos sabem que uma
alimentação equilibrada e rica em nutrientes é fundamental para uma boa saúde.
No
entanto, segundo Yoshinori
Ohsumi, ganhador do Nobel de medicina deste ano, o jejum
faz suas células se comerem – processo chamado de autofagia – e isso te renova.
Agora, pesquisadores se debruçam sobre o assunto para traçar uma indicação de frequência do jejum benéfica e segura, de acordo
com informações do Uol.
A autofagia é um importante mecanismo
de autolimpeza que existe em todas as células de nosso corpo. A redução da
autofagia leva ao acúmulo de componentes danificados, o que está associado à
morte das células e ao desenvolvimento de doenças.
Por essa lógica, manter o
mecanismo ativo seria uma forma de prevenir problemas.
“A
autofagia não fica ativa o tempo todo. Mas a restrição de nutrientes é uma
forma de burlar isso”, disse Luciana Gomes, pesquisadora do Laboratório de
Reparo de DNA da USP, ao Uol.
Essa autolimpeza no organismo é
ativada quando a célula está em situações de stress, como ao fumar um cigarro
ou ficar algum tempo sem se alimentar.
Nestes casos, a célula passa a
“comer” partes internas para sobreviver, degradando tudo o que tem de ruim.
Quanto mais o mecanismo funciona maior a faxina.
“O
jejum induz a autofagia, isso é sabido. Também sabemos que a autofagia induz a
longevidade.
A
busca agora é entender a conexão entre a autofagia ativada pelo jejum e a
longevidade das células”, explicou Soraya Smaili, professora livre-docente da
Escola Paulista de Medicina, ao Uol.
Jejum ou restrição calórica?
Outra forma de ativar a autofagia é a
restrição do consumo de alimentos. Mas, para funcionar, a redução de calorias
dever variar entre 20% e 60% e priorizar grupos como carboidratos e
proteínas, de acordo com as pesquisas realizadas até o momento.
Contudo, se a privação de nutrientes
for muito longa, os efeitos passam a ser negativos já que a célula poderia
começar a degradar componentes bons.
O ideal seria conseguir estimular a
faxina interna no tempo suficiente para garantir benefícios sm causar
prejuízos.
Segundo
Soraya, há estudos feitos em humanos que
mostram que o jejum, se bem conduzido e monitorado, traz benefícios a longo
prazo. “Não é um jejum prolongado. É de 12 e no máximo 24 horas. E pode ser
específico, de alguns nutrientes, como carboidratos e proteínas”, afirma.
Entretanto, para garantir o aumento
da expectativa de vida a longo prazo, o jejum precisaria ser feito de forma
periódica e só seria ‘permitido’ em pessoas saudáveis. “Não adianta fazer um
hoje e outro no ano que vem”, diz a farmacóloga da Unifesp.
Já a redução calórica precisaria ser
permanente para produzir efeitos. Testes em animais mostraram que os
melhores resultados da restrição calórica ocorreram entre os que foram mantidos
nesse ‘regime’ desde o nascimento. Nesses casos. o aumento da expectativa
de vida chegaria, a 30%.
‘Como é difícil ter essa disciplina,
surgiu a busca para confirmar se jejum intermitente conseguiria levar aos
mesmos efeitos”, explica a biomédica da USP.
No entanto, as pesquisas existentes
ainda não possuem resultados que permitam traçar uma indicação ideal
de frequência do jejum para garantir esses benefícios.
(iStockphoto/Getty Images)
Revista VEJA online.
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