Ao receber a prova, aluno deverá verificar se há falha na impressão (Arquivo).
Depois do fiasco de 2010, a odisseia do Enem de 2011 começou em maio. Além de manter a mesma gráfica que já apresentara problemas no ano anterior, o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep) decidiu que caberia aos participantes do exame apontar eventuais falhas na impressão das provas.
O edital previa que o candidato deveria, "antes de iniciar a prova, verificar se seu caderno de questões contém algum defeito gráfico que impossibilite a resposta às questões". Especialistas condenaram a decisão do Inep.
Kamila Sanches, 18 anos, faz seu primeiro Enem e busca pontuação para o curso de Publicidade, no Rio de Janeiro.
Kamila Sanches, 18 anos, faz seu primeiro Enem e busca pontuação para o curso de Publicidade, no Rio de Janeiro.
Em outubro, faltando poucos dias para a realização do Enem 2011, cerca de 1.100 estudantes no Rio de Janeiro receberam informações erradas sobre o local em que deveriam fazer a prova.
O dado constava do cartão de confirmação, entregue a todos os participantes da avaliação federal. Segundo o informe, eles deveriam fazer o exame no prédio da reitoria da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (Unirio). Na verdade, esse grupo de participantes deveria ir para o prédio da Faculdade de Letras, a menos de 200 metros de distância. A Cesgranrio, organizadora do exame, admitiu a falha.
Estudantes chegam para o segundo dia de provas do Enem, em Porto Alegre - Wesley Santos/AE.
Estudantes chegam para o segundo dia de provas do Enem, em Porto Alegre - Wesley Santos/AE.
No segundo dia de realização do Enem 2011, 23 de outubro, nova falha na organização do exame veio à tona. O site do jornal O Globo divulgou o tema da redação – "Viver em rede no século 21: limites entre o público e o privado" –, às 13h59, uma hora antes de se encerrar o prazo de permanência mínimo nos locais de exame.
Ou seja, a informação foi vazada de dentro de uma das salas de prova. Apesar da constatação da falha, o MEC alegou que o vazamento não interferira no andamento da avaliação.
Estudantes chegam nos últimos segundos antes do fechamento dos portões para o Enem, em São Paulo - Luis Pinheiro.
Estudantes chegam nos últimos segundos antes do fechamento dos portões para o Enem, em São Paulo - Luis Pinheiro.
Outra aberração do Enem 2011 foi revelada pelo jornal O Estado de S. Paulo. Instantes antes da realização da prova, o repórter Paulo Saldaña apresentou-se como voluntário para trabalhar como fiscal do exame – o Inep informara que os profissionais seriam recrutados e treinados com antecedência.
O repórter, contudo, não recebeu instruções especiais: apenas apresentou um documento de identificação, assistiu a um vídeo de orientação e recebeu breves esclarecimentos sobre os procedimentos de prova. Depois, ele relatou a desorganização e despreparo da equipe que aplicaria a prova: faltou até giz para escrever as instruções na lousa.
Os voluntários, que em sua maioria foram indicados por parentes e amigos que trabalharam na organização, ganharam 65 reais e ajuda para alimentação.
Ao ser divulgado, dias após a prova, o gabarito do Enem 2011 acendeu nova discussão. Professores de renomados cursos pré-vestibulares afirmaram em coro que enunciados mal-elaborados prejudicaram os participantes, induzindo-os a erro na resolução da avaliação.
Ao ser divulgado, dias após a prova, o gabarito do Enem 2011 acendeu nova discussão. Professores de renomados cursos pré-vestibulares afirmaram em coro que enunciados mal-elaborados prejudicaram os participantes, induzindo-os a erro na resolução da avaliação.
Para o Anglo Vestibulares, esse foi o caso de ao menos três questões da disciplina de matemática. O Curso Objetivo questionou ainda outras duas questões de ciências humanas. Em uma delas, um poema foi erroneamente atribuído a um autor, uma falha primária.
À esquerda, imagem da questão do Enem; à direita, teste da apostila do Colégio Christus.
À esquerda, imagem da questão do Enem; à direita, teste da apostila do Colégio Christus.
Poucos dias após a realização do Enem, o Ministério da Educação (MEC) reconheceu que 14 questões do exame faziam parte de uma apostila distribuída a estudantes do Colégio Christus, de Fortaleza, dias antes da aplicação da área federal.
Segundo o MEC, as questões faziam parte do pré-teste do Enem, realizado em 2010 na mesma escola cearense: o teste pretende determinar o grau de dificuldade de cada questão, que é, então, incorporada ao banco de dados da prova.
À esquerda, imagem da questão do Enem; à direita, teste da apostila do Colégio Christus.
À esquerda, imagem da questão do Enem; à direita, teste da apostila do Colégio Christus.
A edição 2011 do Enem certamente foi a mais tumultuada da história da avaliação federal. Depois da confirmação do vazamento de 14 questões para estudantes do Colégio Christus, de Fortaleza, descobriu-se que alunos do cursinho pré-vestibular da mesma instituição também haviam tido acesso prévio aos testes.
Apesar da comprovação de que o vazamento era maior do que se pensava inicialmente, o MEC se recusou a reconhecer o problema e manteve a decisão de cancelar apenas as 14 questões dos estudantes do Christus.
O ministro da Educação, Fernando Haddad, fala sobre o cancelamento de vagas em instituições de ensino superior.
O ministro da Educação, Fernando Haddad, fala sobre o cancelamento de vagas em instituições de ensino superior.
Inicialmente, o ministro da Educação, Fernando Haddad, tentou manter-se afastado dos problemas ocorridos na realização do Enem 2011. Seu objetivo era evitar que as falhas atrapalhassem suas pretensões de concorrer à Prefeitura de São Paulo, em 2012.
Tentando minimizar as ocorrências, ele declarou que o vazamento de questões era corriqueiro na aplicação de exames internacionalmente reconhecidos, como o americano SAT. Ouvida pela reportagem de VEJA, contudo, a associação sem fins lucrativos Educational Testing Service (ETS), responsável pela elaboração e aplicação da prova, negou a afirmação.
Anulação de provas nos Estados Unidos, segundo a ETS, não se deve a vazamento de informações, mas, sim, a situações como tentativa de cola ou mau comportamento de alunos na hora da prova.
Revista VEJA online
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