Brasileiro busca magreza mais que felicidade, diz pesquisa. Será?
        As buscas por magreza são maiores até mesmo que as relacionadas a ficar rico ou ganhar na mega sena.
       Uma consultoria de marketing digital analisou buscas feitas pelos brasileiros ao longo de 2018.
Constatou que, em média, 112 mil delas eram sobre emagrecimento, enquanto apenas 23 mil estavam relacionadas a felicidade – ainda que, para muita gente, as duas coisas sejam sinônimos.
Ok, talvez seja um salto muito grande concluir algo assim, a partir de dados do tipo. Nem todo mundo recorreria ao Google atrás de “ser feliz”, ao passo que facilmente o faria ao se interessar por medidas práticas para perder peso, por exemplo.
Considero mais chocante, na verdade, que as buscas relacionadas a riqueza tenham ficado tão atrás em relação à magreza: foram quase 2700 pesquisas envolvendo “ganhar na mega sena”, 2500 ligadas a guardar dinheiro e 2400 a ficar rico.
Ou seja, as pessoas não se incomodariam de não ter onde cair mortas, literalmente. DESDE QUE estivessem magras, o que para mim é mais um apavorante indicador desses tempos em que vivemos de aparências. Mais importante do que ter (ou ser) é parecer.
Vivemos uma era em que as redes sociais ao mesmo tempo que nos alegram, nos jogam no abismo.
A alegria de compartilhar uma imagem dos próprios pés com uma praia ao fundo, rapidamente dá lugar à insatisfação de não ter a vida glamourosa da Bruna Marquezine.
A mesa farta da véspera de Natal é trocada por memes gordofóbicos no dia seguinte, sem a gente se dar conta que está brincando com coisa séria.
Pós-doutora em nutrição, a carioca Camilla Estima critica não só o conteúdo das redes, mas o papel da mídia tradicional.
Defende que o peso dos outros não é assunto de reportagem e que recebe em seu consultório incontáveis pacientes com distúrbios de imagem e de alimentação provocados por consumir conteúdos do tipo.
“Jornalismo deveria estar aliado a saúde pública de verdade, não a fulaninha emagreceu ou engordou”, diz ela.
Talvez seja uma das razões pelas quais 58% das mulheres de até 25 anos e 54% das com até 30 anos sintam vergonha de ir à praia, como apontou um estudo de 2016, feito por uma empresa de — ora, bolas! — emagrecimento.
Expressões como “corpo de praia” salpicadas em reportagens de todos os segmentos ajudam a aumentar essa sensação.
É delicado advogar que determinado assunto seja vetado. Abre precedente para formas de censura que podem, em última instância, ser mais perigosas para a sociedade que o efeito nocivo do emagrecimento “miraculoso” de uma celebridade.
Não custa, porém, termos um pouco de autocrítica enquanto jornalistas. Vivemos em busca de grandes sucessos de audiência, e é fácil perder de vista que nem sempre aquele campeão de acessos é legal para o leitor – às vezes, nem para o próprio veículo.
  Guerra com a balança: mais de metade das brasileiras tem vergonha do próprio corpo.
Por outro lado, o próprio público precisa começar a recusar conteúdos que considera prejudicial, mas como indica a pesquisa que motivou esse texto, é extremamente improvável que isso aconteça. Apostar em educação midiática talvez seja um bom caminho.
As reflexões sobre saúde, ansiedade e internet prometem ser um dos grandes temas da próxima década, aliás. Que bom!
Deixo a seguir o ranking das buscas feito pela SEMRush, além do meu desejo de um bom Réveillon a todos.
Que em 2019 ninguém perca a chance de aproveitar coisas boas da vida por ter vergonha do próprio corpo!
Emagrecer – 111.833 buscas
Viajar – 36.183 buscas
Ser feliz – 22.675 buscas
Parar de fumar – 13.266 buscas
Ganhar na mega sena – 2.650 buscas
Guardar dinheiro – 2.441 buscas
Ficar rico – 2.358 buscas.
Alvaro Leme.
Revista FORBES.


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