USINAS NUCLEARES PRECISAM SER EXTINTAS.
    A usina de Fukushima antes do acidente. O mundo discute o futuro da energia nuclear.
Na semana em que o mundo parou para acompanhar a crise nuclear no Japão, Stephan Singer, diretor de política energética global da organização ambiental WWF, fala a ÉPOCA sobre a gravidade do acidente na usina de Fukushima, afirma que a indústria nuclear “rouba” investimentos das fontes de energia limpas e renováveis e diz que é preciso dissociar o crescimento econômico do fornecimento de energia. Leia a seguir trechos da entrevista.
GRAVIDADE DO ACIDENTE
“Em primeiro lugar, devemos lembrar que até agora, felizmente, nós não vimos no Japão um desastre como o ocorrido em Chernobyl em 1986. Logo, não há razão para histeria.
Claro que as coisas podem se agravar. Mas esperamos que o Japão, uma nação altamente sofisticada e que conta com equipes especializadas, possa conter o pior.
 O país vive, sem dúvida, um grande acidente nuclear com contaminação local. Essa contaminação, porém, continua não sendo uma enorme catástrofe, se a compararmos à tragédia que os japoneses estão enfrentando devido ao terremoto e ao tsunami.”
FUTURO DA ENERGIA NUCLEAR
“Não sabemos precisamente o que acontecerá com a energia nuclear no mundo a partir de agora. Mas a crise japonesa provocou algumas reações positivas.
 A China, por exemplo, suspendeu, por enquanto, todos os seus planos para novas usinas, mesmo depois de os governantes terem se comprometido a construí-las.
 Na Europa, há um grande debate sobre o fechamento os reatores mais antigos. Mais: lá, até um futuro sem energia nuclear vem sendo discutido por pessoas que, normalmente, não são ativistas anti-nucleares.
 A UE está apelando para que seja feito um “teste de estresse” em todos os reatores, o que quer que isso signifique. A Alemanha fechou sete reatores nucleares velhos. Malásia e Índia também anunciaram que repensarão sobre os requerimentos de segurança de suas usinas nucleares. Com certeza haverá ainda pressão em muitos países para que reatores sejam fechados, investimentos, atrasados e haja reforço nas regras de segurança.
 Os investidores, certamente, vão observar o que está ocorrendo e, na minha opinião, não vão disponibilizar capital para uma tecnologia de alto risco tão facilmente.”
ENERGIA NUCLEAR VERSUS ENERGIA LIMPA
“A WWF não vê a energia nuclear como uma tecnologia limpa. A energia nuclear, do nosso ponto de vista – independentemente da crise nuclear no Japão – precisa ser extinta ao longo do tempo, assim como os combustíveis fósseis.
 A energia nuclear é cara e, portanto, “rouba” dinheiro que poderia ser investido em energia limpa. Ela está no caminho da expansão das energias limpas, como a eólica e a solar.
 Além disso, a energia nuclear tem um enorme legado de desperdício e produziu, aproximadamente, 100.000 toneladas de resíduos altamente tóxicos para os quais não há depositário final seguro em qualquer parte do mundo.”
DEMANDA POR ENERGIA
“A necessidade de energia que os países têm prevalecerá, apesar de os riscos envolvidos na produção de energia nuclear. A curva da demanda por energia não decresce por causa de um incidente em um reator qualquer.
 Em muitos lugares na África e Ásia, acesso à energia a preços baixos é essencial para as pessoas começarem a ter uma vida decente. Além disso, muitos países em desenvolvimento têm a necessidade de fazer suas economias crescerem.
 O abastecimento de energia é fundamental para a superação da pobreza em muitos lugares. A WWF apoia totalmente esses objetivos. No entanto, o truque é fornecer energia de forma mais eficiente, que seja limpa e, portanto, dissociar o crescimento econômico do fornecimento de energia.
 O potencial para economizar energia é enorme. Um relatório da WWF mostrou que o mundo pode economizar por volta de 50% da energia em todos os setores até 2050 sem comprometer o crescimento econômico necessário em países em desenvolvimento e também acabando com a pobreza energética a nível global.”
Revista EPOCA.

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