DÓLAR DEIXA DE SER FREIO E PASSA A COMBUSTÍVEL DA INFLAÇÃO.
RIO - O dólar comercial emplacou nesta sexta-feira seu sétimo pregão seguido de valorização - maior sequência de altas em 16 meses - e fechou cotado a R$ 1,678, num avanço de 1,02%, para o maior patamar desde 17 de março deste ano.
A moeda americana voltou, assim, a acumular alta no ano de 0,72%, o que não acontecia desde março. O dólar chegou a recuar a R$ 1,537 em 26 de julho deste ano, quando atingiu sua menor cotação em 12 anos. Naquele dia, a moeda acumulava baixa de 7,74% no ano.
A discussão sobre o câmbio ganha mais força num momento em que a inflação segue elevada e o Banco Central decide cortar 0,5 ponto percentual da Selic. O dólar contribui - e muito - para segurar os preços do Brasil.
Segundo especialistas, a valorização da moeda americana, se persistir em alta por mais tempo, vai passar de freio para combustível dos preços. Alimentos, produtos de higiene e limpeza, eletrônicos e mesmo o setor de serviços dependem da cotação da moeda americana, por usarem componentes importados.
- O dólar em alta, certamente, dificulta o processo de redução da inflação. E, com os juros baixando, abre-se espaço para a depreciação da taxa de câmbio (dólar sobe) - diz Elson Teles, economista da Máxima.
Na sexta-feira, o dólar comercial valorizou-se frente a diversas moedas pelo mundo refletindo clima de nervosismo nos mercados financeiros. Rumores de que a Grécia anunciaria um calote da dívida nesse fim de semana - o que foi negado pelo ministro de Finanças do país, Evangelos Venizelos - provocou fortes perdas nas bolsas de valores e uma corrida para o dólar. Moeda deve subir para R$ 1,73.
Para Rodrigo Trotta, superintendente de Tesouraria do banco Banif, a valorização do dólar também está relacionada à decisão do BC de cortar juros na semana passada. Isso reduz a atratividade do juro brasileiro, diminuindo a entrada de dólares no país.
- O dólar entrou em tendência de alta. O que poderia estancar esse movimento seria o Banco Central (BC) descartar, por qualquer motivo, novos cortes na Selic - diz Trotta.
Luciano Rostagno, estrategista-chefe da CM Capital Markets, explica que em momentos de aversão a risco investidores buscam aplicações seguras, como os títulos do Tesouro americano.
Isso provoca valorização do dólar. Tanto que a moeda americana valorizou-se ontem frente ao euro (1,65%), peso mexicano (1,42%) e dólar australiano (1,01%).
- O movimento de valorização do dólar ocorre no mundo interno. Nos últimos nove dias, o euro perdeu 5,80% de seu valor frente ao dólar. O real acompanha esse movimento e tem queda de 5,40% no período - explica Alfredo Barbutti, da BGC Liquidez.
O sócio de uma gestora que pediu para não ser identificado avalia que a moeda deve oscilar entre R$ 1,70 a R$ 1,73 em setembro e outubro. Num cenário de piora da crise da zona do euro, a moeda poderia no máximo chegar a ser cotada a R$ 1,80, na avaliação dele, que gere investimentos de mais de R$ 1,3 bilhão.
.Jornal Globo online. Bruno Villas Bôas (bruno.villas@oglobo.com.br) e Fabiana Ribeiro (fabianar@oglobo.com.br)


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