O médico norte-americano Joel Fuhrman está fazendo um enorme sucesso com uma promessa tão manjada quanto o alto valor calórico de um cheeseburger (300 calorias): emagreça comendo.
Mas calma. Nem ele está propondo um vale-tudo nem os seus seguidores são tão ingênuos a ponto de deixar o livro com seu programa de emagrecimento há 48 semanas na lista dos mais vendidos nos Estados Unidos.
Em "Eat to Live" (ed. Little Brown, sem edição no Brasil), Fuhrman argumenta que a pessoa pode emagrecer se comer o quanto quiser --mas não o que quiser. Esqueça o cheeseburger.
Vegetais, grãos e frutas são a base da dieta dos nutrientes.
Ele propõe uma mudança de foco na vida de quem faz regime: em vez de se preocupar com calorias, pensar na qualidade da comida. Em vez de temer carboidratos, fugir dos alimentos refinados e industrializados. E nunca viajar na proteína animal.
A base de sua dieta é o que ele chama de densidade de nutrientes. Alimentos com uma alta concentração de vitaminas, sais minerais, fibras e substâncias antioxidantes fazem, segundo ele, a pessoa emagrecer sem passar fome.
Colocando em pratos limpos: coma salada, salada e mais salada, um bom punhado de leguminosas (feijões, lentilha), muita fruta fresca, apenas cereais integrais e... bom, praticamente só isso.
NUTRIGENÔMICA
Pode parecer que não há nada de novo em falar que a pessoa emagrece comendo (quase) só salada, mas Fuhrman montou sua dieta baseada na área mais nova da nutrição, a nutrigenômica.
"Estudos recentes mostram que os fitoquímicos [substâncias presentes em vegetais] atuam no DNA das células e estimulam a queima de gordura", diz a nutricionista Flavia Cyper.
O médico americano também contrapõe sua dieta ao estilo de alimentação moderno, caracterizado pelo consumo excessivo de alimentos industrializados. E não poupa nem os produtos "light".
Segundo ele, além de os processos industriais como refinamento e pasteurização diminuírem o teor de nutrientes dos alimentos, os corantes, conservantes e espessantes usados jogam contra o processo de emagrecimento.
"Esses produtos químicos fazem o organismo produzir mais substâncias inflamatórias, que criam depósitos de gordura no corpo. E também aumentam a sensação de fome --é o que chamo de 'fome tóxica'", disse Fuhrman à Folha.
O nutrólogo Hélio Osmo, consultor da Abiad (associação que reúne produtores de alimentos diet e light), concorda que o consumo indiscriminado desses produtos deve ser revisto: "Eles contêm vários aditivos químicos e ainda não sabemos até que ponto podem afetar a saúde".
Mais difícil de engolir é a afirmação de que a pessoa não sentirá fome se aderir à dieta proposta por Fuhrman --que monta cardápios diários com apenas três refeições e proíbe os lanchinhos.
"Não existem estudos independentes comprovando que comida rica em micronutrientes tira a fome", afirma o endocrinologista Alfredo Halpern, da USP.
A pesquisa usada por Fuhrman para comprovar sua teoria de fome tóxica foi feita pela internet, com cerca de 700 usuários de seu site (www.drfuhrman.com).
Para Halpern, o lado bom do programa de Fuhrman é a proposta de uma alimentação saudável. "Se a pessoa passar a comer melhor, ótimo. Consumir mais orgânicos e alimentos frescos também é bom, têm muitos 'químicos' por aí. Mas não há garantia de que ela vá emagrecer, muito menos ter uma grande perda de peso em pouco tempo", diz ele.
LEITE E CARNE
Outro ponto polêmico da dieta é a restrição ao consumo de leite e derivados e de carnes. Quem quiser seguir o seu programa de seis semanas --que, afirma o médico, leva à perda de cerca de dez quilos-- tem que cortar totalmente esses alimentos.
"A pessoa não pode e não deve eliminar a carne se quiser ter uma alimentação equilibrada, porque ela fornece proteínas mais completas do que as encontradas nos vegetais", afirma o nutrólogo Durval Ribas Filho, presidente da Abran (Associação Brasileira de Nutrologia).
O leite também não pode ser simplesmente trocado por verduras para suprir as necessidades de cálcio, segundo Ribas Filho.
"Claro que há vegetais ricos em cálcio, mas a biodisponibilidade [taxa de absorção pelo corpo] do mineral é muito menor do que a do leite. Para obter a quantidade necessária, você precisaria comer 500 gramas de verdura por dia."
Pois é justamente isso que Fuhrman propõe.
Folha de São Paulo online. IARA BIDERMAN
DE SÃO PAULO. Adriano Vizoni/Folhapress.

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