É inegável que vivemos o momento mais tenso dos últimos
cinquenta anos da história do Brasil. A aprovação do processo de impeachment de
Dilma Rousseff não encerrou a crise política. Muito pelo contrário.
Apenas abriu o longo período que poderá levar à proclamação da
República no Brasil – aquela que foi apenas anunciada a 15 de novembro de 1889
pelo marechal Deodoro da Fonseca.
A possibilidade de construir um novo arco de poder com as forças
parlamentares que conduziram o impeachment, encerrando a participação da
sociedade civil organizada, está fadada ao fracasso.
Não é mais possível transformar a política em um espetáculo com
poucos atores, onde o povo assiste passivamente o desenrolar dos
acontecimentos. Isso acabou.
Nos últimos anos – e as redes sociais jogaram um importante
papel – o protagonismo da sociedade civil e o interesse pelos destinos da
República estão conduzindo o Brasil a um novo patamar, único na nossa história.
Hoje, a política foi introduzida nas conversas cotidianas junto
com o futebol e outras amenidades. O STF virou tema de botequim. E seus membros
são motivos de acesas polêmicas. Quando isso ocorreu? Nunca.
Hoje Ricardo Lewandowski é tão falado como Neymar ou uma novela
das nove da Rede Globo.
Estamos em meio ao processo de reconhecimento de que a
participação popular é indispensável para a construção da democracia. E nada
indica que isso deva ser interrompido.
Estamos em meio ao processo de reconhecimento de que a
participação popular é indispensável para a construção da democracia. E nada
indica que isso deva ser interrompido.
A questão que se coloca é sobre a qualidade dessa ação. Há, por
exemplo, um grande interesse pelo conhecimento e estudo da História do Brasil.
Contudo, o que é oferecido para o público leitor – ou em vídeos,
pela internet – é de qualidade sofrível. Em parte, tal fato deve ser atribuído
às universidades que viraram as costas para a sociedade e não socializam a
produção do conhecimento.
Os sucessivos escândalos de corrupção, ao invés de levar a um
desinteresse pela política, produziram efeito inverso: estimularam a discussão
sobre os rumos do País e a necessidade de produzir um arcabouço legal que
dificulte o assalto à coisa pública.
As medidas de combate à corrupção patrocinadas pelo Ministério
Público Federal – e que contam com amplo apoio popular – têm importância
decisiva nesse processo. E dessa aliança poderá surgir um novo Brasil.
Sobre o autor
Marco
Antônio Villa é historiador, escritor e comentarista da Jovem Pan e TV Cultura.
Professor da Universidade Federal de São Carlos (1993-2013) e da Universidade
Federal de Ouro Preto (1985-1993). É Bacharel (USP) e Licenciado em História
(USP), Mestre em Sociologia (USP) e Doutor em História (USP)
Marco
Antonio Villa.
Revista
ISTOÉ online. Foto inicial da Revista VEJA online.
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