Paleontologia
Ancestral do homem comia
cascas de árvores, indica análise dentária. 'Australopithecus
sediba', que viveu há dois milhões de anos, tinha dieta semelhante a dos
chimpanzés atuais
Pesquisa
analisou tártaro na arcada dentária do 'Australopithecus sediba' e encontrou
vestígios de cascas de árvore. Dieta assemelha-se à dos chimpanzés da savana
africana.
O Australopithecus sediba,
ancestral do homem, tinha uma dieta diferente da de outros hominídeos
analisados até então. Sua alimentação incluía cascas de árvore, em vez de
folhas e frutas mais tenras. A descoberta foi publicada nesta quarta-feira (27)
na revista Nature.
'AUSTRALOPITHECUS
SEDIBA'
O
fóssil deste espécime foi encontrado em uma caverna em Joanesburgo, na África
do Sul, em 2008. Tinha cérebro grande, dentes maxiliares reduzidos e vivia
predominantemente na África oriental. Ao contrário de outros Australopithecus já estudados, o sediba também se alimentava de cascas de árvores,
em vez de comer predominantemente folhas e frutos.
O estudo foi feito por um grupo de pesquisadores
internacionais ligados ao Instituto de Antropologia Evolutiva Max Plank, da
Alemanha. Eles analisaram o tártaro nos dentes do hominídeo, que serviu como
meio para fossilizar os restos de alimentos.
“Devido à morfologia muito semelhante aos demais
espécimes, esperávamos que os hábitos alimentares fossem mais ou menos
parecidos com outros Australopithecus já
estudados, ou mesmo com os primeiros homens”, disse Amanda Henry, do Max Planck.
Para ela, os hábitos alimentares indicam que o Autralopithecus sediba, descoberto em 2008 em uma
caverna de Joanesburgo (África do Sul), consumia alimentos de um habitat
arborizado e fechado, incluindo alimentos duros.
Dieta dos chimpanzés
Para chegar a esta descoberta, o grupo de
pesquisadores internacionais começou pelo bombardeamento dos dentes com um
laser para extrair carbono acumulado no esmalte.
Diferente dos dentes de 81 outros hominídeos
testados até hoje, que continham uma forma de carbono característica de folhas
e plantas, os do Australopithecus sediba continham
carbono das árvores e arbustos.
A descoberta sugere que este primata comia, pelo
menos durante parte do ano, casca e outros tecidos lenhosos.
Para verificar este resultado inesperado, os
cientistas recorreram a uma nova técnica: recolher dos dentes um pouco de
tártaro, a placa mineralizada dentária familiar para os dentistas modernos, e
analisar os minúsculos fragmentos vegetais fossilizados que permaneceram presos
por dois milhões de anos, onde foram encontradas as cascas de madeira.
"Tal dieta nunca foi atribuída a hominídeos
africanos até o momento, e assemelha-se à forma de alimentação dos chimpanzés
da savana africana atuais", disse o antropólogo Paul Sandberg, da
Universidade do Colorado, nos Estados Unidos, que participou do estudo.
"A dieta alimentar é um dos aspectos
fundamentais do animal. É o que dita seu comportamento e seu nicho
ecológico", disse.
"Parece que, há cerca de dois milhões de anos,
havia várias espécies de hominídeos que utilizaram diferentes ambientes de
diferentes maneiras. Cada espécie estava bastante focada em seu ambiente
específico com um determinado comportamento", afirmou o pesquisador.
"Não muito tempo depois, vimos a chegada
do Homo erectus, uma espécie que era capaz de se mover e
se virar em todos esses ambientes diferentes, o que foi uma grande
mudança."
Revista VEJA
online. (Com agência France-Presse).
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