O UFC foi catapultado ao sucesso quase tão rápido quanto um foguete lançado numa missão espacial atinge a estratosfera.
No início de 2011, soaria a piada dizer que pouco mais de seis meses depois uma noite de UFC levaria uma multidão ao Rio de Janeiro para ver a mais nova atração dos octógonos, o brasileiro Anderson Silva, que de quase desconhecido passou a celebridade na mesma rapidez em que o torneio de artes marciais mistas (MMA) virou sucesso no Brasil.
E, ao que parece, esse interesse pelo UFC e seus lutadores nada tem de efêmero. Administrado com mão de ferro pelo americano Dana White, o torneio só cresce, entra rapidamente em países com as mais diversas culturas e tem sonhos que beiram a megalomania, como uma noite de lutas no estádio do Morumbi com mais de 70.000 pessoas nas arquibancadas.
Não é fácil determinar o motivo do sucesso das lutas em que além de socos, pontapés, cotoveladas e estrangulamentos também é comum ver hematomas, edemas e sangue manchando o tatame.
João Ricardo Cozac, presidente da Associação Paulista da Psicologia do Esporte, atribui o boom dos torneios de MMA a uma relação de mito entre o lutador e o torcedor.
“Existe esta relação do mito do herói do imaginário das pessoas, uma projeção. O brasileiro gosta muito desses exemplos de força e imagens heroicas. Somos doutrinados desde criança a conviver com os heróis, seja no cinema ou nas histórias em quadrinhos.
O MMA representa um símbolo que reforça a necessidade que todo ser humano tem de encontrar ídolos ligados ao mito do herói.”
Torcida na arquibancada do UFC Rio, em agosto de 2011
Torcida na arquibancada do UFC Rio, em agosto de 2011
O psicólogo atenta ainda para o delicado limite que separa a prática de lutas com regras do estímulo à violência fora das arenas. “É uma questão delicada, mas acredito que não haja relação.
O MMA é a junção de várias artes marciais, cada uma com sua filosofia, em linha geral, de respeito e preocupação com o próximo. Toda filosofia bem trabalhada tende a não levar ao desrespeito ou à violência. Mas depende muito de como isso será passado pelo mestre.”
Ele diz ainda que há muito o que tirar da prática das artes marciais. “A doutrina pode ser aplicada no dia a dia, pois o reflexo psicológico da pessoa que luta tem uma questão muito ligada às bases de superação, autoestima e enfrentamento de desafios e dificuldades no cotidiano.
O reflexo emocional e mental do praticante desse esporte é direto no sentido de apoio às questões ligadas ao cotidiano. Muitos que acompanham as competições estão ali para enxergar a superação, projetam a agressividade que sentem dentro de si. Eles se projetam na pele do lutador, pensam como executariam um golpe, canalizam toda a raiva.”
Para José Carlos Brunoro, diretor de futebol do Grupo Pão de Açúcar e especialista em marketing esportivo, um dos motivos para o sucesso do MMA é justamente a associação de modalidades. “Nem o boxe, que já teve tradição no país, tinha tanto apelo.
Talvez porque exista uma grande quantidade de formas de lutas na competição, que aglutinou torcedores e praticantes de várias lutas. E também a forma de competição, de o limite ser o adversário no chão. Não sei onde vai parar isso, e se vai parar.”
Brunoro diz também que antigamente era bem difícil trabalhar o marketing em esportes de contato. “Parece que o conceito de esporte violento foi por água abaixo. Até porque a figura do Anderson Silva é de uma pessoa muito dócil. Ele não parece lutador de MMA, isso ajuda.
Ele é uma figura ‘normal’ fora das lutas, não é violento, mostra um lado humano dos atletas e da competição. E havia carência de um ídolo. O Anderson é campeão em um esporte muito difícil, e humanizou um pouco a relação com a modalidade. Ele se junta ao Neymar como ídolo atualmente.”
Revista VEJA online. Anderson Silva comemora vitória após defender o cinturão contra o japonês Yushin Okami, durante o UFC Rio de Janeiro (Antonio Lacerda/EFE)
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