Com senso
crítico que não poupou ninguém, o cearense Francisco Anísio Vianna de Oliveira
Paula criou 209 personagens que marcaram gerações de brasileiros
Chico foi um militante do politicamente incorreto,
décadas antes do surgimento desse conceito. Debochou de feios, de gays, de
gente burra, de pais de santo, e também de seus colegas de rádio e TV.
São
muitas as maneiras possíveis para definir quem foi Chico Anysio. A que menos
faz justiça à abrangência de sua obra é o habitual “humorista”. O termo “sociólogo
do riso”, cunhado pelo jornal O Globo em 1973, é uma muito boa tentativa.
Mas ainda é pobre para dar conta de um talento multifacetado, que ao longo de 63 anos de carreira arrancou gargalhadas de gerações de brasileiros pobres, remediados e ricos, intelectuais e analfabetos.
Mas ainda é pobre para dar conta de um talento multifacetado, que ao longo de 63 anos de carreira arrancou gargalhadas de gerações de brasileiros pobres, remediados e ricos, intelectuais e analfabetos.
O
cearense de Maranguape Francisco Anísio Vianna de Oliveira Paula, morto às
14h52m desta sexta-feira, aos 80 anos, foi um iconoclasta. Sua postura crítica
não conhecia limites. Seu humor espicaçou a ditadura militar e invadiu a
democracia denunciando a corrupção.
Na galeria de tipos cômicos criados por ele, é possível detectar vergonhas nacionais como o coronelismo, o populismo, o analfabetismo. Mas sua obra não se limita a temas “sérios”.
Na galeria de tipos cômicos criados por ele, é possível detectar vergonhas nacionais como o coronelismo, o populismo, o analfabetismo. Mas sua obra não se limita a temas “sérios”.
Ao contrário. Chico foi um militante do politicamente
incorreto, décadas antes do surgimento desse conceito. Debochou de feios, de
gays, de gente burra, de pais de santo, e também de seus colegas de rádio e TV.
E passeou com desenvoltura por uma gama de personagens (209, de acordo com seu site) que iam do humor mais sutil ao mais escrachado.
E passeou com desenvoltura por uma gama de personagens (209, de acordo com seu site) que iam do humor mais sutil ao mais escrachado.
Chico Anysio estava afastado da TV Globo, onde só
fazia participações esparsas em Zorra Total, e
não escondia sua mágoa.
Mas o ostracismo recente não lhe roubou um lugar único na história da TV: nenhum outro expoente do humor – nem mesmo Jô Soares e Renato Aragão – teve reinado mais longo e inconteste na emissora de maior audiência no país. Por extensão, nenhum outro humorista exerceu tanta influência sobre os brasileiros quanto Chico Anysio.
Mas o ostracismo recente não lhe roubou um lugar único na história da TV: nenhum outro expoente do humor – nem mesmo Jô Soares e Renato Aragão – teve reinado mais longo e inconteste na emissora de maior audiência no país. Por extensão, nenhum outro humorista exerceu tanta influência sobre os brasileiros quanto Chico Anysio.
Chico
Anysio estava internado desde o dia 5 de dezembro no hospital Samaritano, no
Rio. Ele chegou com infecção urinária. Recebeu alta no dia 21 de dezembro de
2011, mas voltou a ser internado no dia seguinte por causa de uma hemorragia
intestinal.
O
quadro evoluiu para uma pneumonia. A causa de sua morte foi uma parada
respiratório e falência múltipla dos órgãos, decorrente do choque séptico
causado pela infecção pulmonar.
No começo de 2011, Chico passou três
meses hospitalizado por causa de dores no peito. Na ocasião, ele
foi submetido a uma angioplastia para desobstrução de artéria, seguida de
uma traqueostomia e uma endoscopia.
Personagens
Entre o começo dos anos 70 e a década de 90, ele criou personagens e bordões incorporados à memória do Brasil. O deputado Justo Veríssimo (“Quero que pobre se exploda!”), o pai de santo Painho (“Affe! Eu tô morta!), Pantaleão (“É mentira, Terta?”), Bozó (“E-eu trabalho na Globo, tá legal?”) fazem parte dessa galeria, composta também por Bento Carneiro, o vampiro brasileiro, o malandro Azambuja, o boleiro atrapalhado Coalhada, o funcionário público Nazareno e o Baiano, sátira dos músicos saídos da Bahia que fizeram sucesso nos anos 1960 e 1970.
Boa parte deles apresentada ao público entre 1973 e 1980, durante o programa, o primeiro de longa duração da carreira televisiva de Chico que teve início em 1957 com o programa Noite de Gala, da TV Rio. Onze anos depois, em 1968, o humorista entraria para o elenco da Globo. Entre 1982 e 1990, ele apresentou o Chico Anysio Show.
Entre o começo dos anos 70 e a década de 90, ele criou personagens e bordões incorporados à memória do Brasil. O deputado Justo Veríssimo (“Quero que pobre se exploda!”), o pai de santo Painho (“Affe! Eu tô morta!), Pantaleão (“É mentira, Terta?”), Bozó (“E-eu trabalho na Globo, tá legal?”) fazem parte dessa galeria, composta também por Bento Carneiro, o vampiro brasileiro, o malandro Azambuja, o boleiro atrapalhado Coalhada, o funcionário público Nazareno e o Baiano, sátira dos músicos saídos da Bahia que fizeram sucesso nos anos 1960 e 1970.
Boa parte deles apresentada ao público entre 1973 e 1980, durante o programa, o primeiro de longa duração da carreira televisiva de Chico que teve início em 1957 com o programa Noite de Gala, da TV Rio. Onze anos depois, em 1968, o humorista entraria para o elenco da Globo. Entre 1982 e 1990, ele apresentou o Chico Anysio Show.
Nenhum
de seus personagens foi tão marcante e longevo quanto o professor Raymundo,
criado por Haroldo Barbosa na rádio Mayrink Veiga em 1950. Em vez de “E o
salário, ó...”, que o marcou na TV Globo, o catedrático terminava a atração com
o bordão “Vai comendo, Raymundo. Quem mandou tu vim do norte?”.
Dali por diante, o personagem ficou sendo dele. Barbosa lhe deu o direito de utilizá-lo onde e como quisesse. Na Globo, o personagem, que participaria de diversos programas, estreou em Balança, Mas Não Cai, dirigido por Lucio Mauro. No início, o mestre submetia seus alunos a sabatinas.
A partir de 1974, no Chico City, passou a dar aulas. Mais adiante, em 1991, ganhou uma escola – a Escolinha do Professor Raimundo, sucesso absoluto entre 1991 e 1992.
Ali, foram revelados talentos como Tom Cavalcante, e resgatados artistas da velha guarda, como Walter d´Ávila (1911-1996). “Duas falas para cada um e estava resolvido”, dizia Chico.
Dali por diante, o personagem ficou sendo dele. Barbosa lhe deu o direito de utilizá-lo onde e como quisesse. Na Globo, o personagem, que participaria de diversos programas, estreou em Balança, Mas Não Cai, dirigido por Lucio Mauro. No início, o mestre submetia seus alunos a sabatinas.
A partir de 1974, no Chico City, passou a dar aulas. Mais adiante, em 1991, ganhou uma escola – a Escolinha do Professor Raimundo, sucesso absoluto entre 1991 e 1992.
Ali, foram revelados talentos como Tom Cavalcante, e resgatados artistas da velha guarda, como Walter d´Ávila (1911-1996). “Duas falas para cada um e estava resolvido”, dizia Chico.
Nessa
época, Chico Anysio era campeão incontestável de audiência. Mas já começava a
perder prestígio. Quando o assunto era o futuro do humor na TV Globo, ele era
considerado representante do velho humor, e não mais conseguia impor seus
pontos de vista à geração que surgiu e se afirmou naquele período, como o
pessoal da TV Pirata e do Casseta & Planeta.
Frustrado na expectativa de ocupar um cargo de supervisor de humor, passou a se expressar de forma amarga e ressentida em relação à emissora. "O diretor que exerce a função que almejei é o Guel Arraes", declarou.
Frustrado na expectativa de ocupar um cargo de supervisor de humor, passou a se expressar de forma amarga e ressentida em relação à emissora. "O diretor que exerce a função que almejei é o Guel Arraes", declarou.
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