Gravação da PF revela que Frederico Silva Costa orientou o empresário Fábio de Mello a montar um instituto.
Uma gravação telefônica da Operação Voucher, da Polícia Federal, feita com autorização judicial, mostra o secretário executivo do Ministério do Turismo, Frederico Silva Costa, orientando um empresário a montar uma entidade de fachada para conseguir assinar um convênio com o governo federal e liberar dinheiro.
Frederico foi um dos presos pela polícia na terça-feira sob a acusação de envolvimento num esquema fraudulento no ministério. O relatório do Ministério Público, que atuou em conjunto com a PF na operação, mostra que a cúpula do Turismo avalizava as prestações de contas fraudadas entregues pelas entidades de fachada que faziam convênios com o governo federal.
De acordo com o relatório da PF, Frederico ensina o empresário Fábio de Mello a montar um instituto. A conversa, de acordo com os documentos, ocorreu no dia 20 de julho deste ano. "O importante é a fachada e tem que ser uma coisa moderna que inspira confiança em relação ao tamanho das coisas que vocês estão fazendo", orienta o secretário executivo.
"Pega um negócio aí pra chamar a atenção, assim, de porte, por três meses (...). Mas é pra ontem! Que se alguém aparecer para tirar uma foto lá nos próximos dois dias, as chances são altas", afirmou Frederico, segundo gravação contida na investigação.
Frederico e Fábio de Mello foram presos nessa terça-feira (9) pela Operação Voucher. Mello aparece na investigação como dono da Sinc Recursos Humanos, uma das empresas de fachada que, segundo os autos, recebeu dinheiro do Instituto Brasileiro de Desenvolvimento de Infraestrutura Sustentável (Ibrasi), ONG fantasma contratada pelo Turismo que foi o principal alvo da investigação da Polícia Federal.
O advogado Antonio Carlos de Almeida Castro, que representa Frederico Costa, criticou nessa quarta-feira a prisão. "A prisão é das mais estranhas que já vi. O decreto de prisão é bizarro e teratológico. A gravação apresentada pela PF está descontextualizada.
Tenho sérias dúvidas que ela não esteja relacionada com o inquérito e tenha sido usada apenas para embasar o pedido de prisão”, disse.
Dilma cobra aviso
Surpreendida pela operação da Polícia Federal no Ministério do Turismo, a presidente Dilma Rousseff cobrou do ministro da Justiça, José Eduardo Martins Cardozo, informações mínimas para não ter de acordar a cada dia com uma nova crise. Como no governo Lula (2003-2010), a presidente quer ser avisada com antecedência sobre as operações.
Além dos conflitos na base aliada e da crise econômica, Dilma não quer ser surpreendida por crises políticas criadas pelas operações da PF que interfiram no dia a dia do governo.
Sobre o uso de algemas nas prisões dos secretários do Ministério do Turismo - uma reclamação dos parlamentares -, a PF disse que seguiu a regra legal: os presos só foram algemados na hora do embarque para Macapá. O manual da polícia não permite transportar presos como se estivessem fazendo uma viagem aérea comum.
Por ordem de Dilma, Cardozo e a ministra das Relações Institucionais, Ideli Salvatti, reuniram-se na noite de terça-feira no Palácio do Planalto com líderes do PT e do PMDB na Câmara e no Senado. As explicações foram necessárias na tentativa de evitar desconfianças na base aliada de que a operação no ministério controlado pelo PMDB pudesse ser pano de fundo de conflito na base.
Cardozo disse que não tinha conhecimento prévio da ação da Polícia Federal. Afirmou, na tentativa de justificar a falta de informações prévias sobre a operação, que todo o processo envolvendo a antiga cúpula do Ministério do Turismo corre em segredo de Justiça.
"Eu mesmo só tive as informações depois que o processo foi deflagrado", disse Cardozo, de acordo com relato dos participantes da reunião. Dilma ficou furiosa. Disse que exigia ser informada de todas as ações da PF com antecedência, até para evitar crises políticas.
Revista ISTOÉ ONLINE. AE
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