Crise econômica leva alunos da rede privada a migrar para
escolas públicas.
Pelo menos
22,2% das matrículas no município são de estudantes da rede particular.
Maria Júlia e William na Escola Municipal Minas Gerais, na Urca:
eles vieram da rede privada.
RIO — Este ano, pelo menos 40 mil alunos do Rio não vão renovar
matrícula na rede privada. Eles disputarão vaga com cerca de 280 mil estudantes
de escolas públicas no município e no estado.
Nos primeiros dez dias da primeira fase de matrícula para o ano
letivo de 2016, 16.081 alunos vindos de unidades particulares se inscreveram em
colégios da rede estadual e já representam 14% dos 109.800 inscritos até
sexta-feira.
No município, a proporção é ainda maior: dos 18 mil que se
apresentaram no primeiro dia da pré-matrícula, 4 mil (ou 22,22%) vieram da rede
particular.
Na opinião de especialistas, a crise econômica, que afeta
especialmente a classe média, é o principal fator de uma mudança que, nos
últimos anos, vem alterando inclusive o perfil socioeconômico de pais e alunos
da rede pública.
CONFIRA A EVOLUÇÃO DA MIGRAÇÃO PARA A REDE PÚBLICA
Segundo o secretário estadual de Educação, Antonio José Vieira
de Paiva Neto, a migração de alunos da rede privada para o estado nos últimos
anos tem crescido em torno de dois pontos percentuais ao ano.
Segundo ele, além da crise, a melhoria da qualidade do ensino no
estado, comprovada pelas avaliações do Instituto Nacional de Estudos e
Pesquisas (Inep), tem sido um dos motivos para a mudança do perfil, que estaria
impactando de forma positiva a rede pública:
— Pais de alunos de escolas privadas costumam cobrar mais das
escolas, têm uma participação maior na vida escolar dos filhos, e isso é muito
positivo, porque pressiona a escola a melhorar.
É um desafio para a Secretaria de Educação. Também é positiva
para esses alunos, que passam a conviver com a diversidade e isso é muito bom
para o desenvolvimento desses jovens — afirmou o secretário.
SECRETÁRIO DIZ QUE NÃO FALTARÃO VAGAS
Paiva Neto garante que, apesar do aumento da demanda, não há
risco de faltarem vagas na rede estadual de ensino:
— Temos 327 mil vagas, para 220 mil matrículas. Não faltam
vagas, o que pode acontecer é uma pressão maior por determinadas escolas, como
está ocorrendo hoje com a Escola José Leite Lopes, na Tijuca, onde já estão
inscritos três mil alunos para 160 vagas — explicou.
A primeira fase de matrícula vai até o fim do mês. Não existe
concurso. Na seleção, costumam ter preferência os alunos da rede pública.
— Mas não faltará vaga também para os alunos da rede privada.
Cada aluno escolhe três opções (de escolas) e vai sendo colocado de acordo com
a oferta.
Ele também descartou que haja queda na qualidade de ensino em
razão da falta de professores:
— É claro que impacta o orçamento. Estamos esperando que haja
este ano um aumento de dez mil alunos. Por isso, a matrícula é feita com tanta
antecedência. Para que se possa fazer um orçamento já com esses dados. Mas não
haverá problemas.
Segundo ele, o déficit de professores hoje está em torno de 600
profissionais, que vem sendo administrado através de contratações pontuais e de
horas extras.
Para o presidente do Sindicato das Escolas Particulares do
Estado do Rio de Janeiro (Sinepe), Edgar Flexa Ribeiro, a principal razão para
a evasão de alunos da rede privada é a crise:
— Não é uma crise da escola privada. Mas uma crise econômica e
um sinal de empobrecimento da classe média. E isso repercute em toda a
economia. A gente percebe inclusive o aumento da inadimplência nas escolas
privadas.
Para a coordenadora do Sindicato dos Profissionais de Ensino do
Rio (Sepe), Susana Gutierrez, a situação é preocupante porque, além da falta de
professores, o aumento da procura de alunos da rede privada pode afetar a
qualidade do ensino:
— Pode haver inchaço nas salas de aula, e o aumento da turma
impacta o aprendizado. Ainda mais em escolas que já estão sofrendo com a falta
de professores. Existe um déficit de professores e também de agentes de
educação, os antigos inspetores — afirmou a sindicalista.
Quem sempre pagou por escola particular e agora precisa colocar
os filhos na rede pública conta que, num primeiro momento, ainda fica em
dúvida.
É o caso de Aline Porto Machado, de 32 anos, mãe de três filhos
que, até o ano passado, estudavam no Colégio Batista de Laranjal, uma unidade
particular em São Gonçalo. Hoje frequentam a Escola municipal André Dias, na
mesma cidade.
— Quando meu filho passou para o 6º ano, os amigos dele mudaram
de escola, e ele me pediu para ir com eles. Eu tinha uma visão diferente de
colégio público, até porque minha preocupação era o envolvimento dele com más
companhias e crianças muito mais velhas.
Mas depois descobri que a escola não mistura o convívio das
crianças com as turmas mais elevadas. E a direção pega no pé dos mais
bagunceiros.
MÃE TEVE DIFICULDADE PARA OBTER VAGA
Ao fazer uma comparação com o colégio particular anterior, Aline
afirma que hoje o filho participa de mais atividades extracurriculares:
— Eles estudam em horário integral, fazem esportes, aula de
dança e teatro. Futuramente a gente pensa em colocá-los novamente nas escolas
pagas, até porque estudei nelas em toda a minha vida e me passam mais
confiança.
A secretária municipal de Educação do Rio, Helena Bomeny,
ressalta que não só a crise tem provocado essa migração. Para ela, o aumento da
demanda tem estimulado o município a melhorar o serviço oferecido:
— Temos novos modelos de escolas que são mais atraentes aos
adolescentes. Quando eles chegam ao 9º ano, não querem sair dali porque não
sabem para onde vão. Eles ficam com essa sensação de pertencimento. São escolas
de ensino acadêmico de qualidade, com outras atividades — diz a secretária.
Instituições que são referência para pais e alunos são
disputadas na hora da matrícula. A Escola Minas Gerais, na Urca, é uma das mais
concorridas:
— De início, nos avisaram que não tinha vaga para a Maria Júlia,
até que a diretora me ligou e avisou que o pai de uma aluna tinha desistido.
Fui correndo para lá e consegui a vaga. Inclusive este ano tentarei colocar lá
a minha outra filha, que está em escola particular — conta o motorista Jorge
Luiz de Barros, de 34 anos.
De acordo com a Secretaria municipal de Educação, a matrícula é
realizada de forma eletrônica e são selecionadas cinco escolas, sendo que o
aluno será contemplado em pelo menos uma delas.
POR ELENILCE BOTTARI / DARLAN DE AZEVEDO. Foto: - Alexandre
Cassiano / Agência O Globo.
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sobre esse assunto em http://oglobo.globo.com/rio/crise-economica-leva-alunos-da-rede-privada-migrar-para-escolas-publicas-17989686#ixzz3r1WW9SQT

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