As plantas conversam entre si: isso não é
ficção, é ciência
No filme “Avatar”, de 2009, dirigido pelo norte-americano James Cameron,
sucesso na época que se tornou um símbolo cult, os organismos conversam entre
si.
A cena da comunicação entre as árvores se tornou icônica e simboliza uma
área do conhecimento que extrapola a ficção. Porque é justamente o contrário: a
ficção veio depois da realidade: foi o trabalho pioneiro da ecologista Suzanne
Simard, da Universidade da Columbia Britânica que ajudou o cineasta a colocar
nas telas a sua arte.
As plantas conversam entre
si: isso não é ficção, é ciência.
Bioensaio com plantas de trigo
mostram que há comunicação na rizosfera.
No Brasil, essa realidade científica passa pelos corredores da Embrapa
(Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária), em parceria com a Esalq/USP
(Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz).
Um bio ensaio realizado pela universidade e a unidade Embrapa Meio
Ambiente, em Jaguariúna (SP), envolveu plantas de trigo no qual os pequisadores
mostram que elas se “comunicam” com microorganismos benéficos que envolvem suas
raízes para terem acesso a mais nutrientes do solo e obterem maior proteção
contra doenças fúngicas.
Os experimentos ocorreram ao longo de 2021, com o apoio da Fapesp
(Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo), foram apresentados em
outubro, durante o Simpósio Internacional “Avances en el mundo de Microbiomas”,
da Universidad San Francisco de Quito, e devem continuar.
O próximo passo para mapear essa comunicação será analisar o impacto da
invasão de fungos e bactérias benéficas na montagem das comunidades bacterianas
e fúngicas da rizosfera para entender os padrões e correlações entre a
estrutura do microbioma da rizosfera, com o solo, a diversidade do microbioma e
o estabelecimento do inoculante benéfico.
Embrapa Plantas de trigo do bioensaio realizado pela Embrapa e USP.
Para quem não sabe o que é rizosfera, anote: é a região do solo
influenciada pelas raízes das plantas.
Os pesquisadores querem, com novos experimentos, entender os padrões e
relações que se estabelecem entre um microbioma, o solo e bactérias benéficas
eventualmente inoculadas.
Explicando em detalhes:
Sabendo que o microbioma da rizosfera fornece serviços ecológicos,
incluindo nutrição e proteção contra doenças, os cientistas foram observar se
as plantas de trigo mudariam o padrão da exsudação da raiz (aquele líquido que
sai dos poros de uma planta ou um animal, e adquire consistência viscosa) para
acessar os recursos fornecidos por esses microrganismos antagônicos, no caso de
uma infecção por um patógeno transmitido pelo solo, o fungo Bipolaris
sorokiniana.
Os patógenos são organismos capazes de causar doenças em um hospedeiro.
Os cientistas testaram o impacto de três bactérias benéficas –
Streptomyces, Paenibacillus e Pseudomonas –, antagônicas ao patógeno, no início
da doença, para entender como a planta hospedeira e os micróbios benéficos se
comunicam para afastar o patógeno da rizosfera.
“Testamos a inoculação independente dos três isolados bacterianos em
mudas de trigo inoculadas ou não com o fungo patógeno.
O índice de severidade foi o mais alto (93%) em plantas inoculadas
exclusivamente com o patógeno (tratamento controle)”, explica Helio Quevedo, da
Esalq/USP. “Em plantas inoculadas com a bactéria antagonista e com o patógeno,
o índice de severidade variou de 50 a 62%, mostrando uma diminuição
significativa na incidência da doença em comparação com o controle tratamento.”
Diversidade microbioma é boa para o
planeta
Em outro estudo, os cientista avaliaram a diversidade do microbioma da
rizosfera e seu impacto na proteção da planta de trigo inoculada com o patógeno
de raiz Bipolaris sorokiniana e com um inoculante bacteriano antagonista –
Pseudomonas. Utilizando uma técnica chamada “diluição à extinção”, os
pesquisadores “diluíram” a diversidade microbiana de um solo natural e, além do
solo natural, usaram tratamentos com um gradiente de solo diluído e também
autoclavado.
A inoculação resultou em maior altura de planta e massa seca de raiz,
principalmente em tratamentos com o solo natural para a altura, mostrando o
potencial de promoção do crescimento deste inoculante. Este inoculante também
promoveu a proteção da planta nos tratamentos onde o patógeno foi introduzido.
Rodrigo Mendes, pesquisador da Embrapa Meio Ambiente, explica que o
microbioma da rizosfera oferece à planta hospedeira funções benéficas,
incluindo absorção de nutrientes, tolerância ao estresse abiótico – onde há
ausência de vida – e defesa contra doenças transmitidas pelo solo.
Por exemplo, durante uma invasão de patógeno fúngico do sistema
radicular, famílias bacterianas específicas e com certas funções são
enriquecidas na rizosfera e ajudam a prevenir a infecção das plantas pelo
patógeno.
Conforme Caroline Nishisaka, da Esalq, o índice de gravidade da doença
foi maior em todos os tratamentos que receberam o fungo patógeno Bipolaris
sorokiniana, principalmente no solo mais “diluído”, mostrando que é mais destrutivo
em solos com baixa diversidade microbiana, onde o inoculante antagonista também
é mais eficaz na proteção a planta. (Com Embrapa).
Imagens:©
FotoLesnik_Guettyimages Bioensaio e Rodrigo_Mendes Embraca._
Por: Vera Ondei.
Conteúdo
Revista FORBES.
Portal MSN.
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