No Congresso, ou é com jeitinho ou então não vai.
A deputada Joice Hasselmann (PSL-SP),
41, é conhecida por agir como “um
trator”, passando por cima de todos para alcançar seus objetivos.
Nascida em Ponta Grossa (PR),
ela deu início na carreira de jornalista em Curitiba, mas logo se mudou para
São Paulo, onde se transformou em fenômeno popular no rádio e nas mídias
sociais.
A partir daí, a mosca azul da política lhe picou. Na eleição no ano
passado, ingressou no PSL e teve mais de um milhão de votos para deputada
federal.
Na disputa por espaço dentro do PSL, chegou a brigar feio com o deputado
Eduardo Bolsonaro, o filho mais novo do presidente. Disse que ele era “bebê
mimado”.
Eduardo rebateu e afirmou que ela era “meio doida”. As caneladas só
pararam porque o presidente obrigou dois a celebrarem a paz.
Agora, indicada por Bolsonaro para ser a líder do governo no Congresso,
Joice quer deixar de lado sua fama de conseguir tudo no grito.
“No Congresso, ou a gente faz as coisas com jeitinho, ou então não
vai”.
Sua prioridade é aprovar a reforma da Previdência. Diz que o governo
sabe que terá que ceder aos deputados e que dificilmente se chegará a uma
economia de R$ 1,1 trilhão, mas adianta que menos de R$ 1 trilhão “não dá”.
O que foi
determinante para a senhora ter sido escolhida líder do governo no Congresso? A
senhora tornou-se muito amiga da primeira-dama Michelle Bolsonaro. Isso pesou
na indicação?
Não, de maneira nenhuma. Não teve nenhuma influência familiar, nem para
mais e nem para menos.
O que aconteceu é que houve um consenso entre o presidente Bolsonaro, o
presidente da Câmara, Rodrigo Maia, e o presidente do Senado, Davi Alcolumbre,
em torno do meu nome.
Todos procuravam um nome para buscar o diálogo do Congresso com o
Palácio do Planalto para que a gente pudesse ter um bom andamento na reforma da
Previdência. A melhor maneira de fazer as coisas andarem aqui (no Congresso) é
ter o consenso.
Quais os
obstáculos que a senhora teve que superar para ser indicada pelo presidente
Bolsonaro ao cargo de líder, já que no início do ano a senhora chegou a ter
trombadas homéricas com o deputado Eduardo, um dos filhos do presidente?
Já está tudo superado. É muito natural que quando você tem uma personalidade
forte, e eu tenho, o Eduardo também tem, ocorreram algumas trombadas.
O que eu tive com o Eduardo é briga de irmão. Sabe aquela coisa de
família no domingo? Todo mundo se reúne, tem confusão e no final sai todo mundo
abraçado? Foi isso.
Eu descobri que tenho uma capacidade de diálogo imensa. Todo mundo
conhece esse meu lado combativo, firme, mas eu nunca precisei mais de 24h para
entender que no Congresso nada anda na força. Ou é com jeitinho, na conversa,
ou então não vai.
A senhora
é a deputada mais influente nas redes sociais. O presidente também domina bem
as redes. A senhora acha que o governo do PSL será tocado pela Internet?
Eu acho que tem que ter tudo. Acho que a gente tem que usar muito as
redes sociais, e o nosso presidente é um case nas redes, e tem que usar esse
canhão de comunicação. Agora, não dá para deixar de lado a mídia tradicional.
Temos claro que boa parte da imprensa tem posições que não são a que nós
queremos. Mas acho que neste momento nós temos que nos unir para aprovar a
reforma.
Mas quando digo que devemos nos unir, nós não queremos a unanimidade.
Acho que vamos conseguir votos do PDT, do PSB…
A
prioridade do governo é aprovar a reforma da Previdência, mas sabemos que o
governo não tem os 308 votos. Fala-se hoje em torno de 200. O que a senhora
pode fazer para reverter esse placar desfavorável na Câmara?
Conversando. É claro que o Congresso quer imprimir sua digital na
reforma. E eu já disse isso ao presidente.
O governo já disse que a espinha dorsal da reforma é a economia em torno
de R$ 1 trilhão, mas sabemos que o Congresso vai querer mudar o projeto do
governo. Há deputados achando que a reforma pode trazer problemas para seu
eleitorado, então vamos conversar muito para o convencimento.
Qualquer um
que seja pego com a boca na botija em crime de corrupção, não fica no governo.
Com o Jair, não tem choro, nem vela.
Para
convencer os deputados, o governo fala em agilizar o “banco de talentos” para
distribuir cargos e também a liberação de emendas do Orçamento para deputados
de até R$ 1,2 bilhão. Isso é o novo toma-lá-dá-cá?
Não. Vamos pensar de maneira racional, cartesiana. O problema não é a
indicação. É a corrupção. Nós temos cargos estratégicos que precisam ser
preenchidos, para que as coisas funcionem.
E nós vamos preencher com quem? Com inimigos? Claro que não. Nós temos
que colocar pessoas corretas, no lugar certo.
No antigo toma-lá-dá-cá, se fazia a troca de cargos por votos, e aí o
parlamentar indicava amigos, a mãe, a irmã, a tia. Aqui, todos os cargos serão
ocupados por pessoas habilitadas.
Quanto às emendas, desde a época da nova Constituição, o governo pode
destinar parte do Orçamento para atender demandas dos parlamentares nos
Estados. Mas, agora, os parlamentares serão ouvidos, os Estados serão ouvidos.
Então não tem nada de irregular nisso.
Deputados
dizem que há questões amargas a resolver, como cortes em privilégios, sobretudo
de militares e funcionários públicos. Esses setores podem emperrar a reforma?
Com toda certeza, a gente vai ter uma ação junto ao funcionalismo. Vamos
resolver as diferenças com muito diálogo. O projeto será construído junto com
eles.
Mas todos esses setores vão ter que dar contribuições. Os funcionários
públicos vão ter que entender isso. Hoje é o pobre ganhando o salário mínimo e
esses grupos, muito organizados, de privilegiados, não querem abrir mão de seus
benefícios.
Tem gente ganhando até R$ 40 mil e o trabalhador ganhando o salário
mínimo. Não dá para continuar assim.
O ministro
Paulo Guedes fala em uma reforma que represente a economia de R$ 1,3 trilhão ou
R$ 1,1 trilhão em 10 anos, mas há deputados estimando que os ganhos não
passarão de R$ 800 bilhões. Pode haver um meio termo?
Um trilhão é um bom número. É a espinha dorsal da reforma. Tudo o que a
gente conseguir acima disso será maravilhoso. Mas com R$ 1 trilhão a gente já
consegue lançar o foguete da economia.
Participei de uma reunião com o ministro Paulo Guedes e ele disse que R$
1 trilhão é como se a gente fosse lançar um foguete para a lua.
Tem vários estágios, mas quando atinge a atmosfera tem que chegar nesse
R$ 1 trilhão. Depois, até chegar à lua, tem outros estágios, como R$ 1,1
trilhão, R$ 1,3 trilhão. Abaixo de R$ 1 trilhão, a reforma fica prejudicada.
Já a
reforma do ministro Sergio Moro ficará para depois. Ao criminalizar o caixa
dois e impor medidas duras contra corruptos, a senhora acha que o projeto pode
ter oposição na Câmara, onde há vários deputados acusados de corrupção?
Olha, é claro que quando o deputado está sendo investigado por
corrupção, ele não vai aprovar um projeto que combata a corrupção.
Mas você tem que lembrar que houve uma grande renovação aqui no
Congresso, de 50%, e tem muita gente boa aqui. Por isso, eu acho que o projeto
do ministro Sergio Moro será aprovado.
Temos que combater a corrupção, ainda mais a corrupção que a gente viu
no Brasil nos últimos anos.
A corrupção tem que ser vista como crime hediondo. É fundamental para o
desenvolvimento do Brasil, inclusive para os investidores internacionais.
Em dois
meses de governo, aconteceram muitas trapalhadas, todas provocadas por
integrantes do próprio governo. Por que o governo tem cometido tantos desatinos
e tropeços?
Não sei dos tropeços que você está falando. Você tem que me dizer quais…
Por
exemplo, demitir o ministro Bebianno em menos de 50 dias.
O presidente da República pode demitir quem ele quiser, do jeito que ele
quiser, no momento que ele quiser. A relação entre o ministro Bebianno e o
presidente é como um casamento que fracassou. Mas isso já foi ultrapassado.
Bola pra frente.
Mas
Bebianno diz que foi demitido pelo vereador Carlos, o filho do presidente…
Claro que não. Só quem tem autoridade para demitir quem quer que seja é
o presidente da República.
Falar que eu serei a candidata do Doria a
prefeita ou vice na chapa dele para presidente é uma bobagem sem tamanho
O ministro
Bebianno caiu por causa do laranjal em Pernambuco. E o ministro do Turismo,
acusado pelo laranjal em Minas Gerais, não deveria ser demitido também?
Esse caso é um critério de avaliação que compete só ao presidente. Como
eu falei, havia um desgaste na relação do ministro Bebianno e o presidente Jair
Bolsonaro, e esse desgaste não existe em relação ao ministro do Turismo.
As investigações prosseguem em Minas. Não dá para condenar ninguém antes
da apuração ser concluída.
Se ele
estiver envolvido tem que ser demitido?
O presidente é muito claro com todos aqui no governo, qualquer um que
seja pego com a boca na botija, em crime de corrupção, e que haja confirmação
pela Justiça, não fica no governo.
Com Bolsonaro, não tem choro, nem vela. Qualquer que seja pego em ato de
corrupção, terá como destino a porta da rua.
Os
ministros e o presidente têm falado muita bobagem, se envolvendo em crises
desnecessárias? Eles teriam que ter um freio?
Não. A minha avó dizia: com o andar da carroça as melancias se ajeitam.
A carroça está andando. Deixa as melancias se ajeitarem.
É natural que num começo de governo, com gente nova, aconteçam de vez em
quando uma frase que desagrada um, que desagrada outro. Mas com o tempo as
coisas se ajustam.
Dizem que
a senhora quer ser candidata a prefeita de São Paulo, mas já há os que falam
que também pode ser vice na chapa do governador João Doria a presidente em
2022. Quais são seus planos para o futuro?
Isso é uma bobagem sem tamanho. As duas informações foram plantadas na
imprensa. No dia em que o presidente estava para me indicar líder do governo no
Congresso, apareceu num jornal a informação de que o Doria (João Doria,
governador de São Paulo) me lançaria candidata a prefeita no ano que vem.
Ninguém falou comigo. Logo depois, veio a notícia que haveria uma chapa
presidencial para 2022 com Doria na cabeça e eu na vice. Ninguém me consultou.
Não há uma coisa, nem outra.
Germano Oliveira.
Foto: Daniel Marenco / Agência O Globo.
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