Como é ter um carro elétrico no Brasil?
Eles já se
ligaram e contam:
Se para a maioria dos brasileiros o carro elétrico ainda é um
enorme ponto de interrogação, uma pequenina parcela da população pode se gabar
de já ter esse tipo de veículo na garagem.
Dados do Departamento Nacional de Trânsito (Denatran) apontam
que em 2018 há ínfimos 300
automóveis totalmente elétricos circulando no país.
QUATRO RODAS conversou com proprietários de três deles, todos
donos de BMW i3, o único elétrico vendido a pessoas físicas até a chegada de
Chevrolet Bolt, Nissan Leaf e Renault Zoe.
Todos dizem que aderiram a um veículo que é 40% mais caro que um
equivalente por causa da sustentabilidade, pois queriam um carro que não
poluísse.
É o caso de Glaucia Savin, 55, advogada de São Paulo (SP) que
comprou um i3 2015 usado em outubro de 2017.
Seu perfil de uso é o que mais se espera de um proprietário de
elétrico: 100% urbano, com média de 10 km por dia. Com isso, uma bateria cheia,
cuja autonomia é de até 140 km, garante a ela a possibilidade de rodar mais de
uma semana.
Receio de ficar pelo caminho sem bateria? Nenhum. “Sempre presto
atenção ao mostrador e, quando vejo que a autonomia está mais baixa, coloco no
modo Eco e mudo o estilo de dirigir”, conta a advogada, que gastou R$ 200 para
instalar um transformador de 110 para 220 V com 5.000 VA (volt-ampere) de
potência na garagem do prédio.
Lá, seu i3 passa a noite carregando, o que demora 8 horas.
O administrador Leonardo Celli Coelho, 41, de Jaguariúna (SP),
também destaca a mudança ao volante. “Você aprende a antecipar os
acontecimentos e a tirar o pé para aproveitar ao máximo os freios
regenerativos”, explica.
Primeiro dono de um i3, comprado em abril de 2016, Coelho usa o
carro de modo um pouco mais intenso: cerca de 40 km diários, incluindo uma
viagem de vez em quando.
Para isso, o seu i3 conta com um trunfo que o da Glaucia não
tem: um motor a combustão de 650 cm3 que funciona como gerador e estende a
autonomia em mais 150 km.
“Só uso esse recurso para pegar a estrada”, diz. Nem gasto com
recarga ele tem, pois aproveita a energia solar captada por painéis
fotovoltaicos instalados em sua residência (leia mais abaixo).
Já o engenheiro eletricista Ricardo Bovo, 48, faz um percurso
ida e volta diário de 210 km entre Sorocaba (SP), onde mora, e a capital
paulista, onde trabalha.
Isso não o impediu de adquirir um i3 2015 usado em julho. Para
viajar sem precisar usar o gerador a combustão e queimar gasolina, ele precisa
recarregar o veículo à noite em casa e de dia enquanto trabalha.
“Andando a 110 km/h na [rodovia] Castello Branco, nem me
preocupo com o ar-condicionado ligado. Agora, se eu for a 120 km/h, a autonomia
cai 10% e fica muito no limite”, diz Bovo. Por causa das recargas, sua conta de
luz aumentou R$ 100 por mês.
Além disso, ele gastou R$ 400 num transformador de 110 para 220
V com 7.000VA.
Dinheiro de troco perto dos R$ 400 que gastava por semana em
combustível para rodar a mesma quilometragem com um Volvo S60. No total, passou
a economizar pelo menos R$ 1.500 de gasolina por mês.
Benefícios extras
Além da economia com combustível, os três usuários destacam
outras vantagens dos seus elétricos: total silêncio a bordo, torque entregue de
maneira imediata pelo motor de 170 cv e 25,5 mkgf e garantia de oito anos ou
100.000 km para a bateria.
Pode-se mencionar ainda o baixo custo das recargas (média de R$
12 cada), a isenção de 50% de IPVA no estado de São Paulo e de rodízio na
capital paulista, e o seguro em cerca de 5% do valor do carro (média de R$ 9.000).
Até na manutenção o elétrico leva vantagem: é bem mais simples,
com uma revisão ao ano, que inclui troca de filtro de ar e fluidos do gerador a
combustão (em média R$ 1.200).
Mas nem tudo é um sonho para eles. A baixa autonomia em viagens
é o maior vilão. “Tenho parentes em Ribeirão Preto (a 320 km de distância) e
não consigo visitá-los com meu carro”, lamenta Glaucia.
Eles reclamam ainda da rede escassa de recarga, em especial nas
estradas, e falta de mão de obra especializada. “Nem nas autorizadas BMW você
sente confiança”, diz Coelho. “Os donos acabam sabendo mais que os mecânicos.”
Carro, casa, moto e bike: tudo na tomada
Leonardo Coelho: casa adaptada para recarregar seu i3 com
energia solar Leonardo Coelho: casa adaptada para recarregar seu i3 com energia
solar
Leonardo Celli Coelho não ficou só na compra de um carro
elétrico. Em abril de 2017, o administrador se mudou para uma casa totalmente
sustentável.
Foram R$ 25.000 investidos em um sistema de captação de energia
solar a partir de painéis fotovoltaicos instalados no telhado e mais R$ 10.000
para incluir um carregador semirrápido, para baixar o tempo de recarga de seu
BMW i3 de 8 para 3 horas.
Também comprou um ciclomotor de R$ 5.800 e uma bicicleta de R$
4.200, ambos igualmente elétricos. Total de R$ 210.000 somando os três veículos
mais a estrutura residencial.
“Quem vê de fora acha que é loucura, mas alguém tem que se
arriscar. Gerar a própria energia que eu uso em casa e no meu carro, sem
emissões, me dá uma enorme sensação de liberdade”, comenta.
Coelho calcula já ter economizado em sete meses cerca de R$
20.000 em energia elétrica e combustível, o que significa um retorno de
investimento num prazo de dez a onze anos.
Hoje, ele paga somente a tarifa mínima de conta de luz (R$ 70),
e envia a energia excedente de sua casa para o sogro.
© Fornecido
por Abril Comunicações S.A. Glaucia Savin, dona de um BMW i3 sem extensor de
autonomia em SP.
Leonardo
Felix
Revista 4
RODAS.
Portal MSN.
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