Segundo BC, endividamento já corresponde a 43% da renda no ano. Alta reflete avanço do crédito imobiliário
BRASÍLIA — O brasileiro nunca esteve tão endividado. De acordo com o Banco Central (BC), o valor das dívidas corresponde a 43,3% da renda das famílias no ano. É recorde histórico desde quando a autarquia começou a registrar os dados em 2005.
Nessa época, o endividamento era de apenas 18,4% dos ganhos anuais. O dado mais recente, de abril, mostra uma alta em relação ao mês anterior quando o indicador estava em 42,9%.
De acordo com o diretor de Política Econômica do BC, Carlos Hamilton, a escalada do endividamento das pessoas reflete uma alta do crédito imobiliário e isso é um bom sinal já que o financiamento de imóveis é considerado mais seguro porque tem uma garantia real.
Além disso, no Brasil, esse tipo de operação financeira ainda é muito pequeno em relação ao tamanho do país.
— Em termos comparativos, estamos abaixo do nível de endividamento de muitas economias do mesmo porte do Brasil — argumentou Hamilton.
Ele ressaltou que um outro indicador importante que mostra a situação financeira das pessoas já dá sinais de que deve melhorar daqui para frente. O comprometimento da renda das famílias com o serviço da dívida se estabilizou na casa de 22%, desde o quarto trimestre do ano passado. O número mostra o peso das dívidas no orçamento familiar.
Para Hamilton, a tendência desse comprometimento das receitas é cair porque os juros ao consumidor estão em queda e a renda do trabalhador continua a crescer.
O economista-chefe da Confederação Nacional do Comércio (CNC) e ex-diretor do BC, Carlos Thadeu de Freitas, espera que a postura mais cautelosa dos bancos — adotada depois de amargarem um nível de calote maior por causa da crise — também deve ajudar a reduzir tanto o endividamento quanto o comprometimento de renda das famílias.
Ele aposta que o crédito mais difícil e a própria cautela do trabalhador — que já se mostra mais preocupado com a manutenção do emprego e da renda por causa da crise — ajudarão a diminuir o tamanho da dívida das famílias brasileiras.
— A gente espera um aumento do consumo somente no fim do ano como é de costume. E até lá, também vamos ver uma queda da inadimplência — previu o economista.
Atualmente, o nível de atraso das prestações acima de 90 dias das pessoas físicas está em 8%. É o maior patamar desde novembro de 2009 durante a crise mundial. No entanto, o BC justifica que esse número reflete operações antigas e que deve melhorar.
— Não há qualquer elemento que justifique que há problema no mercado de crédito brasileiro — afirmou o diretor Carlos Hamilton.
Jornal O GLOBO online. GABRIELA VALENTE.

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