Vacinas são seguras e
ignorá-las traz mais prejuízos que benefícios.
Médico
é quem pode avaliar quais pacientes realmente não tiram proveito da prática.
Mais que uma estratégia de expor indivíduos a micróbios
para prevenir doenças infecciosas, vacinas sintetizam nossa esperança de que
seremos enterrados por nossos filhos e não vice-versa.
Cabe lembrar, não faz um século em que a segunda situação
era pavorosamente comum. Felizmente não é mais e em boa parte devido à
vacinação. Mas se isto é verdade, por que vemos relutância em vacinar?
Os pais não amam mais suas crianças? Bobagem, as
expectativas dos pais não mudam há 10.000 anos. O que talvez ocorra é que a
sensação de segurança higiênica que vivemos hoje dá margem a questionamentos
que nossos avós, criados em outra realidade, jamais cogitariam.
O objetivo deste artigo é abordar algumas destas questões
para deixar claro que vacinas são eficazes, seguras, necessárias e não existe
razão racional para evitá-las.
Eficácia
da vacinação
Objetivamente, é impossível questionar a eficácia do método
vacinal. Nenhuma outra intervenção médica salvou mais vidas. Por meio da
vacinação, contivemos não apenas infecções como a varíola, a poliomielite e difteria, mas também
complicações como o câncer de fígado associado à hepatite B, ou (nossa briga
atual), cânceres associados ao papilomavirus (HPV).
Esse instrumento torna-se ainda mais relevante agora,
quando a resistência bacteriana avança mais rápido que o surgimento de novas
drogas, possivelmente anunciando a decadência da era antibiótica.
Segurança
da vacinação
Este, sem dúvida, constitui o ponto mais polêmico da
discussão e tanta desinformação foi produzida a respeito, que até pessoas
informadas se mostram conflitadas sobre o assunto. Vamos lá então: vacinas são
seguras?
Como sempre a melhor resposta é: depende. Dinamite é
segura? Nas mãos de um profissional, é. E na sua? Melhor nem falar, não?
Com vacinas não é diferente.
Por serem intervenções médicas, e nenhuma intervenção
médica é 100% segura, elas caem sob a mesma regra: só se justificam se seu
benefício superar seu risco. Até aí nada de novo. Mas quem determina a relação
risco/benefício? É para isso que você paga fortunas a seu médico.
Isto é essencialmente trabalho dele, te conhecer para
garantir que em todas as intervenções médicas, as chances estejam sempre
maximizadas a seu favor.
Para poder decidir, o médico se baseia em informações suas
(idade, outras doenças, grupo de risco, exposição à doença), sobre a doença a
prevenir (disseminação, gravidade, potencial letal, seqüelas), e nas
particularidades de cada vacina.
Essas particularidades (eficácia, riscos, modo e frequência
de aplicação, efeitos adversos, duração e etc.), são ampla e minuciosamente
mapeadas durante a extensa fase de testes que precede a aprovação de uma
vacina.
Esses testes são tão rigorosos que, na verdade, a grande
maioria das vacinas jamais chega ao público. As que você conhece são aquelas
que conseguiram se provar consistentemente eficazes e seguras.
Quais
os riscos da vacinação?
Para explicar melhor esse ponto, vamos dividir as vacinas
em dois grandes grupos: vacinas de micróbio morto e vacinas de micróbios vivos
atenuados.
A primeira, como o nome diz, é constituída pelo micróbio
morto ou seus componentes obtidos de fonte natural ou sintética. Como o
micróbio está morto, é impossível a vacina induzir a doença original.
O que pode acontecer são efeitos colaterais que variam
desde um desconforto provocado pela reação à injeção de uma substância
estranha, até algo mais importante (mas felizmente, muito raro), como um tipo
de paralisia reversível denominado de Guillain-Barret.
A possibilidade de uma reação mais severa, mesmo que rara,
é então razão para não vacinar? Novamente, depende, mas na maioria dos casos, a
resposta seria não.
Para te manter vivo e saudável, seu sistema imune enfrenta,
ininterrupta e diariamente, hordas bárbaras incessantes. E nesse contexto,
lidar um componente bacteriano inativado ou um vírus manso sonolento pode ser
considerado férias.
Muitas vezes, a reação tem mais a ver com o recipiente que
com a vacina e novamente, é isso que o médico estará avaliando quando decide se
você é ou não um bom candidato.
Um bom exemplo é o cuidado ao vacinar pessoas alérgicas a
ovo contra a influenza. Como o vírus vacinal é cultivado em ovos, a vacina pode
induzir reação. Sabendo do risco, o médico pode decidir se a pessoa deve ser
vacinada, ou no mínimo, cerca o ato vacinal com as devidas precauções para
garantir a segurança.
Já as vacinas de micróbios vivos e atenuados, novamente,
são exatamente o que seu nome diz, um composto contendo o próprio micróbio
causador da doença, vivo, mas modificado de forma a torná-lo incapaz de causar
a doença original, produzindo no máximo, uma forma frustra.
Sim, houve casos nos quais a vacina causou a doença
original, mas estes são extremamente raros, o risco é quantificável,
administrável e já está incorporado à decisão de vacinar.
Um bom exemplo é a vacina da febre amarela, uma vacina de
vírus vivo contra uma doença potencialmente letal. Como há potencial de
produzir a doença, ela não é aplicada em massa, mas somente naqueles com chance
significativa de adquirir o vírus selvagem, caso no qual a vacina seria o menor
dos males.
Mas se a vacina de micróbio vivo pode produzir doença, por que não
utilizamos apenas as vacinas de micróbios mortos?
De modo simplificado, por duas razões: a primeira é que às
vezes a vacina só funciona se o micróbio estiver vivo, e a segunda é o efeito
de manada, que explicarei a seguir.
O efeito de manada resulta do fato de que vacinas de
micróbio vivo funcionam como uma infecção e assim sendo, produzem contágio no
qual contatos não vacinados também são infectados pelo micróbio domesticado.
Deste modo, a cobertura final é muito superior ao número de
pessoas vacinadas, negando ao micróbio selvagem indivíduos suscetíveis que
sirvam de ponte para sua penetração na comunidade e assim, criando uma barreira
que protege pessoas mais vulneráveis que normalmente não podem ser vacinadas,
como crianças muito pequenas, idosos ou pessoas com doenças graves e
debilitantes.
Devemos
continuar a vacinar?
Lembra que eu mencionei a sensação de segurança higiênica
no começo do artigo? Pois bem, quantos casos de sarampo você já viu? E de
poliomielite? Difteria? Arrisco sem medo de errar dizer que nenhum. Então, já
que estas doenças não existem mais em nosso meio, vale a pena continuar a
vacinar?
Sim, e para entender, basta examinar países onde, por
motivos diversos, a cobertura vacinal cessou: Síria, Nigéria, Paquistão. Não
tardou meses para doenças consideradas sob controle voltarem a clamar vítimas.
Veja bem, nossas crianças não nascem imunizadas, portanto,
se não mantivermos o efeito manada, não há nada entre elas e os micróbios que
causam estas doenças e, mesmo que você não os veja em sua comunidade, num mundo
globalizado, a ameaça pode vir de qualquer lugar em menos de 24 horas. A Síria
não é em Marte.
Se aconteceu lá, só há uma coisa impedindo que aconteça
aqui. Adivinhe o que.
Não
são muitas vacinas para meu filho?
Se seu filho faz 18 anos e quer tirar carta, o que é
melhor: ensiná-lo a dirigir segura e responsavelmente, ou dar-lhe um carro e
dizer: "taí, te vira".
Não é diferente com os desafios diários que qualquer
organismo precisa enfrentar para permanecer vivo, e comparado aos desafios da
vida real, vacinas sequer podem ser consideradas um problema.
Para te manter vivo e saudável, seu sistema imune enfrenta,
ininterrupta e diariamente, hordas bárbaras incessantes. E nesse contexto,
lidar um componente bacteriano inativado ou um vírus manso sonolento pode ser
considerado férias.
Em pessoas saudáveis, vacinas não são nada comparadas à
ferocidade dos germes selvagens e portanto, novamente, são o menor dos males.
Vacinas
causam autismo?
A
resposta é fácil: em uma palavra, não!
Essencial para o estabelecimento dessa falsa hipótese foi o
artigo de Andrew Wakefield na respeitada revista médica The Lancet em
1998, fazendo essa conexão.
Desde então, poucas afirmações receberam tamanha atenção e
foram analisadas de modo mais cuidadoso e extensivo, de forma que posso afirmar
sem reservas, baseado em uma pilha de estudos internacionais conclusivos, que
não existe vínculo causal entre vacinação e autismo.
Em relação ao artigo de 1998, em 2010, o próprio Wakefield
confessou que este era produto de fraude, o artigo foi retratado e Wakefield
perdeu sua licença para praticar a medicina. Do episódio todo, só sobraram
confusão, pais amedrontados e os destroços de várias pequenas vidas destruídas
desnecessariamente.
O
que mais?
Seria possível escrever sobre vacinas semanas a fio sem me
repetir, mas este não é o objetivo deste artigo. De tudo o que você leu, se
você conseguir lembrar uma única coisa, lembre-se que vacinação não é coisa
para amador, é um assunto extremamente sério que não pode ser decidido de modo
trivial, e que você não deve levar em conta sugestões de pessoas que não tem
conhecimento específico desta área.
Se existir alguma razão para evitar alguma vacina, seu
médico te dirá. Se ele não souber, ele conhece quem sabe. Além disso, a
humanidade agradece sua colaboração na erradicação das pragas que nos vem
assolando desde que o mundo é mundo, e na proteção daqueles que não podem se
proteger sozinhos.
Para
leitura e informações adicionais, recomendo a visita ao excelente site doCenter
for Disease Control and Prevention (http://www.cdc.gov/vaccines/), ou
o mais breve, também excelente e esclarecedor artigo de Jeffrey Gerber e Paul
Offit na revista Vaccines de 15 de Fevereiro de 2009, página
456.
Não deixe de consultar o seu médico. Encontre aqui médicos indicados por outras
pessoas.
Dr. Eduardo Finger CLÍNICO GERAL - CRM 72161/SP
ESPECIALISTA MINHA VIDA
Site
Yahoo Brasil. Thinkstock.

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