Entenda a crise econômica brasileira.
Do fim dos anos 90 até o início de 2012 houve um aumento
significativo no preço das commodities no mercado internacional, impulsionado
pela crescente demanda chinesa. Foi um momento muito positivo para a economia brasileira,
historicamente dependente da exportação de matérias-primas e produtos
agrícolas.
O APOGEU DA ECONOMIA
Em 2011, as exportações brasileiras alcançaram o recorde de US$
256 bilhões, 14% do Produto Interno Bruto (PIB). A China já era o maior parceiro
comercial do Brasil. As exportações para o país asiático cresceram quatro vezes
mais que as exportações totais entre 2000 e 2010, com destaque para soja, café,
minério de ferro e petróleo.
O Brasil surfava na onda dos altos preços das commodities e o consequente
crescimento gerou euforia. “A popularidade do governo Lula estava associada a
esse momento de sorte”, afirma Carlos Primo Braga, ex-diretor do Banco Mundial
e professor adjunto da Fundação Dom Cabral.
O BOOM DAS COMMODITIES
Ajudado pelo boom das commodities, Lula encorajou as exportações
e estimulou a liberação de crédito pelos bancos públicos para financiar o
desenvolvimento, criando milhões de empregos. As relações diplomáticas com
outros países em desenvolvimento foram reforçadas e o Brasil ganhou relevância
no cenário internacional.
O modelo econômico adotado na época favoreceu a distribuição de
renda e a expansão do consumo. Programas sociais foram expandidos e o salário
mínimo aumentou 72,31%, de 2003 a 2014.
Consultor norte-americano Robert Abad diz que o Brasil foi um
dos últimos a sentir os efeitos da crise econômica de 2008.
Mais de 40 milhões de brasileiros deixaram a pobreza e se
tornaram a “nova classe média”. Eles passaram a ter condições de comprar
produtos antes considerados “coisa de rico”, como carros, televisores de tela
plana e refrigeradores.
“Quando a crise atingiu os Estados Unidos, em 2008, os mercados
emergentes, em especial o Brasil, estavam rindo da nossa cara”, diz o consultor
norte-americano, Robert Abad. O país foi um dos últimos a sentir os efeitos da
crise. Mas a fraca demanda internacional no pós-crise levou à desaceleração do
crescimento brasileiro.
Para manter a economia aquecida, o governo decidiu apostar em
medidas anticíclicas e estimular o consumo. A taxa básica de juros foi reduzida
em 2009 e 2010, impostos foram cortados e o gasto público expandido por meio de
ambiciosos programas de investimento em infraestrutura.
Quando Lula deixou a Presidência, em 2010, o país registrou uma
taxa de crescimento do PIB de 7,5%, a maior expansão desde 1986. Mas o estímulo
ao consumo e a forte demanda por produtos não foram acompanhados pelo
crescimento na produtividade. A indústria brasileira foi a primeira a dar
sinais de que a coisa não ia bem.
A forte entrada de dólares durante o superciclo das commodities
fez com que o real se valorizasse de forma artificial, minando a
competitividade da indústria manufatureira. Em julho de 2011, a moeda
brasileira atingiu o maior valor em relação ao dólar desde 1999, o equivalente
a cerca de US$ 0,65.
OS IMPORTADOS
“Houve uma invasão de produtos importados da China e a indústria
nacional não acompanhou, não conseguiu competir. Em 2006 a balança comercial de
produtos manufaturados no Brasil teve superávit de US$ 5 bilhões. Apenas cinco
anos depois, em 2011, nós passamos a um déficit de mais de US$ 92 bilhões”, diz
José Augusto Fernandes, diretor de Políticas e Estratégia da Confederação
Nacional da Indústria (CNI).
O INÍCIO DA CRISE: DILMA.
Os preços subiram e para manter a inflação sob controle o novo
governo, sob o comando da sucessora de Lula, Dilma Rousseff, lançou uma
política fiscal mais austera, elevando a taxa de juros para mais de 12% em
2011.
Mas com a piora do contexto internacional devido à desaceleração
da economia chinesa, no fim do mesmo ano, a equipe do governo voltou atrás e
decidiu retomar as políticas anticíclicas, reduzindo novamente a taxa básica de
juros, cortando impostos e ampliando o gasto público.
Na avaliação de Luiz Fernando Furlan, ministro de
Desenvolvimento, Indústria e Comércio no governo Lula, houve um exagero nos
gastos e subsídios, gerando um aumento da dívida pública e o endividamento das
famílias.
O EXAGERO
NOS GASTOS E SUBSÍDIOS
“Houve um exagero nos gastos e subsídios, gerando um aumento da
dívida pública e o endividamento das famílias”, afirma Luiz Fernando Furlan,
ministro de Desenvolvimento, Indústria e Comércio no governo Lula.
O
CRESCIMENTO DA DÍVIDA PÚBLICA
No fim do primeiro governo de Dilma, em 2014, a dívida tinha
crescido de 51,3% para 57,2% do PIB. Em 2015, saltou para 66,2%. O percentual é
bem menor do que o do Japão (229%) ou o da Grécia (179%), por exemplo. A
diferença é que, enquanto em vários países desenvolvidos as taxas de juros são
nulas ou negativas, no Brasil a taxa de juros está acima de 14%, o que encarece
muito o pagamento da dívida e amplia o risco de calote.
A situação das contas públicas se deteriorava e o cenário
externo também piorou. A desaceleração da economia chinesa levou a uma queda
brusca no preço das commodities. O minério de ferro despencou de US$ 187,18 a
tonelada, em fevereiro de 2011 para US$ 37 em dezembro de 2015.
A QUEDA NO PREÇO DO PETRÓLEO
O petróleo perdeu mais de 60% de seu valor e encerrou 2015
abaixo de US$ 40 o barril, o menor nível desde 2003, refletindo também o
excesso na oferta do produto.
“Produtividade
não é tudo, mas no longo prazo é quase tudo”, diz Braga.
O BRASIL ESQUECEU A PRODUTIVIDADE
Para ele, o grande erro cometido pelos líderes políticos brasileiros
na última década foi focar demais no consumo e se esquecer da produtividade.
“No Brasil, nos primeiros dez anos deste século, o salário real aumentou mais
que a produtividade. Isso pode ser bom do ponto de vista da distribuição de
renda, mas não é sustentável no longo prazo. Vários problemas foram se
acumulando e resultaram na crise que estamos vivendo”, afirma.
A luta contra a corrupção
Pouco depois da reeleição de Dilma Rousseff, em 2014, foram
revelados os primeiros resultados da Operação Lava Jato, realizada pela Polícia
Federal, a maior investigação de corrupção e lavagem de dinheiro já realizada
no Brasil. A operação expôs uma rede criminosa formada por políticos,
servidores públicos, empresários e doleiros que desviou bilhões de reais dos cofres
da Petrobras.
O IMPACTO DO LAVA JATO
Nesse esquema, que funcionou por mais de 15 anos, grandes
empreiteiras pagavam propina para altos executivos da estatal e outros agentes
públicos em troca de contratos bilionários superfaturados.
“Ninguém podia prever que esse escândalo acabaria se tornando um
fator de risco político que contribuiu de forma significativa para a
paralisação da economia”, observa o consultor de mercados emergentes, Robert
Abad.
Embora as investigações contribuam para ampliar o cenário de
incerteza política no país, a maioria dos analistas concorda que a Operação
Lava Jato pode ser o princípio de uma mudança profunda na sociedade brasileira.
“As pessoas não acreditam que isso está acontecendo, que os poderosos estão indo
para a prisão.
Se o Poder Judiciário e a Polícia Federal conseguirem manter a
credibilidade ao longo desse processo sairão dessa investigação ainda mais
fortes e a democracia será fortalecida”, afirma Abad.
Geert Aalbers, diretor sênior da consultoria global de riscos
Control Risks, diz que com as investigações as pessoas estão mais conscientes
do problema da corrupção no país. “Ainda é cedo para prever o que vai acontecer
no setor público, mas certamente a Operação Lava Jato vai promover um grau maior
de transparência no setor privado, promovendo uma melhoria no ambiente de
negócios”, diz.
Giselle
Garcia – Correspondente da Agência Brasil
Edição:
Lílian Beraldo.
Nenhum comentário:
Postar um comentário