Roberto
Carlos: “Me custa assumir minha idade. Sou muito mais jovem que os anos que eu
tenho”
As
pessoas que coordenam as entrevistas com Roberto
Carlos pedem que os repórteres
preferivelmente vistam roupa azul e/ou branca, e que, por favor, evitem a todo
custo o marrom na indumentária, porque incomoda o cantor.
Um
pedido tão insólito que causa preocupação antes do encontro com o cantor e
compositor mais famoso da história do Brasil,
um dos intérpretes latino-americanos com mais discos vendidos, 140 milhões ao longo de
55 anos de carreira.
O
vaivém na suíte do hotel madrilenho onde ele se hospeda tampouco leva a pensar
que a entrevista será fácil. Mas quando Roberto Carlos aparece, vestido com
camisa azul-claro, calça branca e botas brancas, nada é como se podia imaginar.
Seu
rosto de 78 anos não perde o sorriso em nenhum momento, e ele demonstra com sua
atitude que seu entusiasmo em cantar na Espanha.
Atuará
nesta quinta, 23, no Wizink Center, em Madri, 35 anos depois de sua última
visita – é maior que qualquer mania que possa ter devido ao transtorno obsessivo-compulsivo que
revelou há anos.
Nada
denota as tragédias que sacudiram sua vida, nem a depressão que em algum
momento o fez pensar em parar de atuar.
“Tenho
minha forma de viver, minha maneira de ver as coisas, minha experiência, minha
idade… mas me custa assumi-la, porque eu gosto de pensar de uma forma muito
jovem.
Eu
sempre digo que aqui [aponta enfaticamente a própria cabeça] sou muito mais
jovem que os anos que eu tenho.”
O
novo disco, que fará parte da turnê Amor Sin Límite, é o primeiro que
ele grava em espanhol em 25 anos. Inclui 10 canções, sendo 4 inéditas e outras
6 que o artista nunca havia gravado.
Em
duas delas, faz dueto com dois artistas de porte internacional, Jennifer López
e Alejandro Sanz.
“Dois grandes”, como os define Roberto Carlos, mas sobretudo “duas pessoas
incríveis”.
Um
detalhe que reflete algo que vai repetindo ao longo da conversa: a importância
que Roberto Carlos dá às pessoas, à vida desfrutada e sofrida, e sua contínua
necessidade de recorrer ao otimismo como terapia.
“A
energia positiva é importante porque nos ajuda. Às vezes estou fazendo uma
canção triste e quando chego ao final me digo: ‘Isto não pode acabar assim,
tenho que pôr uma frase de esperança’”, diz o capixaba.
Assim
ele já demonstrou em momentos nos quais outros teriam jogado a toalha. Aos seis
anos, foi atropelado por uma locomotiva enquanto brincava perto de uma
ferrovia, e parte da sua perna direita teve que ser amputada.
Primeiro
usou muletas, e depois uma perna mecânica cuja existência o faz mancar
ligeiramente ao caminhar. Depois, o cantor de Lady Laura, Detalhes
e Eu Quero Apenas viu como o amor lhe era esquivo, apesar de ser o motor
de suas canções.
Aos
25 anos, teve um romance com a mãe de seu primeiro filho, Rafael Carlos, a quem
só reconheceria em 1991, pouco antes de essa mulher morrer de câncer.
Em
1990, a mesma doença havia matado sua primeira esposa, Cleonice Rossi, que era
a mãe de seus outros dois filhos, Roberto Carlos e Luciana, e também de Ana
Paula, a quem o cantor trata como filha, embora seja fruto de um casamento
anterior dela.
Em
1999, a história se repetia e ele perdeu sua terceira esposa, Rita Simões, aos
38 anos, após apenas quatro anos de casamento.
Roberto Carlos, o cantor, e Roberto Carlos, o
ex-jogador de futebol, durante um evento promocional na tarde desta
segunda-feira em Madri.
De
tudo isto ele não gosta de falar, mas paira no ar quando é questionado sobre o
motivo de tantos anos de ausência:
“Aconteceram
muitas coisas neste tempo, e na verdade não saí do Brasil durante muitos anos.
Agora estou muito contente de receber todo este carinho de novo”, afirma sobre
sua volta a Madri.
Suas
composições continuam falando de amor, porque “ele está sempre presente na
minha vida e porque transforma qualquer idade em adolescência”.
A
tarde desta segunda-feira ainda lhe proporcionaria uma surpresa: encontrar-se
com seu compatriota e xará Roberto Carlos, ex-jogador de futebol,
que tem esse nome justamente por ser filho de fãs do Rei.
"É
bonita a história, mas a primeira vez que escutei que Roberto Carlos era um
craque da bola eu pensei: ‘Caramba, isto vai ser uma confusão’.
Então
quando começou a acontecer, antes que me perguntassem eu me pus um apelido:
Roberto Carlos, o cantor", conta com humor.
Há
anos compõe menos, mas continua atuando. Inclusive num cruzeiro anual em que sua presença é
o grande atrativo. Um peculiar barco do amor no qual
centenas de casais embarcam para ver um show do ídolo e ter uma relação próxima
com ele durante alguns dias.
"Começou
como um projeto para cinco anos e já estamos há quinze. Faço três shows, uma
entrevista coletiva e também participo da entrega de um prêmio que dão por um
concurso de karaokê. Eu gosto muito de ver que querem falar comigo e me ter
perto."
Utilizando
o recurso da letra de uma de suas canções mais conhecidas do público internacional,
Un Gatto nel Blu (literalmente “um gato no azul”, que ele cantou em 1972
no Festival de San Remo, na Itália), perguntamos a ele sobre a cor da sua vida.
Embora
continue gostando do azul, que em certos países é relacionado à nostalgia e à
angústia, Roberto Carlos responde sorridente: “O gato ainda não está totalmente
bem, mas vai melhorando. Eu estou mais esperançoso e otimista”.
A
ponto de afirmar que não tem medo nenhum de ter sido esquecido pelos espanhóis:
“Acho que há uma boa conexão. Eu só tenho que cantar bem e deixá-los felizes”.
Foto:©
Daniel Gonzalez (GTRES) oto:© Samuel Sánchez
Maite Nieto
Conteúdo Jornal EL PAÍS.
Portal MSN.
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