Petrobras
reajusta preço, mas consumidor não deve sofrer impacto. Para neutralizar os
efeitos das elevações de 7,83% no valor da gasolina e de 3,94% no do diesel,
governo federal renuncia ao tributo Cide.
Petrobras: Valorização do dólar inviabilizou manutenção
do preço.
A Petrobras e o Ministério da Fazenda anunciaram na
noite desta sexta-feira ações casadas em relação aos preços dos
combustíveis. Enquanto a estatal informou os tão aguardados reajustes de 7,83%
para a gasolina e 3,94% para o diesel vendidos nas refinarias, o ministério
divulgou uma medida de renúncia fiscal.
A Fazenda zerou as alíquotas da Contribuição de
Intervenção no Domínio Econômico (Cide) incidentes sobre a venda destes
combustíveis. Antes, sobre cada litro de gasolina incidia uma Cide de 0,091
real e para cada litro de diesel, de 0,047 real.
Com essa medida, o ministério garante que o
consumidor não será impactado pelo aumento de preços. Outros tributos, como o
PIS/Cofins e o ICMS, serão mantidos. Os novos preços entram em vigor na próxima
segunda-feira.
O reajuste foi definido levando em consideração a
política de preços da companhia, que busca alinhar as cotações dos derivados de
petróleo aos valores praticados no mercado internacional numa perspectiva de
médio e longo prazo. De acordo com a nota da Fazenda, os preços, com impostos,
cobrados das distribuidoras e pagos pelos consumidores não terão, na prática,
nenhum reajuste.
Com isso, a expectativa é que o aumento do preço da
gasolina também não tenha efeito inflacionário sobre o Índice Nacional de
Preços ao Consumidor Amplo (IPCA).
Caminho mais fácil
O analista de petróleo e derivados da consultoria
Tendências, Walter de Vitto, explica que o governo optou pelo caminho mais
fácil. O Planalto limitou-se a autorizar elevações nos preços de refinaria da
mesma grandeza das quedas que uma eventual anulação da Cide poderia causar.
O economista calculava que, com 'Cides' reduzidas a
zero, haveria espaço para subir os preços em, respectivamente, 7,81% na
gasolina e 3,99% no diesel – praticamente os mesmo porcentuais confirmados pelo
Planalto nesta sexta.
"O problema é que a desafagem continua. Para
igualar os preços no país aos valores praticados no mercado internacional, as
elevações teriam de ser da ordem de 30% para a gasolina e de 24% para o
diesel", diz De Vitto.
Defasagem
Com o recuo das cotações externas da commodity, a
diferença de preço entre Brasil e exterior caiu um pouco nos últimos meses,
mesmo considerando a recente depreciação do real ante o dólar. Ela, contudo,
segue elevada e seu impacto no balanço da companhia é preocupante.
"Em março, a defasagem era de 35%. Chegou a
ultrapassar 40%. Agora, está em 30%", relembra De Vitto, em referência ao
diferencial nos preços da gasolina.
Os problemas da Petrobras não se resumem ao impacto
que a defasagem atual tem em seu caixa. Analistas mostram-se temorosos com o
porvir. Uma forma de a estatal compensar as perdas no mercado interno é a
exportação.
Esta tática tem sido adotada pela companhia nos
últimos anos. Para vender ao exterior, no entanto, é preciso ter folga de
produção e o país atravessa um momento complicado, em que diversas plataformas
encontram-se em manutenção e a
produção cai.
Diante deste quadro, o mercado vê maior dificuldade
para a estatal tentar mitigar suas perdas simplesmente porque não terá volumes
extras em quantidade significativa para exportar.
O analista da Ativa Corretora, Ricardo Corrêa,
aponta que o reajuste não resolve totalmente a situação da Petrobras, mas
melhora bastante a imagem de governança da empresa.
"A defasagem dos preços dos combustíveis era
um dreno financeiro para a Petrobras e também o ponto nevrálgico dos últimos
balanços trimestrais. Havia necessidade urgente de mais geração de caixa",
afirma.
IPCA
Do ponto de vista da inflação,
o estrategista-chefe do Banco WestLB do Brasil, Luciano Rostagno,
avalia que, com o corte da Cide, não deve haver repasse da alta das
tarifas ao consumidor. "Na falta de um cálculo mais preciso, o
impacto na inflação, se houver, será residual", explica o especialista.
Nesta quinta-feira, diversos membros do Executivo
foram questionados sobre o a possibilidade de aumento, mas tanto o ministro
Guido Mantega, da Fazenda, quanto Edison Lobão, de Minas e Energia, não
confirmaram nenhuma mudança nos valores. Lobão chegou a afirmar, porém, que a
ideia de retirar a Cide dos preços na bomba para compensar eventuais altas –
algo que já havia sido ventilado há alguns dias – era plausível.
"Ainda dá para usar a Cide. Já se usou uma
vez, pode-se usar uma parte (da Cide)", disse. Na última semana, a
presidente da Petrobras, Maria das Graças Foster, afirmou que a execução do plano
de negócios da estatal para o período de 2012 a 2016 só seria viável se
houvesse aumento nos preços dos combustíveis.
Há nove anos a estatal não promove um ajuste nos
preços. Esta opção prejudica o desempenho financeiro da empresa, sobretudo em
períodos de alta das cotações internacionais da commodity.
Atualmente, ainda que o preço do barril esteja
próximo de 80 dólares (valor considerado baixo), a alta do dólar anula os
efeitos da queda da commodity.
Revista VEJA online. (com Agência Estado e Reuters). (Antonio
Cruz/AB).
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