Bondes
vão retirar mais de 2 mil ônibus do Centro e abrir disputa por mercado de
passageiros de cerca de R$ 700 milhões.
Ilustração de um bonde passando pela Avenida Rio
Branco, livre de trânsito, em frente à Biblioteca Nacional, de acordo com o
projeto encomendado pelo Grupo CCR
O projeto para a criação
de seis linhas de bondes no Centro, coordenado pela Companhia de
Desenvolvimento Urbano da Região do Porto (Cdurp), recuperaria não só o charme
do início do século XX, mas também retiraria das ruas mais de 2 mil ônibus,
pelas contas da Fetranspor. Segundo o presidente da Cdurp, Jorge Arraes,
bondinhos e coletivos não circularão juntos.
— Onde passar o bonde,
não haverá ônibus — diz Arraes, referindo-se, sobretudo, à Avenida Rio Branco,
passagem de duas linhas dos também chamados veículos leves sobre trilhos
(VLTs).
Só na Rio Branco,
trafegam 2.133 coletivos com mais de 22,1 milhões de passageiros por mês e um
faturamento bruto anual estimado em R$ 697 milhões nas 146 linhas que cruzam a
avenida. Todos esses ônibus desapareceriam e boa parte dessa dinheirama poderia
migrar para o Grupo CCR.
A CCR venceu uma
concorrência pública para encomendar, por R$ 1,5 milhão, um estudo de
viabilidade à consultoria Sinergia Estudos e Projetos para a volta dos bondes
modernos, com o lançamento do edital de licitação para a obra previsto para o
dia 30 de setembro.
A companhia não se
pronuncia e nem nega o interesse nos VLTs — que, pelo traçado previsto em seu
próprio projeto, serão integrados à sua CCR Barcas, com uma estação na Praça
Quinze.
Mas os donos de ônibus
estão no páreo. No ano passado, a francesa Transdev, que opera VLTs em nove
países, procurou a Fetranspor e uma missão de empresários de ônibus retribuiu a
visita, em novembro, em Bordeaux, na França.
Pelo cronograma da
Cdurp, a primeira fase de operação das seis linhas deve começar em 2014, tendo
como paradas principais a estação das barcas e a Rodoviária Novo Rio.
Em 2015, os bondes
estarão trafegando pela Rio Branco, no aniversário de 450 anos da cidade. O
sistema estará todo completo em 2016.
Além disso, estudos da
Cdurp apontam para a eliminação de outros 1.923 ônibus por conta de
investimentos em trens, metrô, barcas e na futura Transbrasil, o corredor de
coletivos que ligará Deodoro ao Centro.
— Se a CCR ganhar a
licitação e cumprir o contrato de concessão, não vejo mal nenhum, e não se pode
afirmar antecipadamente que há um conluio. A Barcas não teve mais demanda
porque a operação era caótica, afastando o usuário. Quem opera não interessa
muito.
Se der conta do recado,
dentro das regras, ok. O importante não é quem vai operar, mas sim como será
operado — afirma José Guerra, engenheiro de transportes da Uerj e ex-presidente
da extinta Superintendência Municipal de Transportes Urbanos.
— O que nos importa é
que o sistema funcione, que cumpram as regras e que o poder público fiscalize.
Não importa quem seja. O negócio é interessante. Se o projeto for todo bem
executado, será uma maravilha.
Teremos uma outra
cidade, toda integrada — diz uma fonte que participa da elaboração dos projetos
na região, sem ver motivos contra a participação da CCR na licitação.
Especialista elogia projeto:
Sobre a retirada dos
ônibus das ruas por onde os bondes passarem, o engenheiro José Guerra é a favor
e lembra se tratar de uma ideia dos seus tempos na prefeitura.
— Não haver ônibus onde
o bonde passar é bom, com a integração, porque há excesso de coletivos em
alguns pontos do Centro. Provavelmente, partiram de um estudo feito há uns dez
anos pela prefeitura, reorganizando o transporte de superfície na região.
Uma malha de seis
linhas, curiosamente, é a que a prefeitura propôs no passado, no tempo do Cesar
Maia. O Luiz Paulo Conde, que o sucedeu, teria feito um estudo pelo Instituto
Pereira Passos, e nele havia meia dúzia de linhas — diz.
Feito isso, o passo
seguinte é o fechamento da Rio Branco entre a Igreja da Candelária e a
Cinelândia, como deseja o prefeito Eduardo Paes.
— Fechar a Rio Branco
seria possível a partir de um enxugamento do sistema de ônibus que chega ao
Centro. Os VLTs fariam com que a gente possa organizar melhor o tráfego.
O prefeito está certo,
mas com a otimização das linhas e de ônibus. Aí, sim, fecharíamos ruas. Mas tem
que haver política de transporte público para não atrairmos mais carros, como
fizeram com as garagens subterrâneas.
Isso colide com quem
quer privilegiar o transporte público. Ou se cobra estacionamento caro porque
porque não seria para qualquer um — conclui José Guerra.
Jornal EXTRA online. O bonde do futuro. Foto: Marcelo Dias.

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