Novo estudo alerta sobre os benefícios da pressão arterial mais
baixa.
Um estudo federal realizado nos Estados Unidos teve seus
detalhes divulgados nesta semana, e os resultados desafiam décadas de reflexões
sobre a pressão arterial e dão uma resposta mais clara aos prós e contras de um
tratamento mais agressivo.
O novo estudo “faz sentido e é um avanço enorme,” e pode causar
uma mudança nas recomendações atuais para reduzir a pressão arterial. (Foto:
Getty Images)
A pesquisa foi finalizada em setembro, quase dois anos antes do
planejado, quando ficou claro que a pressão arterial mais baixa ajuda a
prevenir doenças cardiovasculares e mortes em pessoas com mais de 50 anos, mas
os efeitos colaterais e outras informações importantes não foram divulgados.
Os resultados surgiram na segunda-feira em uma conferência da
American Heart Association em Orlando, Estados Unidos, e foram publicados
online pelo New England Journal of Medicine, além de ter recebido uma dezena de
comentários em outras publicações científicas.
“Nós identificamos que os benefícios superam, em muito, os
riscos” de ter uma pressão mais baixa, diz um dos líderes do estudo, o Dr. Paul
Whelton da Tulane University, em New Orleans, Estados Unidos.
Um em cada três norte-americanos adultos é hipertenso, com uma
medição igual ou superior a 14 por 9. O normal é abaixo de 12 por 8. Dados
detalhados mostraram na conferência que há benefícios adicionais em reduzir de
forma mais intensa a pressão arterial sistólica — o número maior da medição —
para 12 ou menos, apesar do alvo médico ser, na maioria das vezes, igual ou
menor a 14 por 9.
“Nós achávamos que 140 era bom o bastante,” o coautor do estudo
George Thomas, diretor do Cleveland Clinic’s Center for Hypertension and Blood
Pressure Disorders, nos Estados Unidos, contou ao Yahoo Health.
Ele disse que os resultados são surpreendentes, visto que são
tão diferentes das recomendações atuais.
“Nosso alvo era 14,” ele diz. “Nós não tínhamos nenhuma
evidência que sugerisse algo diferente disso.” Thomas ressalta que 12 é
considerada uma pressão arterial sistólica “normal” para a maioria das pessoas,
mas o objetivo sempre foi fazer com que todos chegassem ao patamar de 14 ou
menos.
As descobertas são tão significativas porque a hipertensão é um
dos principais fatores de risco para o desenvolvimento de diversas condições de
saúde, incluindo doenças cardiovasculares, derrame e insuficiência renal.
Nicole Weinberg, cardiologista no Providence Saint John’s Health
Center em Santa Monica, Estados Unidos, disse ao Yahoo Health que as novas
descobertas são “maravilhosas”, pois muitos médicos haviam notado resultados
melhores nos músculos do coração e no funcionamento das artérias quando
pacientes hipertensos conseguiram chegar a um patamar mais próximo dos 12.
“Mas quando as recomendações oficiais dizem 14, você sempre
precisa travar uma batalha difícil com os pacientes,” ela diz.
O ESTUDO
O estudo contou com mais de 9.300 participantes. Metade deles
recebeu em média dois medicamentos para fazer com que o número mais alto da
pressão arterial ficasse abaixo dos 14. O restante recebeu três medicamentos,
com o objetivo de chegar a menos de 12.
Uma complicação é o fato de que os participantes escolhidos
tinham uma pressão arterial sistólica de 13 ou mais, o que pode dificultar a noção
de quem precisa de tratamento.
OS RESULTADOS
Depois de um ano, 1,65% do grupo com pressão arterial menor
havia tido um problema cardíaco grave, ou tido uma morte relacionada à saúde do
coração, comparados com 2,2% do outro grupo, um risco 25% menor.
Cerca de 3,3% do grupo com a pressão mais baixa faleceu, contra
4,5% dos outros, um risco 27% menor.
EFEITOS COLATERAIS
Casos de pressão arterial exageradamente baixa, desmaios e
problemas nos rins foram entre 1% e 2% maiores no grupo de pressão menor. No
entanto, quedas que causam lesões devido à tontura não foram mais comuns, algo
que era temido principalmente em pessoas mais velhas.
A consideração final é que os benefícios compensam estes riscos,
considerando uma chance menor de desenvolver doenças cardiovasculares ou morrer
devido a algo relacionado ao coração.
ISSO SE APLICA A MIM?
O estudo envolveu pessoas com mais de 50 anos cuja pressão
estava acima de 13. Pessoas com diabetes foram excluídas, então os resultados
não se aplicam a elas.
Eles também podem não se aplicar a pessoas com casos prévios de
derrame, pessoas muito idosas, aquelas com doenças renais graves ou pessoas que
já estão tomando vários medicamentos diferentes, diz o Dr. James Stein, chefe
do programa de pressão alta da University of Wisconsin, nos Estados Unidos.
Pessoas que começam com uma pressão arterial sistólica mais
alta, com um número entre 17 e 20, por exemplo, podem não conseguir reduzi-la a
patamares muito baixos de forma repentina, o Dr. Murray Esler do Baker IDI
Heart and Diabetes Institute em Melbourne, Austrália, comentou na revista
Hypertension.
AS RECOMENDAÇÕES PODEM MUDAR
O novo estudo “faz sentido e é um avanço enorme,” Stein disse.
“É hora de consertar as recomendações,” que hoje sugerem um número maior entre
13 e 15, dependendo da idade e de outros fatores, como a presença ou não de
diabetes.
O PONTO PRINCIPAL
Apenas metade das pessoas que sabem ter hipertensão mantem a
pressão arterial sob controle, no momento. Do ponto de vista da saúde, melhorar
esta situação pode ser mais importante do que definir um número como alvo.
“Se nós reduzirmos a meta … você verá mais e mais pessoas
chegando a uma pressão mais baixa,” diz o Dr. Daniel Jones, da University of
Mississippi, nos Estados Unidos, um porta-voz da associação do coração.
- Com a colaboração de The AP e Korin Miller
Redatores do
Yahoo Health
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