Como ajudar seu cérebro a trabalhar bem melhor?
Neurocientista responde.
“Depois do açúcar refinado…”.  A viralização de um pequeno texto da neurocientista Carla Tieppo que começava com essa frase e trazia como assunto principal os riscos de estimular o cérebro excessivamente atestou para a autora que, de fato, estamos diante de um problemão.
Com tanto estímulo externo efêmero, o que nos resta internamente depois é o tédio. “Não dá para comparar uma vitória no trabalho com uma montanha-russa”, diz ela que é professora e pesquisadora da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo.
E como alcançar os mesmos níveis de serotonina que se experimenta ao devorar uma barra de chocolate? Para uma das principais neurocientistas do Brasil, a falta de motivação que muita gente enfrenta quase que diariamente para trabalhar é fruto de um mundo recheado de prazeres artificiais que preenchem o vazio deixado pela incompetência de gerenciamento da nossa capacidade produtiva.
Administrar a própria produtividade e dos outros passa obrigatoriamente pelo entendimento do que são e como funcionam as emoções.
Uma de suas missões como neurocientista, diz Carla, é fazer as pessoas entenderem que as emoções dão poderosos recursos de ação aos seres humanos, inclusive o de trabalhar mais e melhor.
Emoção é poder, diz ela. Por isso, nunca nem tente deixá-la longe do seu ambiente profissional. Confira os principais trechos da conversa:
Como a Neurociência pode nos ajudar a trabalhar ou a estudar mais em menos tempo?
Carla Tieppo:
Hoje a gente tem problemas que estão diretamente associados com excesso de informações. A dica mais eficiente é que a pessoa use seus filtros, coloque seus filtros para funcionar: o que é importante, e o que eu estou fazendo que é perda de tempo.
Ficar navegando na rede social sem objetividade que a pessoa consiga dividir bem o que é esse período de lazer e de descanso, aonde ela pode fazer o que ela bem entender e o período que ela está dedicando à produtividade e o período de descanso.
Existe algum jeito de driblar o cansaço do cérebro?
Carla Tieppo: o grande problema é que as pessoas confundem cansaço com desmotivação e são duas coisas diferentes.
Quem não consegue fazer alguma coisa porque está cansado tem que avaliar um pouco o que está chamando de cansado, você pode estar simplesmente desmotivado, pode não estar vendo valor naquela tarefa e então qualquer meia hora que você se dedica àquilo te esgota de energia porque na verdade está te esgotando do ponto de vista emocional
As pessoas estão mais desmotivadas do que cansadas?
Carla Tieppo: o que estamos enfrentando de mais grave hoje é o estresse, é a desmotivação e a falta de engajamento que estão associados justamente à quantidade que nós temos de prazeres na vida.
Eu escrevi um pequeno texto que viralizou e até fiquei espantada da quantidade de compartilhamento que fala sobre isso e começa assim depois do açúcar refinado. E você vê o quanto que as pessoas realmente percebem que o fato de elas terem acesso a muitas formas de prazer está fazendo com que o prazer cotidiano do trabalho fique completamente apagado.
Não dá para comparar uma vitória no trabalho com uma montanha russa.
Por que fazer essa comparação?
Carla Tieppo: a gente faz essa comparação no sentido de quanto mais estímulos cerebrais a gente tem. A balada incrível, as drogas a que se tem acesso nas baladas fazem com tenha uma ativação cerebral muito exacerbada.
Como ocorre com o excesso de álcool. O cérebro fica muito ativado e fica muito difícil transferir isso para o cotidiano.
Vai ser difícil encontrar aquela mesma energia no seu trabalho ou nas suas relações pessoais, isso vai gerando uma espécie de tédio. O número de compartilhamentos que essa publicação teve praticamente atestou que isso é verdade
Um jeito saudável de estimular o cérebro é com atividades físicas…
Carla Tieppo: é estimular o cérebro de forma não artificial. Fazer atividade física é uma maneira de estimular seu sistema de prazer que envolve dopamina, serotonina e endorfina, sem trazer nada de artificial.
Uma pessoa tem a metade 10 km, quando chega em 7 km ela já está exaurido, mas vai consegue cumprir o objetivo, sai vitoriosa. Isso dá uma sensação muito grande de prazer
Mas muitas pessoas estão então fazendo isso de forma artificial… com medicamentos, drogas….
Carla Tieppo: com açúcar. O problema é maior do que parece porque não são só as pessoas que estão consumindo substâncias ilícitas, numa moda. Está todo mundo nessa moda porque hoje você tem a quantidade de alimentos calóricos disponíveis a preço de banana.
Elas estão obtendo de fora delas essa sensação de prazer e absolutamente transitória, muito frágil. Passa 10 minutos ela precisa de outra, e mais 10 depois precisa de outra, então ela está entrando no ciclo muito rápido num ciclo vicioso que é muito diferente de um ciclo virtuoso de atividade física, ou de envolvimento com seu trabalho.
Como a sensação de empoderamento é transferida para o trabalho?
Carla Tieppo: é por que eu me acostumo a encarar desafios e sair do lado de lá vitorioso. Quando você está num ritmo de fazer atividade física, de se cuidar de você, sua rotina, da sua disciplina, vai ficando poderoso, vai sentindo que você pode e que está em você o poder e isso aumenta muito a capacidade produtiva do indivíduo.
A capacidade produtiva do indivíduo não está fora de nós. Não adianta pintar a parede de tal cor, a produtividade não está nisso, isso é subterfúgio. A força de ser produtivo está dentro de nós. E aí tem a segunda etapa disso que é celebrar.
Por que celebrar cada meta é importante?     
Carla Tieppo: não tem como você se empoderar porque você não vive todo o ciclo emocional da sua produtividade. Se logo já se engaja em outra coisa não vive toda a dimensão hormonal, de neurotransmissores, associada àquilo.
Você precisa viver todo o ciclo, viver a serotonina, viver o ciclo emocional para você se sentir poderoso, e falar eu consigo fazer. Em algum momento você precisa parar. E falar assim: olha consigo, fiz, comemora. Esse eu acho que é o pior problema que a gente vive hoje. Mais do que o excesso de informação, mais do que o excesso de trabalho, é a falta de gerenciamento da capacidade produtiva.
Como os líderes devem fazer isso na prática?
Carla Tieppo: reunir a equipe e falar olha vamos rever todas as etapas que nós tivemos que percorrer para chegar aonde a gente chegou. Um bom líder faz isso, terminou a tarefa e junta a equipe e fala: “vamos ver a participação de cada um.
O que a gente conseguiu, onde a gente errou, onde a gente acertou, onde pode ser melhor, aonde foi o máximo”.
É preciso ter um tempo em que você comemora, celebra. Mesmo que tenha que fazer sozinho com você mesmo, precisa fazer.
Que dica a neurociência pode dar aos líderes?
Carla Tieppo: o líder precisa ter hoje uma formação muito robusta em pessoas e essa formação envolve conhecer a emocionalidade dessas pessoas.
Ele precisa usar as emoções das pessoas a seu favor e não achar que as pessoas devem deixar as emoções em casa que é o que se pregou até agora. A gente não vai conseguir fazer isso, ninguém deixa a emoção em casa, o que acaba acontecendo é que as pessoas deixam a emoção em segundo plano, e deixa de ter o poder que ela tem de poder transformar o comportamento das pessoas.
Nós nos comportamos a maior parte do tempo mobilizados pelas nossas emoções.
É por meio da emoção que a gente consegue fazer o cérebro trabalhar melhor?
Carla Tieppo: exatamente. Se você for estudar profundamente o que é emoção na dinâmica de funcionamento cerebral ela é uma das informações mais valiosas porque é a emoção quem diz para o cérebro quais tarefas precisam ser executadas, ela que prioriza ela que qualifica.
A gente diz que as emoções são valência. Ela dá a valência da coisa. Isso é positivo ou isso é negativo e o quão positivo é ou o quão negativo é E isso está diretamente ligado à tomada de decisão.
Camila Pati. Foto:© Compassionate Eye Foundation/Paul Bradbury/OJO Images Ltd.
Portal MSN.



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